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Divertido e desigual, 'Na Rédea Curta' lembra 'Minha Mãe É uma Peça'

Filme dos diretores de 'Café com Canela' presta homenagem às mães e exala orgulho baiano sem sabor industrial

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Na Rédea Curta

  • Quando Estreia nesta quinta (1º)
  • Onde Nos cinemas
  • Classificação 12 anos
  • Elenco Sulivã Bispo, Thiago Almasy e Luciana Souza
  • Direção Ary Rosa e Glenda Nicácio

Em um país onde fazer cinema é tão complicado como o Brasil, os cineastas Ary Rosa e Glenda Nicácio têm conseguido resultados invejáveis. Depois que estrearam em longas com o ótimo "Café com Canela", em 2017, vêm praticamente lançando um filme por ano, e quase sempre com respostas positivas da crítica.

O quinto longa assinado pela dupla —que já tem outro filme pronto, "Mugunzá", que ainda não chegou ao circuito comercial— marca sua primeira incursão em um cinema mais abertamente popular. "Na Rédea Curta" tem por base a websérie humorística baiana de mesmo nome, em que o ator Sulivã Bispo dá vida à desbocada personagem Mainha, mãe baianíssima que está sempre às turras com o filho crianção e indolente, Junior, interpretado por Thiago Almasy.

Cena de 'Na Rédea Curta'
Cena de 'Na Rédea Curta', de Ary Rosa e Glenda Nicácio - Divulgação

Bispo e Almasy têm um canal no Youtube que ultrapassa os 400 mil seguidores, apresentando suas personagens em vídeos simples, curtos e despojados. Em geral, mostram as confusões em que Mainha se mete em sua vizinhança em Salvador por conta de Junior, que ela criou sozinha – mas apesar de mãe e filho se desentenderem o tempo todo, fica claro um enorme afeto na relação entre eles.

A versão para o cinema começa quando Junior descobre que engravidou a namorada, para desespero de Mainha, que sabe o quanto o filho é despreparado para cuidar de um bebê. Essa nova etapa na vida do rapaz envolvendo a paternidade o faz querer solucionar um mistério que ele nunca conseguiu desvendar: quem é seu verdadeiro pai? O que o faz deixar Salvador e ir ao Recôncavo Baiano atrás do genitor. Mainha, é claro, vai junto, em uma jornada repleta de quiproquós, bate-bocas e encontros inusitados.

É inevitável a comparação —a personagem Mainha tem um parentesco conceitual com dona Hermínia, protagonista dos filmes "Minha Mãe É uma Peça". Ambas são grandes homenagens às mães, interpretadas por homens, que criam humor a partir da caricatura da progenitora enquanto mulher falastrona e briguenta, mas que tem bom coração e é capaz de tudo para defender a prole.

E o longa inclusive cita Paulo Gustavo diretamente —no finalzinho, os diretores incluem um letreiro que traz a famosa frase dita pelo ator niteroiense pouco antes de morrer: "Rir é um ato de resistência". Isso surge tanto como uma homenagem a Gustavo quanto um reconhecimento da influência dele sobre a obra de Bispo e Almasy.

Mas "Na Rédea Curta" é algo mais do que Paulo Gustavo requentado ao dendê. O filme tem uma especificidade, que se revela, para começar, em seu ar mais mambembe, sem aquela marca estética desinfetada típica dos produtos Globo Filmes. Mas se há uma certa precariedade no projeto, a criação de Bispo e Almasy pelas mãos de Rosa e Nicácio tem igualmente um sabor menos industrial, mais caseiro.

A falta de grandes pretensões também acrescenta uma dose extra de simpatia ao longa, ainda que suas limitações —as do roteiro, sobretudo— sejam bastante evidentes. Mesmo que sejam altamente criativos, Rosa e Nicácio demonstram dificuldade para encontrar uma forma homogênea ao filme, que é bem desigual. Às vezes, não se decide se está à procura de um espectador popular ou de um público meramente infantil.

No todo é um filme leve, divertido, mas é preciso verdadeiramente gostar de um certo tipo de humor não muito cerebral e voltado "para toda a família" para de fato embarcar no projeto —ou mesmo para rir de grande parte das situações.

O filme é mais interessante pela forma como exala orgulho baiano por cada quadro —não um de "superioridade" em relação a outros lugares, mas de um enorme querer bem pelas coisas e, sobretudo, pela gente da Bahia e pela maneira peculiar de se relacionar entre si, alternando gritarias, momentos de descontração e instantes de solidariedade. (A crítica afeita a rótulos gosta de descrevê-lo como "cinema de afetos", mas existe algum cinema não fala sobre os afetos humanos?)

Embora parte do longa se passe em Salvador, é na cidade de Cachoeira, no Recôncavo, que o real desenrolar da trama acontece. E mais uma vez os mineiros Rosa e Nicácio fazem uma declaração de amor à região que contorna a Baía de Todos-os-Santos, que escolheram como lar e matéria-prima de sua obra.

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