Leonardo Finotti celebra 25 anos de carreira fotográfica em exposição no MuBE

Mostra em São Paulo reúne registros de arquitetura moderna, pelos quais o mineiro é conhecido, e seu livros de artista

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São Paulo

Além do concreto aparente e da rejeição a elementos decorativos, uma das características da arquitetura moderna é o emprego de ângulos retos e formas geométricas nas construções, resultando num desenho preciso e econômico.

A exatidão dessa linguagem vem sendo traduzida para a fotografia há 25 anos por Leonardo Finotti, fotógrafo mineiro que dedicou sua vida a registrar prédios de Oscar Niemeyer, jardins de Burle Marx e casas de Paulo Mendes da Rocha, por exemplo.

Hospital da Lagoa, no Rio de Janeiro, fotografado por Leonardo Finotti; o projeto é de Oscar Niemeyer - Leonardo Finotti

Agora, uma exposição no Museu Brasileiro da Escultura e Ecologia, o MuBE, celebra sua carreira ao reunir um punhado de fotografias e sua extensa produção de livros de artista, além de catálogos de mostras do fotógrafo em vários países. A mostra foi desenhada e pensada em conjunto com Michelle Jean de Castro, que também criou as séries com o fotógrafo.

"Leonardo Finotti: Laboratório Aquitetura e Cidade" é uma amostra do olhar do artista, que "ressalta eixos, alinhamentos, simetrias e formas dinâmicas", fazendo da fotografia "uma forma de construção", dizem Guilherme Wisnik e Olívia Abrahão no texto de apresentação da mostra.

A exposição tem uma conexão com o MuBE. As duas grandes mesas do espaço expositivo, sobre as quais está a produção editorial do fotógrafo, foram feitas com longas ripas de metal e placas de vidro reaproveitadas do próprio museu.

Há também fotografias em preto e branco da instituição, entre as quais duas aéreas, mostrando o antes e o depois de uma obra de Burle Marx instalada na área externa do museu, e outra da placa de aço de Amílcar de Castro na entrada —nesta imagem, Finotti põe a obra, com seus 18 metros de altura, em relação com as linhas retas da arquitetura brutalista do MuBE.

Algumas das fotografias da mostra estão dentro dos escritórios do MuBE, separados por vidros do espaço expositivo e abertos à circulação do público, numa iniciativa inusual para o museu.

Fotografar os espaços onde expõe e expor essas imagens no próprio lugar é uma praxe no trabalho do artista, como se pode ver no catálogo de sua mostra na Casa Modernista, em São Paulo, disposto sobre uma das mesas. Está ali também seu primeiro fotolivro, com páginas em fole que, quando conectadas lado a lado, formam imagens do Rio de Janeiro, além de uma série de imagens de casas de Paulo Mendes da Rocha impressas em papel artesanal de aspecto rústico.

Quando vista em conjunto, a variada produção editorial do artista evidencia seu apreço por pensar em como as fotografias são mostradas para o público. Essa preocupação se transfere para dois grandes painéis, um com um conjunto de fotografias de marcos de São Paulo, como o edifício Copan e a marquise do parque Ibirapuera, e outro com uma série de fotos feitas com drone de projetos de Burle Marx.

Nos painéis fica clara a estética que deu reconhecimento internacional a Finotti e que levou o Museu de Arte Moderna de Nova York, o MoMA, a adquirir 15 fotos suas para o acervo. Ele encaixa o objeto fotografado com precisão no quadro, dando às imagens um aspecto geométrico e de organização. A ausência de figuras humanas não desvia o olhar das construções modernistas, retratadas em todo o seu esplendor.

Quando questionado sobre como desenvolveu sua linguagem, o fotógrafo não lembra nenhum colega de profissão ou artista. Ele diz que nunca foi "uma pessoa estudiosa, de pesquisar", mas que certamente foi influenciado ao longo da carreira e que, uma vez que tomou consciência das características de seu trabalho, levou isso ao limite.

Foto da exposição de Leonardo Finotti no MuBE
Vista da exposição de Leonardo Finotti no MuBE - Leonardo Finotti

Finotti se aproximou da fotografia quando estudava arquitetura na Universidade Federal de Uberlândia, em Minas Gerais, por influência de um professor apaixonado por foto. Mais tarde, morando em Lisboa, registrou o parque do Tejo, a convite do paisagista João Nunes, um trabalho decisivo para a sua escolha de carreira, que diz considerar uma paixão.

Durante a conversa, ele mostra ao repórter o sol batendo numa parede do museu e ressalta como as áreas de sombra deixam ver as imperfeições do concreto. Buscar os detalhes é uma constante em seu trabalho, ele afirma, acrescentando que passa um dia inteiro fotografando uma única construção para captar as diferenças de luminosidade sobre ela, em busca da melhor imagem. "A arquitetura é um objeto fixo, mas a luz tem movimento."

Leonardo Finotti: Laboratório Arquitetura e Cidade

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