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Filmes

'Pearl' poderia ser conteúdo extra de DVD de 'X - A Marca da Morte'

É verdade que o Oscar esnoba filmes de terror, mas a atriz Mia Goth terá oportunidades melhores de mostrar talento

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Pearl

  • Quando A partir de quinta-feira (9)
  • Onde Nos cinemas
  • Classificação 18 anos
  • Elenco Mia Goth, David Corenswet, Tandi Wright
  • Direção Ti West

Quando os indicados ao Oscar deste ano foram anunciados, fãs de terror protestaram a omissão de Mia Goth na categoria de melhor atriz pelo seu trabalho em "Pearl", sequência de "X - A Marca da Morte", também dirigida por Ti West. Apesar do seu talento inegável, Goth não alcança o mesmo patamar das injustiçadas Toni Collette em "Hereditário" ou Lupita Nyong'o em "Nós".

Mia Goth no cartaz do filme 'Pearl', de Ti West, da produtora A24 - Divulgação

Neta da atriz brasileira Maria Gladys, musa do cinema marginal de Júlio Bressane, Goth se entrega com coragem aos papéis mais variados, da abobalhada Harriet de "Emma" à ambiciosa atriz pornô de "X - A Marca da Morte". Em "Pearl", que narra a juventude da anciã asquerosa do primeiro filme, ela vive uma caipira psicótica que sonha com o estrelato.

Com o marido Howard lutando na Primeira Guerra Mundial e o pai catatônico numa cadeira de rodas, Pearl tenta corresponder às expectativas de sua mãe, uma alemã severa que reprova os devaneios da filha. Entre os afazeres da fazenda, ela mata animas por diversão, vai ao cinema, flerta com o projecionista e dança com um espantalho no meio de um milharal.

Passado em 1918, durante a pandemia da gripe espanhola –pano de fundo que não serve qualquer outro propósito ao roteiro fora a alusão ao coronavírus–, "Pearl" é permeado de referências anacrônicas como "O Mágico de Oz", clássico com Judy Garland que só seria lançado duas décadas depois, ou os melodramas coloridos de Douglas Sirk dos anos 1950.

Se diretores como Robert Eggers, de "O Farol" e "O Homem do Norte", brilham na pesquisa histórica e na atenção aos detalhes, West misturou tudo com um jeitão mais ou menos antigo num pastiche dissimulado. Da fonte dos créditos iniciais à fotografia vibrante, que emula o Technicolor da era de ouro de Hollywood, não há coesão com o período retratado.

É com essa aleatoriedade que beira ao desleixo que West dirige e assina o roteiro desmilinguido de "Pearl" –este último em parceria com Goth, que também consta como produtora na ficha técnica. A sensação de incompletude é tamanha que, 20 anos atrás, "Pearl" seria apenas um divertido conteúdo extra de uma edição especial do DVD de "X - A Marca da Morte".

Como o destino da personagem já é sabido, caberia ao diretor abordar alguma faceta diferente de Pearl e não só confirmar o que já foi inferido ou fazer acenos à obra antecessora em prol do fan service —o homem-sanduíche que circula pela cidade com a frase "não aceitaremos uma vida que não merecemos", mote de Maxine no original, não acrescenta nada ao universo.

A displicência de "Pearl" é, em parte, compensada pela vivacidade de Goth, que tenta —e quase consegue— servir um banquete só com as sobras da geladeira. Há um monólogo bastante comentado, mas que não supera o de Rebecca Hall em "Resurrection". É verdade que o Oscar esnoba o gênero, mas Goth terá oportunidades melhores para ser reconhecida pela Academia.

Mesmo no "hagsploitation", subgênero marcado pelo arquétipo maldoso da velha louca, há mais nuance nos papéis de Joan Crawford e Bette Davis em "O que Terá Acontecido a Baby Jane?" do que em "Pearl", produzido pela prestigiada A24. Ti West parece fascinado pela estética da mulher insana com um machado na mão, mas é preferível ver "Almas Mortas" de William Castle.

Assim como "Babilônia", dirigido por Damien Chazelle, "Pearl" tenta prestar uma homenagem à sétima arte, mas acaba lembrando o espectador que ele poderia estar gastando o seu tempo precioso com filmes muito melhores. Talvez seja uma boa ideia pôr a dica em prática quando "MaXXXine", capítulo final da franquia encabeçada por Mia Goth, for lançado no Brasil.

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