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Anitta enfim entra de cabeça no funk exportação em 'Funk Rave'

Com produção de Gabriel do Borel, cantora insere ritmo brasileiro em pop cosmopolita no primeiro single de seu próximo álbum

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São Paulo

Não é de hoje que Anitta faz música pensando no sucesso para além das fronteiras do Brasil. Também não é de hoje que ela aposta no funk como uma das vertentes estéticas de sua carreira —antes, quando começou no Rio de Janeiro, e também depois, em sucessos como "Vai, Malandra".

Mas Anitta talvez nunca tenha usado tão profundamente o ritmo numa música para consumo externo como em "Funk Rave", single que abre os trabalhos de seu próximo álbum —ainda sem título ou previsão de lançamento. A música chegou às plataformas de streaming na noite desta quinta-feira (22).

A cantora Anitta em imagem de 'Funk Rave', seu single
A cantora Anitta em imagem de 'Funk Rave', seu single - Divulgação

Com uma carreira de sucesso há pelo menos uma década no Brasil, a cantora foi mirando as plateias externas primeiro pelo reggaeton, inicialmente com parcerias com Maluma e J Blavin. O projeto "Check Mate", de 2017, com quatro clipes e músicas, foi um marco nesse sentido, com a funkeira "Vai, Malandra" estourando nacionalmente e "Downtown" na América Latina.

Mas especialmente a partir de "Girl From Rio", de dois anos atrás, a carioca mostra que quer entrar com mais força no mercado americano e também no europeu. A música usou um sample de "Garota de Ipanema", sinônimo de Brasil no exterior, e batidas suaves de um trap-pop no estilo de Ariana Grande.

"Versions of Me", lançado no ano passado, foi o trabalho que consolidou essa visão de trabalhar em três frentes —Brasil, América Latina e o norte global, com foco nos Estados Unidos. Mas havia uma certa desproporção.

O funk que marcou sua fama em seu país de origem ficou de lado em relação às músicas de pegada latina —a blockbuster "Envolver" é a mais marcante— e com cara de pop americano —"Boys Don't Cry" é a maior delas.

Todo esse processo, junto ao trabalho de sua imagem, fez Anitta ser conhecida nos Estados Unidos. Ela cantou no Coachella, ganhou perfil no New York Times e até concorreu a um Grammy em uma das quatro categorias principais. Mas o Brasil era uma bandeira mais levantada nos cenários de seu palco, entrevistas e posicionamento do que na sonoridade.

Nesse sentido, "Funk Rave" indica uma mudança de direção. Com produção do carioca DJ Gabriel do Borel, que já assinou música com a espanhola Rosalía e virou verso de Caetano Veloso, a batida eletrônica em do ritmo brasileiro surge em primeiro plano, enquanto Anitta canta em inglês, espanhol e até um versinho em português.

"Funk Rave" não soa como uma música que poderia tocar num baile funk de Rio de Janeiro ou de São Paulo, mas é uma construção de funk com elementos pop bem no estilo de Anitta. Não à toa, o produtor Diplo —que já trabalhou com a brasileira no hit "Sua Cara"— assina a produção com o DJ carioca.

Mais pesada e acelerada que as últimas músicas de Anitta, "Funk Rave" soa cosmopolita e urbana. Ela abre caminho para uma exploração mais ampla dos elementos da música brasileira nessa roupagem pop globalizada. Ela não mira o funk da batida do Miami bass, popular nos anos 1990 e 2000 no Brasil, mas os graves estourados e os médios eletrônicos do tipo estoura-tímpano que marcam o gênero atualmente.

"Que Rabão", com participação póstuma de MC Catra, além de Kevin o Chris e produção de Papatinho, foi o funk tipo exportação no qual Anitta apostou em "Versions of Me". Puxada por pianos que lembram o rap da Califórnia e remetendo a outro single da cantora, "Onda Diferente", a música se perdia num trap.

Desta vez, as batidas de funk desembocam num drop, uma sequência de batidas que vai crescendo e ficando mais frequente até o refrão —prática consagrada no EDM, o electronic dance music americano, há pelo menos uma década. Diplo é mestre nisso, e assim torna o funk mais palatável a um público acostumado com esse pop radiofônico.

Mas mais interessante que as qualidades musicais de "Funk Rave" é o que a música indica para o futuro. Anitta promete um disco em que busca suas raízes funkeiras, e se apoiar cada vez mais no ritmo brasileiro talvez seja o caminho natural e mais esperto para que a garota de Honório Gurgel entregue uma contribuição original ao pop global.

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