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Animação 'Perlimps' sucede 'Menino e o Mundo' e lembra briga de gigantes no Oscar

Filme de Alê Abreu, que toca em temas adultos pelo olhar infantil, também quer chegar à maior premiação de Hollywood

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São Paulo

Com os pés descalços e um caderno de desenhos no colo, Alê Abreu observava o entra e sai de jornalistas num cenário de programa televisivo improvisado numa casa da Vila Madalena, em São Paulo, na semana passada.

Entre uma entrevista e outra, o cineasta premiado em Annecy por "O Menino e o Mundo" arranhava as folhas em branco com lápis coloridos, com a dedicação de um menino.

Cena de 'Perlimps', filme de Alê Abreu
Cena de 'Perlimps', filme de Alê Abreu - Divulgação

Foi um menino, aliás, que ele diz ter dirigido o novo trabalho. Em "Perlimps", Abreu deixa que sua criança interior assuma o comando. O método é não ter método, e as ideias —visuais, personagens, argumentos— pipocam em seu cérebro sem aviso, por isso a urgência em pôr tudo no papel.

O resultado dessa ebulição de imagens que ele conta ter na cabeça é um filme de cores intensas e personagens inventivos, em que árvores nem sempre têm folhagem verde e em que ursos e lobos assumem características físicas de mais outra dezena de animais.

"Eu não tenho um processo criativo muito claro e nem desejo ter. Eu vou colecionando coisas que brilham e vou guardando essas ideias em pastas plásticas. São fragmentos que depois se tornam cenas", tenta explicar, depois de deixar o estojo descansando numa mesa ao lado.

"Perlimps" surgiu a partir da imagem de um menino que saía de uma floresta alagada. Abreu passou a ideia para o papel e a deixou amadurecer, enquanto ia trabalhando em elementos do entorno daquela história ainda sem linha narrativa. Num fim de semana, foi sozinho a uma pousada no interior de São Paulo, abriu as pastas plásticas e pendurou todas as frases e imagens que havia colecionado nas paredes.

Da rápida viagem, o cineasta e artista plástico saiu com um argumento ainda muito rudimentar, mas suficiente para que "Perlimps" florescesse. O longa é centrado em duas crianças com características de animais –uma, pertencente ao chamado Reino da Lua, é praticamente um urso, e a outra, do Reino do Sol, é como um lobo.

Rivais, elas estão na mesma missão secreta e, por isso, decidem juntas atravessar uma floresta encantada em busca dos seres fantasiosos que dão nome ao filme. Só eles podem ajudá-las a salvar o mundo dos Gigantes, que "precisam da guerra" para manter seu poder e que seguem uma cartilha que prega a divisão, a intolerância e a destruição.

"Eu digo que quem dirige meus filmes é o Alê criança, porque eu estou sempre brincando. Eu recorro a esse lado meu todos os dias, porque através dele eu consigo ler questões do mundo, como a guerra, a questão dos povos originários, a polarização política, com um filtro diferente, fazendo arte", responde Abreu ao ser questionado sobre os laços de "Perlimps" e a realidade aturdida por um conflito na Ucrânia, a crise dos yanomamis e um Brasil dividido.

Nas cenas de um forte colorido, que põem tons quentes explosivos para contrastar com os frios intimistas, tanques desfilam pelas ruas, o meio ambiente é ameaçado pelas fábricas e muros separam humanos, num contexto que assusta os protagonistas Claé e Bruô.

É uma diferença e tanto de seu antecessor, "O Menino e o Mundo", animação celebrada que rendeu a Abreu uma indicação ao Oscar em 2016. Nela, os brancos predominavam, em meio a traços mais rudimentares, que lembravam os rabiscos numa folha de papel.

A premissa de "Perlimps", de duas crianças numa guerra aparentemente perdida contra gigantes, aliás, parece refletir a do próprio cineasta, que naquele Oscar concorreu contra a Pixar, a Studio Ghibli e a Aardman Animations —perdeu a estatueta para o ultrafavorito "Divertida Mente", mas não sem receber elogios de seu diretor e chefão da primeira produtora, Pete Docter.

Retrato de Alê Abreu, que aparece com boneco do filme "O Menino e o Mundo" - Danilo Verpa/Folhapress

Abreu conta que num dos jantares promovidos pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood, o americano que esteve à frente de "Monstros S.A.", "Up: Altas Aventuras" e "Soul" sentou ao seu lado, no chão mesmo, e o fez se sentir em casa, como se rodeado por amigos.

Concebido sob a pressão de ser o sucessor de "O Menino e o Mundo", "Perlimps" compartilha das mesmas ambições. A ideia, conta Abreu, é fazer uma campanha para o Oscar do ano que vem. "Mas apesar de as pessoas me perguntarem sobre o caminho do filme, a verdade é que os filmes têm caminhos próprios", pondera.

Perlimps

  • Quando Estreia nesta quinta (9), nos cinemas
  • Classificação Livre
  • Produção Brasil, 2022
  • Direção Alê Abreu
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