Descrição de chapéu Livros Flip

Flip 2022: Tudo o que você precisa saber sobre os autores e livros desta edição

Programação traz Nobel de Literatura e homenageia Maria Firmina dos Reis, pioneira da literatura de mulheres

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

pintura de mulheres em preto e branco

Ilustração de Heloisa Hariadne para recente edição de 'Úrsula', clássico de Maria Firmina dos Reis publicado pela Antofágica Divulgação

São Paulo

A Festa Literária Internacional de Paraty enfim volta a sua cidade natal no litoral fluminense de quarta (23) a domingo (27), depois de duas edições feitas em formato virtual.

Também retoma a prática de homenagear na programação uma figura notável da literatura brasileira, dessa vez escolhendo Maria Firmina dos Reis, a primeira mulher a publicar um romance na história do país. Nunca antes uma autora negra havia ocupado o posto de homenageada.

Será possível acompanhar a programação na tenda principal no centro histórico da cidade, desembolsando R$ 120 por mesa —há política de meia entrada e gratuidades para categorias como professores e moradores locais.

Também dá para assistir a tudo gratuitamente na tenda do telão, espaço aberto a alguns metros de distância, ou virtualmente pelo canal Arte1 e pelo site e YouTube da Flip.

A programação deste ano foi montada por um coletivo de curadores: a editora gaúcha Fernanda Bastos e os professores Milena Britto, da Universidade Federal da Bahia, e Pedro Meira Monteiro, da Universidade Princeton.

E representa apenas uma parte da festa, já que há cerca de 50 espaços parceiros com programação própria —entre elas, a Casa Folha, organizada por este jornal— para desbravar na cidade litorânea que se tornou centro pulsante da literatura no Brasil.

Veja a seguir detalhes sobre os autores e livros que compõem a programação principal da Flip.

Quarta-feira, 23

19h - Mesa 1 - Pátrios Lares

A pesquisadora e crítica literária Fernanda Miranda, autora de "Silêncios Prescritos: Estudos de Romances de Autoras Negras Brasileiras", debate com a historiadora Ana Flávia Magalhães Pinto e com a artista e slammer Midria sobre o legado de Maria Firmina dos Reis.

É a mesa na qual deve ser mais amplamente discutido o pioneirismo de "Úrsula", primeiro romance publicado por uma mulher brasileira, com um forte teor abolicionista ao dar voz de forma inédita para personagens escravizados falarem de suas vivências.

QUINTA-feira, 24

10h - Mesa 2 - Minha Liberdade

A antropóloga Lilia Schwarcz, professora sênior da Universidade de São Paulo, e o crítico literário Eduardo de Assis Duarte, da Universidade Federal da Minas Gerais, debatem Maria Firmina dos Reis numa perspectiva histórica, contextualizando uma autora que nasceu junto com a Independência do Brasil.

Schwarcz lançou recentemente "O Sequestro da Independência" com Lúcia Klück Stumpf e Carlos Lima Junior pela Companhia das Letras, e acaba de publicar o infantil "Óculos de Cor", um conto sobre racismo, e "Triste República", quadrinho sobre a história do país guiada por Lima Barreto.

12h
Mesa 3: A Literatura em que Habito

A escritora Bessora, que nasceu na Bélgica e tem cidadania suíça, francesa e gabonense, publicou há pouco pela Relicário o romance "Os Órfãos", baseado numa história real sobre crianças alemãs enviadas à África do Sul para integrar o regime de pureza racial do apartheid. Ela deu entrevista ao repórter Ricardo Balthazar sobre o livro.

Ela divide a mesa com a brasileira Carol Bensimon, que mora na Califórnia, nos Estados Unidos, e também tem os deslocamentos como ponto central de sua literatura. Seu romance mais recente, "Diorama", da Companhia das Letras, é protagonizado por uma taxidermista que se vê obrigada a confrontar o passado de violência de sua família gaúcha. O repórter Walter Porto fez um perfil recente da escritora.

A escritora suíça Prisca Agustoni, radicada no Brasil há 20 anos e autora de diversos livros espalhados por editoras independentes, fecha a mesa.


