Vik Muniz picota dinheiro e homenageia a Disney em galeria e na SP-Arte

Exposições 'Dinheiro Vivo' e 'Gibi' remetem ao passado do artista, cujas colagens unem o erudito com o popular

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São Paulo

Sem frescuras e com a iniciativa "mãos à obra", Vik Muniz é um dos nomes mais relevantes e inquietos da arte brasileira hoje. Ele inaugura duas novas exposições em São Paulo, "Dinheiro Vivo", na galeria Nara Roesler, no Jardim Europa, e "Gibi", parte da representação de sua galeria na feira SP-Arte.

Para "Dinheiro Vivo" Muniz resgatou cédulas de real que seriam descartadas pela Casa da Moeda e as picotou todinhas. A partir disso, recriou em colagens os animais que estampam as notas.

Obra de Vik Muniz - Divulgação

Muniz recriou obras de outros artistas com colagens, caso do pintor alemão Johann Moritz Rugendas, conhecido pelas paisagens naturais do Brasil, com cinco peças reproduzidas na mostra. Mesmo trabalhando com uma paleta de cores mais complexa, o artista se manteve fiel ao método. Ele usou, por exemplo, o número 20 da nota para compor os trechos em verde.

As peças foram fotografadas, ampliadas e expostas em imensos quadros. É como se o artista estivesse convidando o público a deixar o receio de lado e se aproximar das telas para apreciar as obras de perto.

"O dinheiro é um material carregado de significado. Mesmo quando você o tritura, sabe que tem uma uma memória tátil dele. É um meio de se comunicar com o mundo todo, uma espécie de mídia", diz em entrevista por videoconferência, de seu estúdio em Nova York. "Eu nunca tive muito dinheiro. Nunca me faltou o essencial, mas eu não tinha o que queria."

Se "Dinheiro Vivo" remete ao passado de Muniz como um menino pobre vindo da periferia da capital paulista, "Gibi", uma instalação de 26 metros quadrados, remete ao período por outros motivos.

Quando criança, ele diz, via as bancas de jornais como janelas de acesso ao mundo. O fascínio por histórias em quadrinhos, sustentado desde a infância, em que ele lia histórias da "Turma da Mônica" e do "Tio Patinhas", agora se desdobra na segunda mostra.

Também com colagens, ele recriou cenas da Disney, a convite da própria empresa, para comemorar os cem anos dela. Desta vez, ele usou páginas picotadas das revistinhas, publicadas ao redor do mundo em diversos idiomas.

O fato de Walt Disney ter circulado entre os ambientes eruditos e populares da arte lembra a obra de Muniz.

"Nos anos 1920, quando o mundo ainda passava por uma realidade muito dura após a Primeira Guerra Mundial, faltava fantasia, havia muita intolerância e tristeza. E o Disney, nos escombros e chagas, fez cachorros, camundongos e patos falantes", diz.

Muniz nos lembra das possibilidades que o papel nos traz. "Ele é o último suporte físico da comunicação e está desaparecendo. A imagem não é mais impressa, é autônoma, a natureza agora é de distanciamento da realidade", afirma. "Elas não dependem mais do físico para serem imagens."

Vik Muniz

19ª SP-Arte

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