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Luís Faro Ramos

Premiação de Silviano Santiago estreita elos entre Brasil e Portugal

Entrega do Prêmio Camões marcou o estreitamento das relações entre os países, somada à visita de Lula à Lisboa

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Tive a enorme satisfação de entregar há dias, em representação do ministro da Cultura de Portugal e juntamente com a ministra da Cultura do Brasil, na belíssima Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, o diploma do Prêmio Camões referente ao ano de 2022 ao poeta, romancista, ficcionista, professor —melhor dito, o multiplicador— Silviano Santiago.

O crítico literário Silviano Santiago, vencedor do Prêmio Camões - Ricardo Borges/Folhapress

Foi uma cerimônia muito bonita e emotiva, na qual ouvimos eloquentes discursos da ministra da Cultura do Brasil, do presidente da Fundação Biblioteca Nacional, e sobretudo do homenageado do dia.

Silviano Santiago proferiu um discurso notável, mostrou que aos 87 anos de idade está porventura mais atento do que nunca à vida que o rodeia, e saudou, nas suas belas palavras, a distinção de que foi alvo.

"O intenso foco de luz camoniano realça, como se já tivesse chegado à condição de um todo, o trabalho do cidadão brasileiro e a sua entrega à educação, ao jornalismo cultural e à arte. Momentaneamente, eu, apologista da diferença desconstrutora, me reconheço indivisível e perco as contradições naturais de experiência existencial singular nos difíceis e complexos tempos que nos coube viver", disse.

Prêmio sem dúvida merecido, para um pensador com uma obra sólida e profunda que estudou, ensinou e escreveu sobre Camões. Recordo aqui o ensaio "Camões e Drummond – a máquina do mundo", que mereceu do poeta mineiro o trocadilho humorado de "Cammond e Drumões", em carta que escreveu na altura ao também mineiro Silviano Santiago a propósito do ensaio deste.

Nas palavras que então proferi, salientei que, neste ano, pusemos a escrita em dia. Entregamos três prêmios Camões – a Chico Buarque, galardoado em 2019, numa cerimônia em Lisboa em abril, a Paulina Chiziane, primeira mulher moçambicana e negra a ganhar o Prêmio em 2021, e agora a Silviano Santiago, por 2022. Iremos entregar no final deste mês o quarto Camões, referente a 2020, a título póstumo, à família do distinguido Vítor Aguiar e Silva.

Felizmente, Silviano Santiago não esperou tanto como Chico Buarque para receber o prêmio. Este ano ficará certamente na história dos prêmios Camões.

Acontece que 2023 marcou também o retomar do relacionamento entre Portugal e Brasil ao mais alto nível. O presidente da República português recebeu o seu homólogo brasileiro em visita de Estado. E realizou-se em Portugal a Cimeira Luso-Brasileira, com a presença, entre outros, do presidente Lula da Silva e da ministra Margareth Menezes. Não se realizavam Cimeiras entre os nossos países desde 2016 (!). O Brasil voltou, e como disse na altura o Primeiro-Ministro português, não o vamos deixar sair.

O Prêmio Camões de 2022 está muito bem entregue.

Está de parabéns Silviano Santiago, que continua a escrever e a interrogar-se sobre o mundo que o rodeia, e acaba de publicar um novo livro.

Está de parabéns a língua portuguesa, que se pensa e se escreve em todos os continentes e que cresce a cada dia que passa. Retomo a este propósito as palavras do ministro da Cultura de Portugal na cerimônia, saudando o regresso do Brasil a uma fraternidade comprometida com os países de língua portuguesa e a uma participação empenhada nesta comunidade.

E está de parabéns a cultura, que como tantas vezes acontece mostra o caminho.

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