Anitta, Lula, João Cabral de Melo, Fernanda Torres, Fernando Henrique Cardoso, Pelé, Caetano Veloso, Gisele Bündchen e por aí vai.
O panorama da cultura brasileira que Bob Wolfenson faz há 53 anos com suas lentes é o objeto de "Bob Wolfenson: o Livro Falado", lançado nesta terça-feira pelo Instituto Olga Kos, dedicado à inclusão social de pessoas com deficiência.
Com curadoria de Kiko e João Farkas, ambos editores dos livros de fotografia do instituto, a novidade da obra são as histórias de bastidores das imagens.
A seleção inclui figuras de peso do Brasil —e várias internacionais, como Patti Smith e Nina Simone—, cenários urbanos, nu artístico e ensaios de moda. São exemplos de como a obra do artista é plural. Ela perpassa diversos gêneros e situações, sempre trazendo um quê de revelador. São vários fotógrafos em um só.
Os textos que acompanham as fotografias, por sua vez, parecem trazer a voz de Wolfenson com as anedotas e curiosidades que precedem o momento em que as imagens foram feitas.
A princípio, a proposta de lançar mais um livro não o encantou, mas a ideia dos Farkas —amigos de infância do artista— de resgatar memórias tornou-se um convite tentador demais para ser recusado.
"O passado tem cheiro de éter", diz Wolfenson, de 69 anos. "Você fica pensando ‘o que fazer com o futuro e o presente?’. Vou vivendo ao sabor dos acontecimentos. Estou quite com isso."
Uma das memórias de maior expressão está vinculada à ideia de que o retratado deve estar plenamente descontraído. O preconceito é rechaçado pelo retrato de João Cabral de Melo Neto.
Wolfenson escreve que um estava com medo do outro. João Cabral não queria ser fotografado e estava desconfortável diante da câmera. A produtora teve de convencê-lo a fazer o ensaio. Nasceu assim o icônico retrato do poeta.
Mas nem todas as lembranças são tão felizes assim. O livro aborda os estragos feitos por uma inundação no estúdio do fotógrafo há cerca de três anos. Ele decidiu registrar com a câmera o estado em que seus trabalhos e o local ficaram —e considerar os danos uma camada a mais de memória nas fotos, que ainda não haviam sido finalizadas e estavam guardadas em mapotecas.
Outro episódio não muito feliz foi quando Wolfenson foi incumbido de fotografar o músico Lenny Kravitz para a revista GQ. O cantor, que já havia chegado demonstrando desconfiança, disse que o fundo branco escolhido pelo fotógrafo era entediante.
Wolfenson, por sua vez, acreditava que entendiante na verdade era o fundo grafitado que atraiu a atenção de Kravitz. Para completar, duas câmeras falharam, de modo que a foto teve de ser feita com uma terceira mais amadora. O resultado ficou insosso. "Os erros e fracassos os artistas não comentam, mas são assuntos importantes, assim como a espontaneidade do retratado", diz João Farkas.
O livro é lançado em paralelo a uma mostra de fotografias no Museu da Imagem e do Som, o MIS, em São Paulo, que permanece aberta à visitação gratuita até 16 de abril. A exposição traz oito imagens de Wolfenson, enquanto todas as outras são de beneficiários do Instituto Olga Kos, pessoas cegas ou quase cegas, com síndrome de Down, nanismo e autismo, que participaram de uma oficina de fotografia do artista em parceria com a ONG.
"Tentei transmitir a eles o que as imagens tinham, como eram as composições, as cores, o que aparecia nas imagens", diz Wolfenson. "Fiquei muito comovido com um deles, que estava muito interessado mesmo sem poder enxergar. Ele imaginava as coisas."
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