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'Funk gringo' de Anitta ganha originalidade com DJ Gabriel do Borel

Cantora lançou duas faixas inéditas, 'Casi Casi' e 'Used to Be', como parte do pacote 'Funk Generation: A Favela Love Story'

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São Paulo

Anitta já tem pelo menos uma década em evidência para o público brasileiro, mas, de certa forma, é como se ela estivesse até hoje buscando uma estética para chamar de sua. Do pop americano ao pagodão baiano, do reggaeton ao sertanejo, ela já fez um pouco de tudo, com mais ou menos competência ao longo dos anos.

A Favela Love Story
Anitta em divulgação de 'A Favela Love Story' - Gabriela Schimdt

"Funk Generation", seu novo projeto, iniciado com o single "Funk Rave" e que ganhou duas músicas inéditas nesta quinta (17), vem depois de um ano em que a brasileira desabrochou para o mundo. Mas agora ela está deliberadamente disposta a incorporar um pouco mais da estética de seu país através do funk.

"A Favela Love Story", pacote recém-lançado com três músicas, não tenta reimaginar o gênero, mas busca elementos que marcaram sua história. Assim como "Funk Rave", ainda é funk para gringo ouvir, mas agora gradativamente um pouco mais alinhado com a maneira que o ritmo é feito e consumido no Brasil.

"Casi Casi", segunda da trilogia, já começa com beat-boxes —o ritmo feito com a boca que é marca do ritmo brasileiro. No meio da música, Anitta canta dois versos em português como se estivesse rimando em cima de uma MPC, ou midi production center, tocada ao vivo num baile no Rio de Janeiro.

Já "Used to Be" remete ao funk melody, a vertente romântica do gênero, de gente como Claudinho & Buchecha. O piano e a batida, que evocam o estilo tamborzão, são puro anos 2000, uma versão hi-tech do MC Marcinho com graves eletrônicos modernos e sons de cama se mexendo.

No último ano, Anitta não virou exatamente a nova sensação do pop global, mas alcançou feitos raros nos Estados Unidos —em especial, cantou em festivais como o Coachella e talk shows americanos e foi indicada a uma das quatro categorias principais do último Grammy. Foi um resultado do trabalho em "Versions of Me", seu disco do ano passado, em que ela se divide entre um pop americanizado e um reggaeton mirando públicos latinos.

Agora com um público americano e europeu, além do latino —grande maioria de seus fãs—, Anitta segue cantando em inglês e espanhol, encaixando um verso em português aqui ou ali. O tratamento final das canções, além das melodias vocais e os refrões, são todos pensados para soar familiar a quem escuta música pop ao redor do mundo.

É aí que Anitta se encontra numa sinuca de bico. No afã de agradar plateias tão distintas, sua sonoridade com frequência abre mão do que poderia ser autêntico para cair no campo do genérico. O sexo e o desejo, seus temas mais frequentes, são quase universais, mas também podem soar repetitivos em sua obra.

Nesse contexto, o DJ Gabriel do Borel é um sopro de autenticidade, produtor principal das três faixas do pacote. Com exceção de "Funk Rave", que fica entre o gênero brasileiro e o EDM (electronic dance music) americano e é coproduzida por Diplo, ele consegue fugir da caricatura ao fragmentar, diluir e reagrupar elementos constituintes do funk que se ouve no Brasil.

Se fizerem sucesso lá fora, como é o plano de Anitta, "Casi Casi" e "Used to Be" vão apresentar para muita gente, em uma roupagem pop, sonoridades que já são conhecidas dos ouvidos brasileiros. Elas também podem representar um feito cada vez mais raro para a cantora —ser um hit no Brasil.

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