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Como BTS foi de alvo de piada a fenômeno pop de fama internacional

Livro 'Beyond the Story' quebrou recordes de pré-venda com bastidores da boy band coreana e chega como presente a fãs

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São Paulo

Sete garotos de diferentes cantos da Coreia do Sul recém-saídos da escola tentam a chance em um grupo de hip-hop de uma gravadora pequena e viram um fenômeno global que ninguém poderia ter imaginado.

Essa é uma versão resumida da história do grupo de k-pop BTS, materializada em um novo livro que celebra uma década de estreia da boy band.

O grupo de k-pop BTS durante o 64º Grammy, em 2022, nos EUA
O grupo de k-pop BTS durante o 64º Grammy, em 2022, nos EUA - Angela Weiss/AFP

"Beyond the Story: Uma História dos 10 Anos de BTS", primeiro livro oficial do septeto pop sul-coreano, tem lançamento mundial neste domingo, dia 9, já batendo recorde —foi o maior faturamento em pré-venda da Amazon no Brasil.

Em mais de 500 páginas, o livro documenta desde a formação do grupo até o posto de ídolos mundiais. O BTS surgiu em junho de 2013, mas a narrativa começa antes disso, em 2010, quando os primeiros integrantes assinaram seus contratos.

Dividido em sete capítulos, o livro começa contando como os integrantes foram selecionados pela gravadora e dedica uma boa parte à época de trainee, quando os sete garotos se mudaram para um dormitório da empresa e dividiam um único quarto. "Tinha restos de comida na pia, roupa suja pelo chão, e todo mundo estava andando de cueca", J-Hope lembra em um dos trechos.

O integrante foi um dos primeiros a se juntar ao grupo que se tornaria o BTS, ao lado de RM, que já fazia rap, e a Suga, que trabalhava como compositor aos 17 anos. O trio de rappers moldaram a base do grupo, e o dormitório era um "antro do rap", segundo J-Hope.

Quando os vocalistas e dançarinos Jin, Jimin, V e Jungkook entraram para a gravadora, eles viram que o futuro BTS estava tomando outro rumo, dando mais foco a danças e performances. RM e Suga não imaginaram que precisariam aprender a dançar.

"De repente, a dança se tornou muito importante e começou a tomar muito tempo do nosso treinamento. Em alguns dias, dançávamos por 12 horas. Ensaiamos a mesma coreografia por dois meses", diz Jin.

A mudança de estilo fez parte da estratégia da Big Hit Entertainment, empresa desconhecida e "mais próxima de uma startup", segundo o autor. Seu fundador, o compositor Bang Si-hyuk, no entanto, era famoso no meio. Esta era a primeira vez que lançava uma boy band do zero em um mercado hipercompetitivo, e todas as chances pareciam ir contra o BTS desde o começo.

Meses antes de lançarem o BTS, a empresa investiu em um grupo feminino que foi um fracasso, ficou endividada e quase faliu. Com isso, havia uma pressão financeira muito maior para que o septeto trouxesse lucro.

Eles foram lançados com um nome esquisito (garotos à prova de balas, na tradução), viraram motivo de zombarias pela indústria e os primeiros comentários gerais diziam que não deviam durar muito. Grupos de outras empresas que debutaram na mesma época já haviam alcançado o sucesso. "As pessoas nos ignoravam e passavam reto", diz V. Um sucesso estrondoso parecia improvável.

Antes do lançamento, o BTS era um trio de rappers underground, que participavam desde o início na composição das letras, algo incomum nessa indústria e que não atraiu grande audiência na época. O estilo musical do grupo foi sendo calibrado e o septeto adotou uma imagem mais enérgica e amigável e passaram a falar de amor juvenil. Esse novo direcionamento foi o primeiro passo para a grande expansão do BTS.

Levaram ainda dois anos para que eles lançassem um single que fizesse sucesso e os colocasse no mapa do k-pop. E sete anos para que alcançassem o topo das paradas americanas —quando "Dynamite", em inglês, alcançou o topo da Billboard, em 2020.