19h
Mesa 4: O Corpo de Imagens
A artista plástica Lenora de Barros, autora de trabalhos experimentais e provocadores ao longo de uma carreira de meio século, divide a mesa com Ricardo Aleixo, multiartista que recebeu o título de doutor honoris causa pela Universidade Federal de Minas Gerais. A mesa deve abordar a intersecção entre artes visuais e literárias que caracteriza a obra de ambos.

Barros foi perfilada pelo jornalista Gustavo Zeitel por ocasião da retrospectiva de sua carreira em cartaz na Pinacoteca de São Paulo. Aleixo também ganhou um perfil de Peri Pane quando fez 60 anos e seu livro mais recente, a espécie de autobiografia intitulada "Sonhei com o Anjo da Guarda o Resto da Noite", da Todavia, foi resenhado por Luciana Araujo Marques.

Fecha a mesa a portuguesa Patricia Lino, também poeta, ensaísta e ilustradora. As Edições Macondo lançaram recentemente uma nova edição de seu "Kit de Sobrevivência do Descobridor Português no Mundo Anticolonial", um livro irônico feito em forma de manual de instruções que deve alimentar um debate quente sobre decolonialismo.


20h30
Mesa 5: A Festa das Irmãs Perigosas

Na última mesa do dia, a argentina Camila Sosa Villada, autora do elogiado romance "O Parque das Irmãs Magníficas", conversa com a poeta baiana Luciany Aparecida, que lançou há pouco o plaquete "Macala" pelas editoras Fósforo e Luna Parque e tem outras obras publicadas pela Paralelo13S.

Em "O Parque das Irmãs Magníficas", Villada cria ficção baseada em sua experiência como mulher trans e seu passado como prostituta, transformando o contexto de dureza em literatura fantástica e singela. A escritora conversou com o jornalista Walter Porto sobre o livro, na época de seu lançamento, e deu nova entrevista sobre a coletânea de contos "Sou uma Tola por te Querer", que ela lança na Flip.

sexta-feira, 25

10h
Mesa 6: Ainda Longos Combates

Os intelectuais e professores Allan da Rosa, autor de "Águas de Homens Pretos", da Veneta, e Eduardo Sterzi, que acaba de publicar "Saudades do Mundo" pela Todavia, travam uma conversa que usa a história da arte para pensar a evolução da literatura e dos embates sociais no Brasil.

12h
Mesa 7: Dançar a Palavra

A escritora argentina Cecilia Pavón e a ilustradora brasileira Fabiane Langona, colaboradora fixa da Folha com tirinhas na Ilustrada, discutem as pontes entre poesia, artes visuais e engajamento político em causas como o feminismo.

15h
Mesa 8: O que Deixaram para Adiante

O escritor carioca Geovani Martins acaba de lançar seu primeiro romance, "Via Ápia", após obter um sucesso incomum com os contos de "O Sol na Cabeça", seu livro de estreia de quatro anos atrás. No livro, da Companhia das Letras, ele acompanha o cotidiano de um grupo de jovens negros durante a instalação das Unidades de Polícia Pacificadora no Complexo do Alemão, onde o autor morava à época. Ele conversou com o jornalista Walter Porto sobre a obra.

Já a americana Ladee Hubbard, com quem ele dialoga, teve seu romance "A Talentosa Família Ribkins" publicado ano passado pelo selo Paralelo13S, uma história também cotidiana sobre a vida de uma família negra, mas com toques de fantasia.

17h
Mesa 9: E Se Eu Fosse
A escritora Amara Moira, doutora em letras pela Unicamp, ascendeu aos holofotes com o relato de tintas autobiográficas "E Se Eu Fosse Puta", de 2016, quando foi entrevistada pelo repórter Rodolfo Viana. Ela publicou depois o monólogo "Neca", em dialeto pajubá, pela editora O Sexo da Palavra, que em breve ganhará edição ampliada pela Companhia das Letras.

Ricardo Lísias expôs em outro livro recente, "Uma Dor Perfeita", da Alfaguara, sua própria experiência em torno de outra questão —o quadro grave de Covid-19 que o levou à internação e ao medo real da morte. Ambos dialogam sobre seus processos de ficcionalização de si mesmos.

