Quem é Badsista, que zombou de bolsonaristas em show no Primavera Sound

Misto de DJ, produtora e cantora exibiu imagens de pessoas vestidas com a camiseta do Brasil penduradas em caminhões

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São Paulo

"Caralho, eu quero drogas", disse um homem da plateia quando Badsista começou seu show de música eletrônica no palco Bits do Primavera Sound, festival que ocorre neste fim de semana em São Paulo.

Misto de DJ, produtora e cantora, a paulistana fez dois shows no primeiro dia do evento. Badsista subiu ao palco reservado à música eletrônica às 14h40, onde tocou por cerca de uma hora e 25 minutos. Depois, às 21h30, foi ao palco Elo para cantar e tocar guitarra.

Show de Badsista no Primavera Sound - Rubens Cavallari/Folhapress

Em seu primeiro show, Badsista foi DJ para uma plateia quase só de homens gays. Foi uma apresentação morna, pontuada por poucos momentos agitados.

O público se animou mesmo nos minutos finais, quando a artista exibiu nos telões imagens de pessoas vestidas com a camiseta do Brasil penduradas em caminhões, zombando das manifestações golpistas feitas por bolsonaristas nos últimos dias. Foi uma das primeiras manifestações políticas do primeiro dia do evento.

A plateia também se agitou no meio da performance, quando Badsista tocou uma espécie de funk eletrônico. Frases como "senta pros menor" e "só porrada na xereca" eram cantadas por cima de batidas que faziam o corpo todo tremer. Pessoas começaram a requebrar até o chão, enquanto, nos telões, Badsista exibia a bandeira do Brasil e as cores verde e amarelo.

As telas do palco Bits, aliás, são largas e compridas. Badsista aproveitou para abusar de cores, luzes piscantes e imagens psicodélicas com florestas, cogumelos e formas geométricas.

O palco fica num galpão espaçoso, coberto e escuro —a pouca iluminação que existe vem do palanque onde está o artista. O som é claro, limpo e alcança o recinto inteiro. É a atmosfera ideal para quem gosta de fritar ao som de música eletrônica.

Bolsonarista que se agarrou a caminhão em protesto golpista é usado como cenário na performance de Badsista no Primavera Sound, em São Paulo
Bolsonarista que se agarrou a caminhão em protesto golpista é usado como cenário na performance de Badsista no Primavera Sound, em São Paulo - Guilherme Luis/Folhapress

Badsista, que produziu o disco "Pajubá", de Linn da Quebrada, e o EP "Corpo Sem Juízo", de Jup do Bairro, quis virar cantora também. Seu álbum de estreia, "Gueto Elegance", foi lançado no ano passado.

É para mostrar suas duas facetas que Badsista fez dois shows no festival. No palco Elo, depois de uma longa introdução só com batidas, ela cantou "Só Me Chama Se For House". Venus Garland, artista que tocou bateria no show, fez um solo que levou cerca de cinco minutos para acabar.

Badsista se escondia por trás de uma placa de LED que exibia as mesmas imagens psicodélicas dos telões. Só apareceu para o público 17 minutos após o início da performance.

Quando voltou a cantar, Badsista apresentou a canção "Sem Dar Tchau", faixa que encerra seu único disco. No meio do show, convidou a rapper Lari bxd 777 para uma performance de "A Braba do Jaca", faixa sobre uma "foda maluca" que empolgou o público.

Ao final da apresentação, Badsista pediu que o público abrisse espaço para uma rodinha, onde parte do público pulava e se empurrava por mais de um minuto. Ela encerrou o show com um longo solo de guitarra.

Badsista é o nome artístico de Rafaela Andrade, que estudou produção de música eletrônica na Mooca, numa faculdade onde cansou de ouvir que precisava investir em equipamentos caros para criar som de qualidade. Para uma moradora de Itaquera, bairro da zona leste paulistana, era uma conversa desanimadora, ela disse em entrevista a este jornal.

Em meados da década passada, já assinando como Badsista, Andrade começou a chamar a atenção no cenário musical paulistano ao criar conexões entre música eletrônica, funk e reggae. Como DJ, tocou em festivais consagrados como Glastonbury, no Reino Unido, e Nyege Nyege, em Uganda.

"Gueto Elegance" celebra, acima de tudo, o encontro e o empoderamento proporcionado pelas festas e pistas de dança, sejam raves ou fluxos. "Quando falo de festa no álbum é trazendo esse lugar da comunidade e de tudo que você pode viver dentro daquilo", afirmou.

"Alguns anos atrás eu não era porra nenhuma, uma zé-ninguém. Para estar no lugar onde estou hoje, devo muito a todo mundo que está nesse rolê."

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