Burt Bacharach falou sobre inspiração para compor; releia texto da Folha

Morto nesta quinta (9), compositor comentou há dez anos sobre parceria com Hal David e sucessos com Dionne Warwick

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São Paulo

Morto nesta quinta-feira (9), aos 94 anos, Burt Bacharach falou à Folha em 2013 sobre sua relação com o maior parceiro, o letrista Hal David. A dupla se conheceu no fim dos anos 1950, no prédio Brill Building, de Nova York, que abrigou escritórios de compositores, gravadoras, agentes e produtores musicais.

"Todo mundo tem encontros marcantes, que mudam sua vida para sempre. Eu e Hal tivemos um desses", contou Bacharach, com voz pausada. David (1921-2012) escreveu a letra de dezenas de músicas da dupla.

O maestro e compositor Burt Bacharach em foto dos anos 1960
O maestro e compositor Burt Bacharach em foto dos anos 1960 - Reprodução

Nascido em Kansas City, Missouri, em 1928, e criado em Nova York, Bacharach foi para a Califórnia estudar música. De volta a Manhattan, começou a trabalhar em estúdios e a acompanhar turnês até encontrar David e passar a compor regularmente.

Bacharach e seu parceiro criaram 48 canções que entraram na lista dos dez singles mais vendidos nos Estados Unidos. De suas mais de 500 composições, 73 figuram entre as 40 mais vendidas, um recorde absoluto.

Era fácil escrever uma canção? "Leva muito tempo e demanda conhecimento técnico, mas a inspiração conta, e chega a você de diferentes maneiras. Já criei linhas melódicas assobiando no meu carro, no meio de um congestionamento demorado."

Bacharach não concordava quando alguém se refere a ele como um homem que compõe canções para cantoras. "É uma impressão que as pessoas têm por causa de nosso trabalho com Dionne Warwick. Eu e Hal escrevemos mais de 20 músicas que ela lançou com sucesso". Na verdade, Warwick gravou 31 singles com músicas da dupla.

O primeiro foi "Don't Make Me Over", em 1962. É possível montar um "greatest hits" de Bacharach apenas na voz dela. Entrariam nessa lista, entre outras, "Anyone Who Had a Heart", "(They Long to Be) Close to You", "Walk on By", "(There's) Always Something There to Remind Me" e "I Say a Little Prayer".

Bacharach elogia as várias cantoras com quem trabalhou, além da musa Dionne, como Dusty Springfield, Karen Carpenter, Anne Murray e Petula Clark. Mas faz questão de lembrar os cantores que gravaram canções suas.

"Grandes vozes! Tom Jones, Johnny Mathis, Neil Diamond, Ron Isley e, claro, B.J. Thomas", elenca o compositor. Thomas gravou "Raindrops Keep Fallin' on My Head", tema do filme "Butch Cassidy & The Sundance Kid", que deu a Bacharach um de seus três Oscar.

As trilhas sonoras foram praticamente um feudo de Bacharach. Emplacou sucessos seguidos, de "What's New Pussycat?" (1965), com Tom Jones, a "Arthur" (1981), com Christopher Cross.

Elvis Costello, seu parceiro mais frequente de composições nos anos anteriores a 2013, abriu a cabeça de Bacharach para novos gêneros. O maestro disse que escutava discos de hip-hop —trabalhou recentemente com o rapper Dr. Dre.

O compositor Burt Bacharach com uma estatueta do Grammy de melhor álbum pop instrumental em fevereiro de 2006
O compositor Burt Bacharach com uma estatueta do Grammy de melhor álbum pop instrumental em fevereiro de 2006 - REUTERS

Bacharach lançou em 2014 sua autobiografia, "Anyone Who Had a Heart", contando inclusive do casamento com a atriz Angie Dickinson nos anos 1960, quando eram um tipo de Brad & Angelina.

Burt Bacharach no Brasil foi chance rara de ver boa parte da história da música pop em uma noite.

Na mesma vinda ao Brasil, quando cantou em São Paulo e no Rio de Janeiro, Bacharach, então com 84 anos, disse que sua ocupação era simplesmente "escrever canções de amor".

"Não penso em parar", disse Bacharach ao jornal, numa entrevista por telefone concedida em um dia de gripe forte, em que interrompeu a conversa várias vezes, com tosse.

"Eu estarei bem no Brasil, garanto. Adoro o país", complementou, referindo-se aos dois shows que apresentou naquela semana. Em seguida, mostrando sua disposição, seguiu em turnê pela Europa.

Com uma pequena orquestra e três vocalistas, o músico não conseguiu fugir, mais uma vez, de hits adorados por várias gerações desde 1957. Principalmente por quem ia aos cinemas nas décadas de 1960 e 1970, quando uma trilha sonora assinada por Burt Bacharach valia ouro.

Ele reconhecia a força de seus sucessos. "Sinto que não tenho o direito de fazer shows sem algumas canções que as pessoas sempre esperam."

Burt Bacharach e Elvis Costello
Burt Bacharach e Elvis Costello - Divulgação

A lista é imensa, mas talvez "Raindrops Keep Fallin' on My Head" e "I Say a Little Prayer" sejam as mais queridas, especialmente entre seus fãs brasileiros.

"Mostro os maiores sucessos, mas faço um show longo [cerca de duas horas] e coloco músicas mais recentes que são minhas favoritas", disse na ocasião.

Entre elas estão as que gravou com Ron Isley em 2003. Ele diz adorar seu álbum com o cantor do Isley Brothers.

O maestro, cantor e compositor já visitou o Brasil várias vezes. A última foi em 2009. A primeira, no entanto, tem uma história curiosa.

Em 1959, aos 31 anos, ele tocou no Copacabana Palace, no Rio. Na época, ele era diretor musical da turnê da diva alemã Marlene Dietrich.

Sua primeira apresentação no país pode ser conferida no CD "Dietrich in Rio", de 1959. Ele fez arranjos, regeu a orquestra e até sentou ao piano em alguns momentos do show.

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