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Violência sexual é arma de destruição na guerra, diz Nadia Murad, Nobel da Paz

Em palestra no Fronteiras do Pensamento, em São Paulo, escritora fez um apelo pelas vítimas no Iraque e na Ucrânia

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São Paulo

"Mais de 2.000 mulheres e crianças ainda estão sob cativeiro do Estado Islâmico", afirmou Nadia Murad, vencedora do Nobel da Paz e sobrevivente do tráfico sexual perpetuado por terroristas no Iraque, na noite desta segunda-feira, em São Paulo, em palestra no Fronteiras do Pensamento.

"A maioria das mulheres e meninas escaparam sozinhas, como eu, mas para muitos yazidis essa história não acabou", disse ela, que tem uma sobrinha e amigas desaparecidas.

Retrato da ativista Nadia Murad
Retrato da ativista Nadia Murad - Joel Saget/AFP

Murad lamentou a falta de esforços internacionais para resgatar as vítimas. Segundo ela, na Ucrânia, cerca de 7.000 mulheres são vítimas de violência sexual devido à guerra. "A violência sexual não é um efeito colateral da guerra. Ela é uma arma usada para a destruição."

O Estado Islâmico invadiu a comunidade rural de Kocho, distrito de Sinjar, no norte do Iraque, em agosto de 2014. Homens foram assassinados —entre eles, seis irmãos da ativista—, e as mulheres, sequestradas. As que tinham mais que 45 anos foram separadas das mais jovens, entre elas a mãe de Murad, e mortas.

Murad foi levada pelos terroristas aos 21 anos. Ficou três meses em cativeiro, sofrendo violências físicas e estupros contínuos, o que os terroristas chamam de "jihad sexual".

Assim como as mulheres de seu território, a ativista pertence à minoria étnico-religiosa curda yazidi, considerada infiel pelo Estado Islâmico. Ela conseguiu fugir quando o terrorista que a mantinha aprisionada saiu para comprar roupas novas. Pouco depois, conseguiu asilo político na Alemanha.

Desde então, Murad se tornou ativista internacional na luta contra o uso da violência sexual como arma de guerra e o tráfico sexual de mulheres. Em 2017, lançou o livro "Que Eu Seja a Última: Minha História de Cárcere e Luta Contra o Estado Islâmico".

Apesar de a ONU ter reconhecido o genocídio contra os yzidis por parte do Estado Islâmico, poucos terroristas foram punidos. Ela conta que muitos membros presos no Iraque são europeus, mas seus países não os aceitam de volta para julgamento.

A ativista criticou o sistema jurídico iraquiano, que não considera o depoimento das sobreviventes e não possui um sistema de acolhimento adequando para as sobreviventes.

Murad afirmou que um grupo de mulheres foi resgatado recentemente através de sua iniciativa com a ONU. Elas, diz, tinham 9 anos quando foram raptadas pelo Estado Islâmico em 2014.

"O mundo seguiu em frente. Precisávamos de ajuda antes do genocídio, quando a desigualdade abria caminho para a violência. E ainda precisamos de ajuda para retornar à nossa terra e reconstruir a nossa casa", disse a Nobel da Paz.

A escritora Rosa Montero foi quem inaugurou o ciclo de palestras do Fronteiras do Pensamento, no final de maio. O evento segue até outubro com programação online e presencial nas cidades de São Paulo e Porto Alegre. Ele contará com nomes como David Eagleman e Michael Sandel.

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