19h
Mesa 10: Do Mal que Tu me Deste...

A mesa é um encontro com o chileno Benjamín Labatut, um dos nomes mais elogiados da literatura internacional. Seu livro "Quando Deixamos de Entender o Mundo", publicado ano passado e trazido ao Brasil em abril pela Todavia, quando ele deu entrevista ao jornalista Walter Porto, foi escolhido um dos melhores do ano pelo New York Times e foi finalista do prêmio Booker Internacional.

Em sua obra, Labatut faz uma mistura sofisticada de ficção, relato histórico e ensaio científico para pensar os limites da busca pela verdade absoluta, usando exemplos de grandes cientistas que chegaram ao limiar da loucura. A Todavia publica durante a Flip o livro "A Pedra da Loucura", que avança essas explorações.

20h30
Mesa 11: Livre e Infinito
Pela primeira vez em 20 edições, a Flip decidiu homenagear uma artista viva, na figura da fotógrafa Claudia Andujar, suíça naturalizada no Brasil que fez um trabalho paradigmático junto a povos indígenas.

Para discutir a vida e carreira da escritora, a mesa traz a artista paraense Nay Jinknss, a fotógrafa paulista Nair Benedicto e o líder indígena Davi Kopenawa, autor do paradigmático livro "A Queda do Céu" com o francês Bruce Albert. O livro foi o segundo mais lembrado por personalidades na lista de 200 livros representativos dos 200 anos de Independência do Brasil, organizada pela Folha.

Kopenawa recebeu um diagnóstico de Covid nesta semana, mas deve participar virtualmente da mesa.

sábado, 26

10h
Mesa 12: Cidade e Floresta

A tradicional mesa Zé Kléber, voltada à comunidade paratiense, reúne este ano o cantor Luís Perequê e os artistas indígenas Carlos Papá e Cristine Takuá para pensar a ancestralidade.

12h
Mesa 13: Memória Flip 20 Anos

Para fazer um balanço de como a produção literária evoluiu desde a primeira edição da Flip, em 2003, o evento convida dois autores que participaram dos primórdios da festa e seguem atuantes —o romancista brasileiro Bernardo Carvalho, colunista deste jornal conhecido por obras como "Nove Noites", "Reprodução" e o mais recente "O Último Gozo do Mundo", e Pauline Melville, guianense radicada no Reino Unido que segue sem tradução no Brasil e costuma inserir sua verve como comediante em suas obras.

15h
Mesa 14: Diamante Rubro

O palco está aberto para o maior nome desta edição da Flip, a francesa Annie Ernaux, laureada com o Prêmio Nobel de Literatura no mês passado. A Folha publicou uma série de textos sobre a escritora, mas vale começar com a entrevista feita por Francesca Angiolillo à época da publicação de "O Lugar", primeiro dos cinco livros lançados pela editora Fósforo desde maio do ano passado.

O jornal publicou depois resenhas de Noemi Jaffe para "O Acontecimento", sua narrativa sobre o próprio aborto que ganhou também uma adaptação cinematográfica, e de Ligia Gonçalves Diniz para "A Vergonha", seu relato sobre um episódio de violência doméstica de seu pai contra sua mãe.

Após o Nobel, o jornal publicou algumas análises sobre sua obra que revolucionou a maneira como se escreve autoficção (um termo, aliás, que a autora rejeita). Angiolillo abordou as razões pelas quais se pode dizer que Ernaux desafia o lugar imposto à mulher na literatura e na sociedade; e a professora Eurídice Figueiredo escrutinou o processo em que a autora mistura sua vida à narrativa ficcional.

A francesa divide a mesa com Veronica Stigger, escritora brasileira de expressão que lançou seu mais recente "Sombrio Ermo Turvo" pela Todavia e teve seu livro vencedor do Jabuti, "Sul", editado pela 34 e resenhado por Miguel Conde em 2016.

17h
Mesa 15: Desterrando o Susto

A mesa traz a francesa Nastassja Martin, que viu seu "Escute as Feras" ganhar repercussão incomum desde sua publicação no ano passado pela editora 34. Na obra, a antropóloga conta como ter sobrevivido ao ataque de um urso na Sibéria mudou completamente sua visão do mundo e inaugurou uma espécie de vida dupla dentro dela. O livro foi resenhado pela crítica Vivien Lando e pelo colunista Mario Sergio Conti.

