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Lázaro Ramos diz na Flip que a eleição serviu 'para tirar o caos da nossa mente'

Artista lotou a Casa Folha e falou sobre seu seu primeiro livro infanto-juvenil em encontro marcado por risos e lágrimas

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Paraty (RJ)

Entre aplausos e gritos de "lindo, lindo", o ator, escritor, diretor de teatro e de cinema Lázaro Ramos subiu ao palco da Casa Folha, na Festa Literária Internacional de Paraty, desconversando. "Ah, gente, para com isso!", brincou, para deleite do público, que lotou o espaço, num encontro marcado por risos e lágrimas.

Ramos está lançando seu primeiro livro infanto-juvenil, intitulado "Você Não é Invisível" (Companhia das Letras), em que aborda "as coisas que eu queria ter ouvido na minha juventude".

Lázaro Ramos na Casa Folha, na Flip, em Paraty
Lázaro Ramos na Casa Folha, na Flip, em Paraty - Walter Craveiro/Divulgação

"Eu escutei outras coisas que me salvaram, como a intuição da minha família de me chamar de belo. Ainda assim, algumas coisas faltaram, e eu achava que o meu lugar do mundo era o da invisibilidade", diz ele, que criou uma linguagem híbrida para o enredo de dois irmãos adolescentes ao misturar na narrativa os vídeos que as personagens postam e os áudios que enviam.

"Minha estratégia é o afeto como arma de comunicação, o humor como forma de expressão e a identidade negra como valor positivo", afirma ele, que é embaixador do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) desde 2009. "Quero fazer uma convocação —vamos criar as crianças juntos. A gente precisa proteger as crianças. E a gente conta com vocês, pessoas brancas, para isso."

Para Ramos, o livro tem uma linguagem do afeto estratégico para envolver mais pessoas na temática que orbitam o racismo no Brasil. "Quero nos libertar tematicamente e me libertar como autor porque muitos temas nos atravessam", disse. "A primeira acusação é de que falar disso é 'mimimi'. Só que a gente não quer falar sobre isso. Queremos ser felizes e pagar nossas contas, mas falamos do tema por causa da urgência."

O ator disse estar mais otimista com a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva, do PT, mas que a luta continua. "Gosto quando o Silvio Almeida fala que estamos num momento de construir o Brasil. Essa eleição serviu para tirar o caos da nossa mente e permitir que voltemos a criar um projeto de nação, que não temos há muito tempo."

Ramos disse que, ao mesmo tempo, não se ilude. "É tempo de trabalho. Sim, estão faltando negros na transição. E precisamos diagnosticar esse Brasil, que sempre esteve aí, e a gente se recusou a olhar e a se relacionar com isso para entender o que fazer."

O ator se comoveu ao lembrar da Flip de 2017, quando a professora aposentada Diva Guimarães deu um depoimento contundente sobre o racismo, ao longo de mais de 13 minutos, e foi ovacionada. Nasceu ali, uma relação entre o ator e Diva que perdura até hoje.

"Ela me mandou uma mensagem de 7 minutos que comecei a ouvir e já me emocionei, então deixei para ouvir com calma mais tarde", disse ele, que levou a professora para participar de seu filme "Medida Provisória". "É uma conexão familiar, ancestral. Sou grato aos meus ancestrais por terem colocado ela na minha vida", disse o artista, que estava acompanhado da atriz Taís Araújo e dos dois filhos do casal.

Ramos se emocionou com os depoimentos do público, que relataram vivências de racismo e de violência contra pessoas negras. "Qual é o plano que o Brasil tem para o seu povo? Estamos matando potências. O país precisa reconhecer isso."

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