SP-Arte abre sua 19ª edição em clima de euforia com retorno de Lula ao poder

Diretora da feira de arte em São Paulo diz que interesse de estrangeiros pelo Brasil cresce com mudança de governo

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Paulo Pasta, 'Fastelavn' (2023)

Detalhe de pintura de Paulo Pasta, artista representado pela galeria Millan, que está na SP-Arte Ana Pigosso

São Paulo

Enfim, o velho normal está de volta. Nestes dias que antecedem a SP-Arte, dezenas de galerias e os principais museus paulistanos abrem mostras por toda a cidade, e já não há espaço na agenda para mais uma festa, jantar, brunch ou coquetel em torno deste ou daquele nome badalado no circuito.

A 19ª edição da feira paulistana, que ocupa o pavilhão da Bienal de São Paulo a partir desta quarta-feira com cem galerias de arte e 45 de design, é a primeira desde o início da pandemia sobre a qual não parece haver nem sombra de coronavírus.

Obra de Vik Muniz na SP-Arte
Obra de Vik Muniz exposta na galeria Nara Roesler, na SP-Arte - Divulgação

O clima entre o público, galeristas, artistas e colecionadores lembra esta mesma época em 2019 —há um misto de expectativa com ansiedade no ar. Mas não necessariamente porque a pandemia ficou para trás.

"A conjuntura do país está diferente pós-eleições. Do ponto de vista da receptividade da feira no exterior, a gente teve uma receptividade maior —as galerias e o público querendo vir, entendendo que o Brasil está voltando a uma pauta positiva, a pautas que são importantes para o mundo", afirma Fernanda Feitosa, a diretora da SP-Arte. "Isso para a gente faz uma diferença de atmosfera."

"Toda a situação nos últimos anos acabou jogando uma sombra mais escura sobre o Brasil", acrescenta.

Se o retorno de Lula ao poder favorece a feira num panorama macro, ao melhorar a imagem do Brasil lá fora, fatores específicos do mundo da arte também contam.

Feitosa lembra que o país voltou a ganhar projeção internacional com a indicação de Adriano Pedrosa, diretor artístico do Masp, ao posto de diretor artístico da próxima Bienal de Veneza, a principal mostra de arte contemporânea do mundo. Ela lembra ainda o fato de algumas exposições do Museu de Arte de São Paulo estarem circulando pelos Estados Unidos.

Em termos numéricos, esta SP-Arte está um pouco maior do que a do ano passado, quando havia 133 galerias de arte e design. Há 15 galerias estrangeiras —em relação a nove de 2022—, dentre as quais as francesas Maât e Nil, que representam só artistas africanos e fazem sua primeira participação na feira.

Do Brasil, há o tradicional mix de casas poderosas como A Gentil Carioca, Luisa Strina, Gomide & Co, Mendes Wood DM, Fortes, D'Aloia & Gabriel e Vermelho, com outras menores, como Mitre, Central, Asfalto e Verve.

Pintura a óleo de Nilda Neves, artista da Central galeria
Pintura a óleo de Nilda Neves, artista da galeria Central - Bruno Leão

Vale notar o crescimento do setor de design, que recebe marchands de mobiliário e objetos e pulou de 32 estandes no ano passado para 45. Feitosa atribui o aumento ao boca a boca positivo entre os designers e à mudança dessas galerias para o térreo do pavilhão no ano passado, uma área com circulação maior de pessoas do que o terceiro andar, onde elas ficavam anteriormente.

Teo Vilela Gomes, da galeria Teo, diz que a feira ajuda a equiparar design com obra de arte e que as turmas de um mundo e de outro não estão mais tão distantes como antes. Sua galeria vai mostrar uma seleção de móveis desenvolvidos por artesãos do Liceu de Artes e Ofícios entre as décadas de 1930 e 1980, a prévia de uma exposição a ser inaugurada em abril com mais peças da escola paulistana.

Ainda no quesito móveis do passado que despertam desejo, a Etel vai levar uma mesa lateral de 1930 do modernista Gregori Warchavchik e também exemplares de uma reedição da poltrona Baixíssima, de Oscar Niemeyer.

Dos contemporâneos, Alex Rocca mostra uma série de tapeçarias feitas com sedas descartadas, e o Estúdio Guto Requena exibe sua série de vasos modelados no computador a partir da gravação de causos contados pela avó do designer.

Quem se detiver nas galerias de arte vai encontrar obras monumentais, a exemplo de um penetrável de seis metros de comprimento do venezuelano Jesús Rafael Soto, expoente da arte cinética representado pela Dan, e de um portal de Tunga de quase dois metros de altura no estande da Millan, trabalho na categoria dos mais caros da feira, avaliado em R$ 1,5 milhão.

Já a Nara Roesler exibe uma grande instalação de Lucia Koch, uma espécie de cortina com tecido impresso em degradê, o desdobramento de um trabalho que a brasileira mostrou em Paris.

Daniel Roesler, um dos sócios da galeria, concorda com a diretora da feira e diz que tem sentido, na filial deles em Nova York, o aumento da curiosidade do mundo pelo Brasil depois da eleição de Lula. Ele afirma que nem o cenário turbulento econômico, com a recente quebradeira de bancos nos Estados Unidos e os juros altos no Brasil, deve arrefecer o interesse externo pela arte local.

Neste ano, pela primeira vez desde a pandemia, a SP-Arte convidou 70 colecionadores e outros VIPs da Europa, dos Estados Unidos e da América Latina para uma agenda de visitas a exposições e ateliês em São Paulo nesta semana, com a ideia de que eles espalhem a palavra da arte do Brasil no exterior.

Acrílica sobre tela de Francesca Wade, artista da Gisela Projects
Acrílica sobre tela de Francesca Wade, artista da Gisela Projects - Divulgação Gisela Projects

O público também deve esperar, como é praxe, ver na feira obras de nomes em alta no circuito. Neste ano, o bastão está com os artistas indígenas.

A Fortes D'Aloia & Gabriel mostra monotipias do yanomami Sheroanawe Hakihiiwe, exposto na Bienal de Veneza do ano passado, com preços que começam em R$ 26 mil. A Central vai pendurar nas paredes pinturas da macuxi Carmézia Emiliano, que tem mostra no Masp agora, com valor na casa dos R$ 60 mil por tela. Já Daiara Tukano, que esteve na última Bienal de São Paulo, marca presença pela Millan, com obras entre os R$ 120 mil e os R$ 350 mil.

A SP-Arte abre o calendário de feiras no país neste ano, mas a agenda deve ser mais enxuta, dado que a ArtSampa sumiu do mapa após uma única edição.

Gisela Gueiros, galerista brasileira radicada em Nova York que estreia agora na feira com pinturas do jovem Gabriel Botta, diz que é diferente mostrar na SP-Arte e em eventos que só tiveram uma edição, como a ArtSampa e a ArPa.

"A SP-Arte é uma máquina que já está muito lubrificada. O custo [para os expositores] é mais caro, mas você sabe onde está se metendo."

19ª SP-Arte

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.