Descrição de chapéu Financial Times

Entenda por que o ator Ryan Reynolds, antes herói da Marvel, está no LinkedIn

Celebridades estão recorrendo ao site profissional, ao lado dos falsos modestos e dos chamados pensadores líderes

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Emma Jacobs
Financial Times

Antes de se aventurar no mundo do futebol, virando coproprietário do Wrexham Football Club, Ryan Reynolds era conhecido sobretudo como ator de cinema que representou Deadpool na franquia inspirada pelo anti-herói da Marvel e como protagonista de filmes como "Free Guy" e "O Projeto Adam".

No LinkedIn, Reynolds se despe do brilho de sua experiência como ator e se descreve simplesmente como alguém que possui "histórico profissional comprovado" e que "produz resultados consistentes", utilizando a linguagem normalmente empregada na rede de networking profissional por alguém como um gerente regional de vendas.

Homem branco de cabelo curto escuro, barba e óculos de aro grosso acena
O ator Ryan Reynolds, dono do time britânico Wrexham - Oli Scarff/AFP

O perfil do ator, que tem mais de 2 milhões de seguidores, também identifica suas habilidades como sendo: "escrever, reescrever, tuitar, preparar coquetéis, trabalhar com a engenharia de plataformas de software e assistir a partidas de futebol galês de times pequenos. A competência varia de excelente a terrível".

Reynolds está longe de ser a única celebridade a postar um perfil na maior plataforma para "líderes do pensamento" (alguém definido pelo Urban Dictionary como "idiota autodenominado que fala sem parar e se acha especialista no assunto").

Mindy Kaling, que em sua seção de homenagens e prêmios faz questão de incluir o prêmio Tony que recebeu em 2022 pelo musical "A Strange Loop".

Coitadinha da Jennifer Lopez, cantora e atriz cujo perfil no LinkedIn traz uma única menção a seu talento nessa área –o que é um pouco cruel com a estrela do sensual "Irresistível Paixão" e de "As Golpistas", pelo qual foi indicada ao Globo de Ouro.

Duvido muito que Jenny from the Block fique acordada até tarde da noite depois de um dia de trabalho, atualizando sua experiência profissional no LinkedIn. Há uma equipe para isso.

Mas, mesmo assim, parece bizarro que celebridades que reluzem com o pozinho de estrelas queiram colocar-se ao lado de profissionais de colarinho branco no site que abriga alguns dos posts mais constrangedores da mídia social.

Estamos falando de um site que é ridicularizado com frequência pelos relatos feitos por fanfarrões sobre suas rotinas matinais, seus supercarros e seus relógios de luxo.

O LinkedIn tem feito um esforço para atrair brilho com seus carimbos de "top voices", ou vozes mais importantes (categoria que também abrange empreendedores convencionais e ativistas sociais). Alguns são convidados; outros já têm uma presença na plataforma.

O Instagram e o Twitter têm tradicionalmente sido plataformas mais próprias para celebridades, oferecendo a atores, popstars e músicos uma oportunidade de divulgar seu próximo trabalho.

As contas de mídia social são cada vez mais imprescindíveis para essas figuras, diz Mark Cowne, executivo-chefe da agência de talentos Kruger Cowne.

"Quando somos chamados para fechar acordos para a publicação de livros, a primeira coisa que a editora quer saber é quantos seguidores a pessoa tem nas redes sociais. É um critério para saber se a pessoa é mais popular que outros nomes. Não significa que seus seguidores vão comprar alguma coisa. Mas faz parte das métricas."

Seria tentador enxergar a presença recente de celebridades no LinkedIn como uma decorrência do declínio do Twitter. Mas a chegada dessas figuras ao LinkedIn começou antes de Elon Musk adquirir o Twitter e foi motivada pelo ingresso das celebridades em outros negócios.

Daniel Roth, editor chefe da plataforma, diz que nos últimos cinco anos houve um aumento de 37% de atletas profissionais que abrem perfis no LinkedIn para mostrar-se "sob uma luz que o público não está acostumado a vê-los".

O futebolista americano Amobi Okugo compartilha conselhos financeiros através de seu site Frugal Athlete. Raphael Varane joga no Manchester United e é investidor da Kobi, que leva o esporte para o local de trabalho.

No LinkedIn, diz Roth, "atletas profissionais têm a chance de falar de coisas não relacionadas à sua performance em campo. São tratados como pensadores empresariais, algo que adoram".

Celebridades como Gwyneth Paltrow, Jessica Alba e Karlie Kloss estão usando a plataforma para seus negócios, levando as pessoas para os bastidores de novos projetos, divulgando seus negócios para potenciais sócios, investidores e consumidores.

Paltrow se posiciona como líder de uma startup que "empodera mulheres ... [que são] multifacetadas, complicadas e ocupadas e são capazes de cuidar da família e do trabalho simultaneamente".

A maior parte do perfil de Ryan Reynolds é dedicada a seu empreendedorismo serial, que inclui a empresa de gim que ele vendeu à Diageo e sua propriedade parcial da Mint Mobile, empresa de telefonia adquirida pela T-Mobile.

Muitas das contas são evidentemente falsas, como a de Cristiano Ronaldo baseado em Kirkcaldy, Escócia, que identifica seu empregador como o Real Madrid, time de futebol do qual o Cristiano Ronaldo real saiu há cinco anos.

Espero que o ex-capitão do Arsenal Per Mertesacker seja legítimo. Seu perfil destaca suas "habilidades excelentes de liderança como figura sênior no clube", que o fizeram ser responsável "pelas penalidades estritas do clube pelo comportamento de jogadores", tendo certa vez multado "Nacho Monreal em £10 mil por usar poncho num dia de jogo".

Talvez a presença de astros e estrelas no LinkedIn represente a nova mundanidade da cultura das celebridades.

Mark Borkowski, um agente de relações públicas, comenta que "nos anos 1960, astros como Richard Burton eram conhecidos por sua personalidade carismática e frequentemente rebelde. Eram ícones culturais que adotavam um estilo de vida mais turbulento e bombástico. As celebridades de hoje são diferentes, elas se movimentam em terreno mais seguro. O mundo virou corporativo".

Em matéria de plataformas sociais, o LinkedIn é um terreno para lá de seguro.

Jenna Drenten, professora adjunta de marketing na Quinlan School of Business, em Chicago, observou que uma peculiaridade de nossos tempos é que, com as redes sociais tendo reduzido a distância que separa celebridades de pessoas comuns, "as celebridades se tornaram mais comuns, enquanto as chamadas pessoas comuns ficaram mais glamourosas". Influenciadores podem ficar famosos por divulgar um estilo de vida no Instagram.

Mesmo assim, o LinkedIn, com seus falsos modestos e seus fanfarrões declarados, não vai conquistar a adesão de todos.

Perguntei a um amigo que trabalha com astros dos esportes se ele os aconselharia a terem um perfil no LinkedIn. Sua resposta foi incisiva: "Odeio o LinkedIn furiosamente". Ou seja –não.

Tradução de Clara Allain

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.