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Hit no TikTok, 'M3GAN' diverte com terror de criar filhos no século 21

Filme é uma boa novidade para quem já se cansou do tom carrancudo de distopias como o da série 'Black Mirror'

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M3GAN

  • Quando Estreia na quinta (19) nos cinemas
  • Classificação 14 anos
  • Elenco Allison Williams, Violet McGraw, Ronny Chieng
  • Produção EUA, 2022
  • Direção Gerard Johnstone

A dupla responsável pelo bizarro "Maligno", composta pelo produtor James Wan e a roteirista Akela Cooper, está de volta com mais um terror de estilo "camp" —isto é, algo tão exagerado e ridículo que só pode ser divertidíssimo. Dirigido pelo neozelandês Gerard Johnstone, "M3GAN" tem a pretensão de ser "O Brinquedo Assassino" para a geração do TikTok.

Violet McGraw em cena do filme 'M3GAN', dirigido por Gerard Johnstone
Violet McGraw em cena do filme 'M3GAN', dirigido por Gerard Johnstone - Geoffrey Short/Divulgação

No cultuado longa de 1988, a alma de um serial killer é transferida, por meio de um ritual de vodu, para um inocente boneco ruivo. Criado por Don Mancini, Chucky acabou rendendo seis sequências, uma refilmagem fracassada em 2019 e uma série elogiada em 2021 —além dos traumas de quem cresceu com lendas urbanas que envolviam brinquedos amaldiçoados da Xuxa e do Fofão.

Já em "M3GAN", o elemento da magia é substituído pelo horror concreto da inteligência artificial. Depois de perder os pais em um acidente de trânsito, a menina Cady –Violet McGraw, de "Viúva Negra"– vai viver com a tia Gemma, uma engenheira robótica interpretada por Allison Williams, do filme "Corra!" e da série "Girls".

Sem aptidão para ser mãe e sob pressão profissional, Gemma leva o protótipo de uma androide para fazer companhia à sobrinha. M3GAN, ou Androide Generativo Modelo 3, é inspirada na American Girl, uma marca conhecida de bonecas dos Estados Unidos, mas com um visual mais realista que abusa do "uncanny valley" –a repulsa por algo de aparência quase humana.

Coberta com um rosto de silicone e uma peruca loira de ondas perfeitas, é Amie Donald quem dá vida aos movimentos da robô. Com apenas 12 anos, Donald é faixa marrom em caratê, faz contorcionismo e ganhou duas medalhas em um campeonato mundial de dança –foi sua coreografia cativante que transformou "M3GAN" em sensação antes mesmo do lançamento.

Com mais de 1 bilhão de visualizações no TikTok, os produtores logo perceberam o potencial "memético" de "M3GAN" e passaram a investir em campanhas de marketing parecidas com as de "Sorria", outro sucesso recente do gênero. Sósias da boneca começaram a aparecer em vagões do metrô, jogos de futebol americano e até na frente do Museu do Ipiranga.

Nos Estados Unidos, "M3GAN" faturou US$ 30 milhões, aproximadamente R$ 153 milhões, apenas no final de semana de estreia, cerca de US$ 10 milhões a mais do que havia sido projetado. Já com uma sequência em vista, o filme passou da marca dos US$ 90 milhões, cerca de R$ 460 milhões, ao redor do mundo —a título de comparação, "Maligno" teve um orçamento quase quatro vezes maior e uma bilheteria total de apenas US$ 34 milhões.

O fator TikTok também foi determinante no perfil do público —53% mulheres, 44% abaixo dos 25 anos. Com classificação indicativa de 14 anos no Brasil, "M3GAN" dispensou uma versão mais sanguinolenta —com a possibilidade de ser lançada mais adiante— para atrair o público jovem e servir como uma espécie de introdução ao terror para os neófitos.

Tematicamente, não há nada de revolucionário em "M3GAN". Debater até que ponto a tecnologia pode ser considerada uma aliada não é uma ideia original, o HAL 9000 de "2001 - Uma Odisseia no Espaço" que o diga. Mas a produção conjunta da Blumhouse e da Atomic Monster traz o recorte específico da criação infantil.

Allison Williams e Violet McGraw em cena do filme 'M3GAN', dirigido por Gerard Johnstone
Allison Williams e Violet McGraw em cena do filme 'M3GAN', dirigido por Gerard Johnstone - Geoffrey Short/Divulgação

É mais cômodo largar um tablet com uma criança do que conversar ou brincar com ela —ou, pior ainda, lidar com o aborrecimento do seu tédio. É mais fácil criar um robô que aprende tudo sozinho do que programar certos protocolos invioláveis, como as três leis de Asimov. Em ambos os casos, sem supervisão ou cuidado, os resultados podem ser catastróficos.

Máquinas que se rebelam contra os humanos não são um tropo inédito na ficção científica, mas a abordagem divertida de "M3GAN" é uma boa novidade para quem já se cansou do tom carrancudo de distopias como da série "Black Mirror". Sim, o futuro é assustador, mas ainda podemos rir de nossa desgraça iminente.

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