Hermeto Pascoal faz música com brinquedo e tamanco de madeira no Primavera Sound

Auditório que era um diferencial também recebeu revelações brasileiras do jazz, como Jonathan Ferr e Amaro Freitas

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

O músico Hermeto Pascoal praticamente lotou o auditório Elis Regina, no Distrito Anhembi, em São Paulo, onde acontece a primeira edição brasileira do festival Primavera Sound. Ele se apresentou neste domingo (6), último dia do evento.

Com uma sonoridade nada convencional, o músico alagoano de 86 anos reuniu uma plateia que ocupou quase todos os 2.700 lugares do auditório. Isso aconteceu apesar da concorrência de horário com algumas das atrações mais badaladas do Primavera –Phoebe Bridgers e Jessie Ware, nos palcos principais.

Retrato do músico e instrumentista Hermeto Pascoal - Ricardo Borges/Folhapress

Expoente da música experimental brasileira, Hermeto fez um show baseado nas improvisações nas quais é mestre. Sentado no canto do palco como um mago, ele regeu sua banda que incluía sopro, piano, bateria, baixo e uma rica percussão, com pandeiros e agogôs.

O Bruxo, como ele é conhecido, assumiu o teclado em diversos momentos, com uma capacidade de entortar a música e levá-las sempre a caminhos improváveis. A plateia, que ocupou até o segundo andar do auditório, celebrou o artista aos gritos em diversos momentos.

Nascido em Olho d'Água Grande, no interior de Alagoas, Hermeto tem fama de fazer música a partir de objetos não convencionais –como louça, a natureza ou seu próprio corpo. No palco do Primavera, seus instrumentistas "tocaram" um tamanco de madeira e um brinquedo de plástico.

Sua intimidade com a música é tamanha que alguém de sua equipe anunciou que ele compôs duas faixas para o festival. As partituras dessas canções foram sorteadas entre fãs.

O som de Hermeto parte da premissa de liberdade do jazz, mas é calcado na música brasileira, do samba ao baião. Em certa altura, não havia mais cadeiras disponíveis no auditório, e o público estava capturado pelas levadas sinuosas e sincopadas e a progressão melódica muitas vezes frenética.

Foi curioso ver um auditório tomado por uma plateia com cervejas nas mãos, enquanto shows para dezenas de milhares de pessoas aconteciam do lado de fora. Além de um espaço de descanso entre as idas de um palco a outro, o lugar recebeu apresentações que completaram as atrações externas —experiências introspectivas no meio da euforia.

O local recebeu shows disputados do cantor Tim Bernardes, vocalista da banda de rock O Terno, em sua carreira solo. Outro a ter bom público foi o sueco José Gonzales, filho de argentinos e que toca um indie folk inspirado na música latina.

No sábado (5), o carioca Jonathan Ferr tocou para algumas centenas de pessoas. Ele fez uma apresentação de jazz com abordagem pop, também inserindo elementos de música brasileira e "cantando", num talk-box, trechos de "Céu Azul", do Charlie Brown Jr. Ferr ainda celebrou "um novo Brasil" e saiu do palco distribuindo flores enquanto sua banda improvisava o arranjo de "Vida Loka pt. 2", dos Racionais MCs.

Outro expoente da nova cena de jazz brasileiro, Amaro Freitas tocou no domingo, antes de Hermeto. O pernambucano reuniu menos gente, com um show que convida mais à imersão, mas também mostrou sua abordagem do piano não só como instrumento melódico, mas também percussivo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.