Descrição de chapéu
Netto Gasparini

Ser fã de 'Indiana Jones' é lutar para que ele não vire peça de museu

Conheci o filme pela TV, revejo os filmes todos os anos e até comprei chapéu para ser o único Indy numa festa à fantasia

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São Paulo

O que faz de mim um fã? Posso ter assistido a cada filme da trilogia "Indiana Jones" de dez a 15 vezes, conhecer algumas falas e trechos de cor, tocar a trilha sonora no piano, ter camisetas, canecas e filmes originais. Saber os "easter eggs" que existem entre a franquia e "Star Wars" também é importante, mantendo a tradição de assistir aos filmes pelo menos uma vez por ano, durante as férias.

Henry Walton Jones Junior, mais conhecido como Indiana Jones —Indy, para os íntimos—, quer se aposentar. Coincidentemente, "Relíquia do Destino" será lançado nesta quinta-feira, 29 de junho, dois dias antes do aniversário do personagem. Harrison Ford fará 81 anos no próximo dia 13 de julho, que também é o aniversário da minha mãe, dona Inês, que completará 75 anos.

Os primos Carlos Eduardo Valio (cafetão) e Netto Gasparini (Indiana Jones) em festa à fantasia, no bar Woolly Bully Classic Rock, em Vinhedo, interior de SP, em 2001
Os primos Carlos Eduardo Valio como cafetão e Netto Gasparini como Indiana Jones em festa à fantasia, no bar Woolly Bully Classic Rock, em Vinhedo, interior de SP, em 2001 - Acervo pessoal

Quando conheci "Indiana Jones" pelos canais de TV abertos durante os anos 1980 e 1990, fiquei fascinado com sua vestimenta única, diferente dos outros heróis. Naquela época, mal sabia o que um arqueólogo fazia. Tinha menos de dez anos quando vi Dr. Jones pela primeira vez. Foi num daqueles programas como "Temperatura Máxima" ou "Tela Quente", na Globo.

Meu irmão mais velho me avisou que dois dos maiores gênios do cinema, os tais Spielberg e George Lucas, seriam criadores daquele filme. A família toda assistiu, na sala de casa. Não podia perder por nada neste mundo. Não saberia quando teria outra oportunidade, bem diferente de hoje, com os serviços de streaming.

Mais tarde, os videocassetes se popularizaram. Quem podia trazer um aparelho do Paraguai conseguia assistir alugando as fitas. Eu só tive alguns anos depois, quando meu pai comprou um modelo de duas cabeças da Sharp. O controle era com fio.

Em 4 de março de 1992, no meu aniversário, foi lançada nos Estados Unidos a série "Crônicas do Jovem Indiana Jones". A Globo chegou a exibir, mas não consegui acompanhar na época, quando tinha 13 anos.

Nos primeiros anos da internet, coloquei novos papéis de parede em meu computador. Ícones, cursor do mouse, além do autêntico som dos socos. Meu Windows 3.11 era todo sobre o Dr. Jones.

Em 2001, 12 anos depois do lançamento de "A Última Cruzada", meu filme preferido, uma festa à fantasia me fez pensar em ir vestido como o aventureiro. A festa acontecia anualmente em um bar rockabilly. Eu emprestei uma calça marrom de um amigo e o chicote de outro. Mas e o chapéu?

Decidi ir até a fábrica de chapéus Cury, em Campinas, no interior de São Paulo, onde diziam ser a fabricante oficial do chapéu usado por Harrison Ford nos filmes. É verdade: o chapéu, assim como Deus, é brasileiro. O modelo do acessório inseparável do aventureiro foi desenhado nos Estados Unidos, mas foi confeccionado em grande escala no Brasil.

Quando cheguei à loja da fábrica, perguntei sobre o chapéu. Me olhei no espelho. O cone, onde se encaixa a cabeça, era muito alto. Achei ridículo em mim. Não usaria de jeito nenhum. Em Ford ficava perfeito, claro. Procurei outro modelo, com uma cor parecida, mas com o cone mais baixo. Comprei aquele. Hoje me arrependo. Poderia ter comprado os dois.

Já na festa à fantasia, vi heróis repetidos, como Homem-Aranha e Batman. Mas só havia um Indiana.

Ao contrário de "Star Wars", não é fácil encontrar fãs de Indiana Jones no Brasil. Até as lojas, onde há bonecos, quadros e canecas de vários personagens e heróis, é difícil encontrar algo de Indy. Talvez um chaveiro, um bonequinho. No Facebook, Telegram e Instagram, há poucos grupos brasileiros dedicados ao personagem. É uma lamentação da minha parte.

Quatro anos depois de "O Reino da Caveira de Cristal", George Lucas vende a LucasFilm —as franquias "Star Wars" e "Indiana Jones", incluindo livros e games— por US$ 4 bilhões para a Disney, o suficiente para se aposentar. Agora, temos o primeiro filme totalmente produzido pela Disney.

A linguagem e o tipo de cenas se manteve neste quinto longa-metragem. É o que mais gostei, ufa. O "indianajonês" —como chamo as típicas sequências de socos, caras, bocas e câmeras anguladas— é replicado também em animações e filmes recentes.

Em "Sonic 2", que minha filha adora, tivemos a famosa bola rolando atrás dos personagens, cópia da "Arca Perdida". É uma das cenas mais épicas do cinema. Fiquei emocionado ao ver em Sonic uma parte de Indy.

Tenho esperanças de que finalmente os souvenirs e as relíquias comecem a aparecer nas prateleiras. Será que a licença para uso da marca vai se popularizar, assim como aconteceu com "Star Wars"? Hoje é possível encontrar tudo na internet, mas não me lembro da última vez em que esbarrei em alguém no metrô usando uma camiseta com a silhueta do Jonezito.

Qual será o destino da franquia? De volta ao passado, com séries como em "Star Wars"? Ou avançando para o futuro, com o rosto de Ford novinho, reconstruído digitalmente, como ocorreu neste quinto filme e, ao que me parece, está em fase de teste?

De qualquer forma, Ford deve continuar estampado como Indy em nossas camisetas, capas de jornais e em nossos corações. Não devemos permitir que a frase mais usada pelo arqueólogo, "isso pertence a um museu", seja repetida se referindo a ele.

Designer gráfico da Folha

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