Marina Rheingantz pinta a passagem do tempo pela natureza em exposição

Em 'Sedimentar', artista avança seu processo criativo no sentido da abstração formal, ressaltando o relevo das tintas

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São Paulo

O mar é uma abstração —esconde mistérios nas profundezas, respondendo em ondas mansas ou bravias ao nosso olhar, sentimental. Da tela "Suspiro", criada pela artista Marina Rheingantz, parece soprar uma brisa suave, que faz evaporar o acúmulo de tinta da parte inferior do quadro até seu limite superior.

Embaixo, o azul se condensa em um borrão preto, que agrega densidade à obra. Acima, o mesmo azul se esvai numa superfície esbranquiçada, convidando o espectador a inspirar e expirar. São 21 obras da artista, concebidas no último ano, reunidas agora no galpão da galeria Fortes d'Aloia & Gabriel, na mostra "Sedimentar".

Obras de Marina Rheingantz em exposição - Divulgação

As telas ali expostas ainda se inserem no gênero pintura de paisagem, mas Rheingantz avança pela primeira vez rumo à abstração informal. "Minhas obras estão abertas à imaginação do espectador, mesmo que sugiram certa representação", ela diz. "Estudei muito técnicas de tapeçaria e procuro trazer essa experiência para as telas."

Desse modo, os quadros de "Sedimentar" apresentam uma textura, quase sempre numa cor só, onde a composição abstrata se assenta. Com um pincel pequeno e achatado, Rheingantz costura uma profusão de cores, saltando em borrões espessos e descontínuos.

Por vezes, os borrões acumulam tintas, que pendem entumescidas para fora da tela. A artista, desse modo, ressalta ao espectador a natureza do material com que trabalha. Outra paisagem marítima é encontrada na tela "Sensação", cuja pincelada azul se dá na posição horizontal, entre idas e vindas, acrescentando dinamismo à tela.

Em contraste, um borrão preto e disforme se sobrepõe a um tom rosáceo, que numa outra brisa, que ganha a cor azul. Complementar ao perfume da maresia, "Mina" nos oferece um quadro inteiriço em bege, areia-marfim. Diluindo a tinta em água, a pintora cria manchas na superfície, riscada em tons alaranjados.

Já "Rastro", óleo sobre linho, com dimensões de 3,3 metros por 6,5 metros, alcança certa serenidade, num diálogo entre verde-musgo e vinho contra o fundo terroso, além manchas brancas que ajudam a descentralizar o olhar do espectador.

A sensação é reforçada na ambiência primaveril de duas telas. Os pontilhados brancos em "Cavalcante" sugerem a queda de pétalas de flores, dispostas a certa altura. É um peso melancólico, ainda que o fundo rosáceo nos faça abrir um sorriso. Mais alegre é "Fanfarra", também óleo sobre linho, em que as flores explodem em cores.

Pelas telas, a artista vislumbra a passagem das estações. Caminhando pelas pinturas, nós sentimos o próprio tempo se passar.

Marina Rheingantz: Sedimentar

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