Martin divide o palco com Tamara Klink, velejadora que relata suas viagens em obras como "Mil Milhas" e "Um Mundo em Poucas Linhas", da editora Peirópolis.

19h
Mesa 16: Entrar no Bosque de Luz

Saidiya Hartman é outro dos nomes mais fortes desta edição da Flip, tendo se tornado referência cada vez mais incontornável nos estudos sobre a escravidão e as narrativas afrodiaspóricas. Sua obra estreou no Brasil ano passado com "Perder a Mãe", da editora Bazar do Tempo, quando ela deu entrevista ao jornalista Walter Porto sobre o processo inovador em que mescla pesquisa acadêmica a relato íntimo no livro.

Este ano, a editora Fósforo lançou seu "Vidas Rebeldes, Belos Experimentos", em que retraça por processos parecidos os cotidianos de mulheres negras da virada do século 19 para o 20 nos Estados Unidos. A jornalista Yasmin Santos resenhou o livro. E a editora Crocodilo acaba de publicar a coletânea de ensaios "A Sedução + O Ventre do Mundo".

Hartman conversa com a antropóloga Rita Segato, professora emérita da Universidade de Brasília com trabalho fundamental em estudos de gênero e segregação racial no Brasil. Ela lança na Flip, pela Bazar do Tempo, a coletânea de escritos "Cenas de um Pensamento Crítico".

Fecha a mesa o crítico literário Luiz Maurício Azevedo, editor da Figura de Linguagem ao lado da curadora Fernanda Bastos e autor de obras de relevância sobre literatura negra, como o recente "Estética e Raça", quando foi entrevistado pela jornalista Úrsula Passos.

20h30
Mesa 17: Palavra Livre

Para fechar o dia, o multiartista Lázaro Ramos —ator e escritor de sucesso que este ano dirigiu seu primeiro filme de ficção, "Medida Provisória"— conversa com duas jovens artistas da palavra, a slammer brasileira Midria e a poeta portuguesa Alice Neto de Sousa, num diálogo que procura mostrar as mais diferentes expressões da lusofonia.

Ramos, aliás, está publicando pela Objetiva seu primeiro livro voltado ao público jovem, "Você Não É Invisível".

domingo, 27

10h
Mesa 18: O Brando Leque do Gentil Palmar

A cubana Teresa Cárdenas tem extensa e premiada obra sobre a ancestralidade africanas de seu país, se engaja em discursos sobre representatividade negra nas escolas e lança o infantil "Awon Baba" pela editora Pallas durante a Flip.

Ela conversa com a pernambucana Cida Pedrosa, que venceu o Jabuti de livro do ano em 2020 por "Solo para Vialejo", publicado pela Cepe Editora. Na época, ela foi perfilada pela jornalista Marcella Franco e seu livro, resenhado pelo crítico Leonardo Gandolfi.

Durante a festa, ela lança "Araras Vermelhas" pela Companhia das Letras, um longo poema em prosa sobre a Guerrilha do Araguaia.

12h
Mesa 19: Encruzilhadas do Brasil

A escritora e historiadora mineira Cidinha da Silva, que já presidiu o Geledés - Instituto da Mulher Negra, é conhecida por uma ampla variedade de obras literárias que vão de crônicas a contos e romances. O mais recente, lançado durante a Flip, é "Exuzilhar", da Pallas.

Em diálogo com ela estará o paraibano Cristhiano Aguiar, que acaba de receber o Prêmio da Biblioteca Nacional por seu livro "Gótico Nordestino", da Alfaguara. À época do lançamento, em fevereiro, ele deu uma entrevista ao jornalista Caio Delcolli pensando o ressurgimento das tramas góticas na América Latina.

15h
Mesa 20: Livros de Cabeceira

Escritores espalhados pela programação da festa, como Cecilia Pavón, Cidinha da Silva, Ladee Hubbard, Nastassja Martin e Teresa Cárdenas, leem trechos de seus livros favoritos.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.