Descrição de chapéu The New York Times Moda

Não existem regras sobre não usar sutiã, mas questão ainda é tabu no trabalho

Crítica de moda explica regra por trás das transparências e quando é permitido abrir mão da peça íntima no cotidiano

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Vanessa Friedman
The New York Times

Pergunta: acho altamente incômodo usar sutiã, tanto no trabalho quanto no lazer. Ele esquenta e provoca coceira. Mas, quando olho em volta, parece que sou minoria. Quais são as regras para andar sem sutiã? Tudo bem mostrar meus mamilos ou isso é falta de educação?

A resposta: você não é a única que está vivendo um momento de resistência ao sutiã. Durante a pandemia, quando as regras de vestimenta foram para o espaço, o movimento antissutiã, que tem vindo à tona regularmente desde os anos 1960, voltou a ganhar força.

A atriz Florence Pugh, que causou polêmica em um desfile da Valentino em julho ao usar um vestido com transparências que exibiam seus mamilos - Henry Nicholls/AFP

Mesmo assim, quando se trata de usar sutiã ou não, especialmente quando estamos voltando a trabalhar em escritórios, há três questões envolvidas —a literal, a física e a sociocultural.

Para começar, literalmente não existem regras —ou seja, não há leis— que regem a roupa íntima feminina. As leis tratam de partes do corpo e do que pode ou não pode ser mostrado. No estado americano de Indiana, por exemplo, a indecência pública é proibida, e o estado a define em parte como "deixar o seio feminino exposto com menos que uma cobertura totalmente opaca de qualquer parte do mamilo".

Mas vários estados americanos, incluindo Nova York, Utah e Oklahoma, além de muitas cidades —entre elas Madison—, permitem que as mulheres façam topless em público, o que também significa ficar sem sutiã.

A coisa se complica um pouco mais quando falamos dos códigos de vestimenta dos locais de trabalho, diz Susan Scafidi, fundadora do Fashion Law Institute. Ela disse que a cidade de Nova York foi a primeira jurisdição a fazer questão da "neutralidade de gênero completa" —ou seja, um empregador "pode exigir que uma pessoa que se identifica como mulher use sutiã ou oculte os mamilos, mas apenas se a mesma regra se aplicar aos empregados homens".

Segundo Scafidi, as leis federais nos Estados Unidos "exigem a paridade de gênero dos códigos de vestimenta apenas no que diz respeito a encargos como custo". Ainda não foi discutido se sutiãs constituem um encargo financeiro adicional.

Agora chegamos à questão evidente, mas da qual ninguém quer falar. Afinal, abandonar o sutiã não envolve apenas uma mudança de hábitos ligados à lingerie. Diz respeito a normas de gênero, à realidade do corpo feminino, às disputas de poder, aos estereótipos sexuais e ao medo histórico ligado a tudo isso.

Ser confrontado com seios liberados é ser forçado a enfrentar preconceitos profundamente arraigados, e para muitas pessoas isso é perturbador e distrai a atenção, especialmente neste momento da história, quando o controle sobre o corpo feminino e sua finalidade reprodutiva voltou a se tornar uma questão política explosiva.

É claro que não é responsabilidade sua deixar outras pessoas à vontade ou as ajudar a refletir sobre seus sentimentos em relação a todas as questões acima. Mas, se você estiver trabalhando, também é verdade que a dinâmica de grupo tem importância e que você talvez não queira ter de passar parte do tempo com seus colegas sendo obrigada a discutir seus seios.

Pelo menos por enquanto, a escolha ainda é sua.

Tradução de Clara Allain

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