O Museu da Casa Brasileira (MCB), o único do país dedicado à arquitetura e ao design, terá como nova sede a Casa Modernista, localizada na Vila Mariana, bairro da zona sul de São Paulo. A previsão é que ele seja reaberto ao público em 2025.
A instituição deixará no fim deste mês o endereço que ocupa há mais de 50 anos, o solar Crespi Prado, um casarão em estilo neoclássico localizado na avenida Brigadeiro Faria Lima, na zona oeste da capital paulista.
A mudança acontece após o fim do convênio entre a Fundação Padre Anchieta (FPA), dona do imóvel e então administradora do museu, e o governo de São Paulo, ao qual o MCB pertence. O rompimento do contrato, que valia até 2026, foi anunciado na última sexta-feira, dia 31.
Secretária da Cultura, Economia e Indústria Criativa, Marilia Marton diz que o espaço será restaurado para receber o museu, cujo acervo conta com móveis, objetos de design e quadros de artistas como Candido Portinari e Di Cavalcanti.
A mudança custará cerca de R$ 25 milhões, valor que deve vir de patrocinadores que estejam dispostos a ajudar o museu, numa espécie de mecenato, e de recursos captados via Lei Rouanet.
A Casa Modernista é uma joia da arquitetura paulistana e, como o nome indica, um símbolo do modernismo, por ser considerado o primeiro imóvel construído neste estilo no Brasil, no final da década de 1920. O imóvel sedia exposições eventualmente, mas em geral estas mostras têm pouca relevância no panorama artístico.
A nova função da casa projetada por Gregori Warchavchik —cuja chegada ao Brasil da Ucrânia completa 100 anos em 2023— pode também lhe trazer mais público, tirando dela o aspecto de abandono no qual se encontra. Em 2022, a Casa Modernista recebeu 9.246 visitantes, uma média de 25 por dia, segundo a Secretaria Municipal de Cultura.
Fora isso, há o simbolismo de abrigar um acervo de design na casa de um arquiteto que também era designer, antes mesmo de o termo existir. Warchavchick, um dos pioneiros do móvel moderno brasileiro, desenhou mesas laterais e poltronas para a sua residência.
Outras peças criadas por ele, como o carrinho de chá que leva seu nome, se tornaram clássicos do móvel brasileiro e são vendidas até hoje, em novas edições, por dezenas de milhares de reais.
A secretária não detalhou o que levou ao rompimento do convênio com a Fundação Padre Anchieta, mas diz que um convênio não era o melhor arranjo jurídico para a instituição. Isso porque, diz ela, museus têm projetos de longa duração, enquanto um convênio têm prazo para acabar.
Ela diz acreditar que a mudança vai ser benéfica. "O museu estava muito tímido no casarão. A casa brasileira não é só a casa do cafeicultor. Ela é a casa do quilombola, do indígena e das pessoas que moram em favelas", diz a secretária à Folha ao citar o imóvel, doado por Renata Crespi em 1968, cinco anos após a morte de seu marido, Fábio da Silva Prado, ex-prefeito de São Paulo.
Enquanto a Casa Modernista não é restaurada, Marton diz que parte do acervo do Museu da Casa Brasileira deve ser exposto no Museu do Ipiranga.
Já o casarão onde o museu ficava será transformado num espaço cultural "que abraçará todos os tipos de arte", nas palavras da fundação, e seguirá aberto para receber exposições e eventos. O restaurante Capim Santo também continuará funcionando.
A Fundação Padre Anchieta já desejava há anos ocupar o solar Crespi Prado com outros projetos. Nos bastidores, circulou que "Castelo Rá-Tim-Bum" poderia ter até um museu dentro do casarão. A FPA diz que o seriado poderá ser tema de exposições temporárias no local, mas que está descartada a criação de um museu dedicado à obra.
Fato é que o programa, no entanto, pode aumentar exponencialmente a arrecadação da FPA com o casarão. Exposições que reconstruíram ambientes onde viviam personagens como Nino, uma criança de 300 anos, e a bruxa Morgana, sua tia-avó, fizeram sucesso sem precedentes na última década.
O Museu de Imagem e do Som, que abrigou a primeira montagem, recebeu 410 mil pessoas em seis meses, um recorde que é mantido até hoje e fez o MIS se tornar o museu mais visitado do estado de São Paulo em 2015.
O sucesso foi ainda maior na segunda montagem, que ficou em cartaz por 11 meses no Memorial da América Latina entre 2017 e 2018. Ao todo, foram 821 mil visitas, com ingresso vendido a R$ 20 —valor que subiu para R$ 48 no ano passado, quando a exposição voltou, ocupando o Santana Parque Shopping.
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