Descrição de chapéu
The Town

Palco eletrônico no The Town reflete descaso do poder público com cena

Embora tenha boa curadoria e estrutura, New Dance Order sofre com distância e efeitos da chuva no primeiro fim de semana

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

Inspirador e isolado. Se a ideia do palco New Dance Order era refletir a cena eletrônica de São Paulo, o objetivo foi alcançado com sucesso. Não só pela boa curadoria, mas também porque, assim como o poder público, a gestão do The Town pareceu não entender o valor do que tem em mãos.

Palco New Dance Order, do The Town, com apresentações de DJs brasileiros e internacionais
Palco New Dance Order, do The Town, com apresentações de DJs brasileiros e internacionais - Divulgação

Nos dois primeiros dias de festival, o palco recebeu nomes em ascensão da música eletrônica brasileira e nomes de peso da cena internacional. Entre os primeiros, todos despontam com vínculo maior ou menor com São Paulo, seja por sua origem ou por terem a cidade como estágio importante da carreira.

No sábado, o duo Tropkillaz e a festa Batekoo comemoraram seus anos de sucesso sob intensa chuva e batidas pesadas, atravessando trap de pista e funk mandelão. No domingo, o DJ Badsista e a alemã Ellen Allien passearam entre o hard groove e o techno de alto BPM pouco antes do ato final da noite, um set da festa Carlos Capslock com ares de rave.

A curadoria foi agraciada pelo palco mais interessante do festival em termos cenográficos. Como uma nave espacial, o New Dance Order incorporou nos detalhes a música que propõe sem apelar para as alegorias um tanto pastiche dos outros palcos do festival.

Além disso, o sistema de som correspondia ao que se espera de uma festa de música eletrônica desse porte. Quase uma dezena de módulos aterrados no chão, com destaque para os graves que batiam no peito.

Isso tudo, porém, foi subaproveitado. O público foi diminuto em boa parte do tempo. A longa distância do New Dance Order para as principais praças do festival era considerável. Soma-se um sem número de estandes de marcas que transformam o trajeto numa ida ao shopping.

A chuva de sábado, que colaborou para afastar o público, ainda fazia efeito no domingo. O chão seguia enlameado se comparado às outras áreas do festival, ainda que frequentadores de raves estejam acostumados com lama. Pouco foi feito para reduzir os danos no solo.

Esse encontro de potencial e descaso traduzia com excelência a relação da cena da música eletrônica da cidade com o poder público. Uma das maiores cidades do mundo, São Paulo ainda não reconhece seus atores e agentes da cena eletrônica como partes integrantes da cultura da cidade como se vê em capitais como Berlim, que conta com um setor da secretaria de cultura voltado à vida noturna.

O Brasil hoje vive um boom de festivais de música eletrônica, rota certa para grifes internacionais de renome como o Time Warp e o Tomorrowland. Todos têm base na cidade de São Paulo. Isto é, público não falta ao reduto eletrônico do The Town.

Não por acaso Alok não foi escalado para o New Dance Order. No palco Skyline, o principal do evento, o DJ que incorpora o mais comercial da música eletrônica brasileira, não sem mérito, é um astro. No New Dance Order, ele seria um alienígena.

O palco continuará a postos para os próximos dias do festival e a curadoria segue no ponto, com a vinda de artistas internacionais como Kevin Saunderson e selos locais como a Gop Tun. Se é impossível mudar sua localização, que ao menos o trato com o chão seja melhor. Na música eletrônica é sabido que do underground surgem as melhores festas.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.