Em entrevistas ao longo do livro, os garotos comentam as frustrações que tiveram nos primeiros anos após a estreia e a demora para alcançar algum sucesso. "Parecia que estávamos indo por água abaixo", disse J-Hope.

Falam ainda sobre dietas, ansiedade, treinamentos exaustivos, pressão para alcançar sucesso e até a ideia de terminarem o grupo. "Quase não tínhamos dia de folga", comenta Jin. "Todos nós queríamos dizer ‘vamos parar’, mas ninguém conseguia, de fato, falar isso", diz Suga.

Um dos capítulos é dedicado ao seu fã-clube, chamado Army, que foi o principal responsável por levar o grupo ao estrelato. Seis meses antes da estreia, eles investiram em angariar fãs por meio de vídeos e publicações caseiras, nas quais mostravam seu dia a dia sem filtros.

A estratégia de investir em plataformas digitais numa época em que o k-pop não tinha tanto espaço fora da Ásia, foi um plano da empresa que funcionou para conquistar uma base sólida de fãs.

Essa narrativa de escanteados pela indústria acabou sendo um dos trunfos do BTS, em especial para os fãs internacionais. Foi a partir de 2017, com hits como "DNA", que o BTS começou a estrear de forma tímida nas paradas dos Estados Unidos. A partir daí, a empresa passou a investir no marketing internacional.

O sucesso explosivo do grupo foi além das previsões iniciais de seu fundador. "Não foi nossa intenção crescer tanto", diz Suga. O sucesso do grupo veio junto ao da empresa, hoje rebatizada de Hybe Entertainment, que com apenas um artista cresceu a ponto de se tornar uma das principais empresas do pop sul-coreano.

Hoje, o grupo chegou a um ponto em que qualquer próximo lançamento causa frisson. Os capítulos finais se dedicam ao sucesso mais recente, às turnês mundiais em estádios, à pandemia e às conquistas de indicações ao Grammy.

BTS se apresenta na cerimônia do Grammy, em 2022, nos EUA
BTS se apresenta na cerimônia do Grammy, em 2022, nos EUA - Rich Fury/AFP

Escrito pelo jornalista Kang Myeong-seok, o livro conta os bastidores da ascensão do septeto de forma menos afetada. Consegue aprofundar a história só até certo ponto —alguns assuntos sensíveis são abordados, mas brevemente.

Em dois momentos distintos, Suga fala que bebia até depois de já estar bêbado —o livro não explora se a bebida impactou seu trabalho. Afinal, a empresa ainda preza pela imagem "ficha limpa" do grupo e foge de escândalos.

Em meio às entrevistas, há fotos do grupo tiradas ao longo de seus dez anos –o que faz do livro um objeto colecionável, assim como os CDs. Códigos QR em meio às páginas servem de material de apoio e levam a clipes e vídeos de momentos citados nos trechos. Faltava um material oficial do tipo para os fãs.

Para eles, o livro extenso serve como um presente enquanto o grupo está em um hiato causado pelo alistamento obrigatório de alguns dos integrantes no Exército sul-coreano. Não à toa, ele sai no dia em que o fã-clube ganhou o nome Army —uma sigla que, em português, quer dizer "adoráveis representantes MCs da juventude". O livro não traz dicas de como será o futuro do BTS, porém. A previsão é que os sete retornem como grupo em 2025.

Para quem não é fã, a obra serve para entender um pouco de como funciona a máquina da indústria do k-pop. E mostrar que, apesar do sucesso inesperado do grupo, ele foi fruto de um planejamento de longa data.

Beyond the Story - Uma História dos 10 Anos de BTS

  • Quando Lançamento mundial neste domingo (9)
  • Preço R$ 159,90 (527 págs.)
  • Autoria Myeongseok Kang e BTS
  • Editora Galera Record
  • Tradução Luara França
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