Festival de performance homenageia o Nordeste do Brasil em sua 17ª edição

Mostra Verbo celebra diversidade e, pela primeira vez, apresentações acontecem em duas capitais fora de São Paulo

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Matheus Lopes Quirino
São Paulo

Quatro figuras adornadas dos pés às cabeças, com vestidos de caudas longas e címbalos em riste, agrupam-se em uma pequena ruela de paralelepípedos, em frente ao Chão, centro cultural de São Luís (MA). Como em uma procissão, os artistas prendem a atenção dos espectadores, que os seguem até a parte interna do espaço, onde pratos rebimbam e a apresentação se alonga por quatro atos, num número que "Traz a magia de tudo que é concreto e se assenta na camada externa da assimilação", diz o coletivo No Barraco da Constância tem!, um dos destaques na 17ª edição d Verbo, o maior festival de performance da América do Sul.

Com 30 ações de artistas nacionais e estrangeiros, a Verbo deste ano chega a três capitais brasileiras. Além de São Paulo, berço da mostra criada em 2005, a cidade de Fortaleza (CE) recebeu pela primeira vez o evento, realizado desde 2018 em São Luís (MA). Com performances, oficinas e uma programação com filmes, dezenas de artistas mostram o resultado de seus processos, como o carioca André Vargas e o suíço Boris Nikitin, alguns dos nomes previstos para o encerramento da mostra de 2023 em São Paulo, que acontece entre os dias 9 e 11 de agosto na galeria Vermelho, onde Verbo nasceu há quase 20 anos.

Performance 'No Barraco da Constância Tem'
Performance 'No Barraco da Constância Tem' - Breno de Lacerda/Divulgação

"Essa vontade de ir para o Nordeste sempre foi latente", conta Marcos Gallon, um dos fundadores da Verbo. Embora cada cidade tenha uma programação própria, ele ressalta que começar este ano pelo Nordeste foi uma forma de apontar a importância da cultura da região. Como exemplo, Gallon ressalta a transversalidade do coletivo No Barraco da Constância tem!, único a se apresentar nas três cidades com a performance "A".

Um dos pontos fortes apontados pelo diretor artístico que, há 5 anos, passou a trabalhar com a curadora Samantha Moreira, de São Luís, foi estabelecer um vínculo com a cena local de performance da capital maranhense. Para contemplar a região nordeste, somou-se à dupla Carolina Vieira, da Pinacoteca do Ceará.

"Fortaleza tem uma história ligada à dança contemporânea que é bastante longeva, por isso, foi importante a parceria com a Pinacoteca. Alguns artistas [da cena de Fortaleza] foram muito importantes para essa edição, um deles é Pablo Assumpção, professor de performance na Universidade Federal do Ceará."

Com nomes de brasileiros, como Guilherme Peters, Julha Franz, e a mexicana Tania Candiani, na programação de São Paulo, Verbo firma-se como um festival questionador e transgressor ao trazer números que trabalham de forma menos literal com o tom político, que dominou as performances passadas.

"Até 2022, todos os projetos faziam uma crítica ao sistema político, social e econômico dentro de um contexto brasileiro. Mas, nessa seleção, percebemos que os projetos têm características mais universais. Ou seja, a gente deixa de falar só daquilo que acontece no Brasil e se conecta com discussões que estão acontecendo no mundo inteiro, como as questões das identidades, tanto dos povos originários quanto às questões LGBTQIA+", diz Gallon.

Em Coro de Vozes não Humanas, Candiani apresentará uma performance vocal onde um coral de mulheres imita sons que remetem à vigilância, defesa territorial e acasalamento. Multiartista baseada na Cidade do México, ela apresenta em suas obras questões chave do da representação da violência, algo que pode ser visto em alguns trabalhos performaticos e sonoros.

"Ao longo do tempo, houve uma mudança muito grande em termos no público", diz Gallon, que lembra o estranhamento inicial com a linguagem da performance, desmistificada ao longo do tempo.

"As pessoas são habituadas a ir a uma galeria e observar obras nas paredes. Hoje eu percebo que existe um público aparatado para ver performance, para a absorver a performance, e isso aconteceu nesses 19 anos da Verbo. Em termos institucionais, a performance passou a integrar a programação de museus e eu acho que a Verbo foi muito representativa nessa mudança, porque a gente começou a programar permanentemente essas ações, as instituições começaram a incorporar a performance."

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