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BTS não deixa fãs órfãos, mas pausa pode frear expansão do k-pop

Embora haja outras bandas de sucesso, grupo sul-coreano furou a bolha do gênero e entrou no mainstream

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Fernanda Reis

Jornalista e ex-repórter da Folha

Quando os membros da banda coreana BTS disseram na última semana que anunciariam algo grande, os fãs mais otimistas especularam nas redes sociais sobre a possibilidade de a notícia ser uma turnê mundial.

Parecia o caminho natural para uma banda que, desde a sua estreia, em 2013, só tirou férias duas vezes. Nos últimos dois anos, em especial, o septeto pisou no acelerador e se tornou não apenas a maior banda de k-pop —o pop coreano— da história como dominou o cenário pop mundial.

O grupo coreano BTS se apresenta no Estádio Olímpico de Seoul - Bighit Music/AFP

Desde 2020, foram seis canções no topo da Billboard, três discos, duas indicações ao Grammy —feito inédito para a música coreana—, discursos na ONU, a Organização das Nações Unidas, e até uma visita à Casa Branca.

Talvez por lançarem músicas com tanta frequência –como comparação, os últimos discos de Rihanna e Beyoncé são de 2016–, o anúncio de que entrariam num hiato pegou o público de surpresa.

Uma parada, no entanto, parece normal diante da justificativa: exaustão. Em qualquer lugar do mundo, há uma indústria por trás da música pop, mas o k-pop é um negócio à parte.

Aspirantes a "idols", como são chamados esses artistas, em geral são selecionados por agências na adolescência e se tornam trainees. Passam, então, a morar em dormitórios coletivos e têm um regime longo e intensivo de aulas de dança e canto, com avaliações constantes.

O primeiro integrante do BTS, RM, ingressou em uma dessas companhias aos 16 e treinou por três anos. O treinamento é descrito pelos artistas como difícil. Os quartos são apertados, a dieta é rígida, o dinheiro é curto e as regras são muitas. Se tudo der certo, há o "début", a apresentação oficial ao mundo.

A estreia é, porém, só a primeira etapa de uma maratona. Nos nove anos de carreira, o BTS produziu sem parar. Foram cinco turnês, quatro filmes, 156 episódios de um programa de variedades, quatro temporadas de um reality de turismo e incontáveis lives.

"O problema da indústria do k-pop é que ela não dá tempo para você amadurecer. Você tem que continuar produzindo e fazendo coisas", disse RM no anúncio. Suga acrescentou que, no início, tinha muito a dizer, mas era difícil traduzir isso em música. Agora, é o contrário: os assuntos secaram. Eles querem um tempo para ficarem sozinhos e descobrirem quem são pessoal e profissionalmente.

Muitas incertezas rondam esse tempo. A começar pela duração, já que a própria empresa por trás do BTS, Hybe, declarou que não se trata bem de uma interrupção do trabalho, e sim de um momento para eles trabalharem em projetos solo e que ainda haverá atividades em grupo.

Há ainda a questão do alistamento. Todo coreano deve cumprir 18 meses de serviço militar até os 28 anos. Quando Jin, o mais velho, chegou à idade, uma lei foi aprovada para que alguns popstars conseguissem adiar até o dever os 30, marca que ele atinge em dezembro.

Existe uma discussão para que a banda cumpra o dever cívico de outra forma, já que, como os artistas que mais venderam no último ano segundo a Federação Internacional da Indústria Fonográfica, contribuem para disseminar a cultura coreana mundo afora. No entanto, nada está definido.

O que é certo é que J-Hope dará início à programação solo e, em julho, será o primeiro coreano headliner do Lollapalooza americano. Ele e os outros membros —Jin, Jungkook, Suga, Jimin, V e RM— já estão trabalhando em álbuns próprios.

É cedo para dizer que tipo de caminho cada um seguirá. O rapper Suga quer explorar outros gêneros; V está aprendendo a tocar saxofone e já soltou trechos de composições com um pé no jazz; RM contou que suas músicas são bem diferentes umas das outras.

Hiatos são sensíveis para fãs de boybands —o One Direction está oficialmente dando um tempo desde 2015, por exemplo—, mas o BTS não parece ter um membro com ganas de tentar dominar sozinho o mercado americano. Com base no que disseram e fizeram até aqui, podemos esperar colaborações com outros artistas, gêneros variados e letras mais em coreano do que inglês.

Donos de uma base de fãs ardorosa, a Army —que tem metas ambiciosas para cada lançamento e já esgotou até estoques de kombucha quando o Jungkook disse que gostava da bebida—, as carreiras solo devem continuar colecionando números superlativos na internet, onde a união faz a força.

Apesar do choque inicial, os fãs não ficarão órfãos. Para além do arquivo gigante de material antigo que a Hybe possui, serão sete carreiras que eles terão para impulsionar. V fará um reality com amigos, Jungkook fez uma live solo um dia após o anúncio, e no Twitter os fãs já se movimentam para dar força à estreia de J-Hope.

Para o k-pop, porém, a pausa pode ser um obstáculo maior. Embora haja outras bandas de sucesso, o BTS furou a bolha do gênero e entrou no mainstream. Mesmo assim, tem dificuldades em tocar nas rádios americanas e fica de fora das categorias principais do Grammy. Sozinhos, deve ser ainda mais difícil ultrapassar essas barreiras e não há um novo BTS se formando no horizonte.

Eles garantem, contudo, que não há motivo para preocupação. Na música "Run BTS", lançada neste mês, um verso diz que a razão para o sucesso do BTS é que eles correm muito, sempre em frente. Foi a única canção do disco novo que ainda não cantaram ao vivo. Segundo RM, esse dia virá —fica para o próximo show.

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