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'Garra de Ferro' tentou Oscar para Zac Efron, mas teve sua tragédia familiar esnobada

Filme da A24, carregado de homoerotismo, na verdade é drama pesado inspirado em suposta maldição de um clã de lutadores

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Harris Dickinson em cena de "Garra de Ferro" Divulgação

São Paulo

A ideia de uma maldição que paira sobre os personagens de um filme mais parece adequada para um conto de fadas infantil, com suas princesas e bruxas, ou para um terror. Mas o temor de cair em danação move um dos filmes mais maduros e dramáticos da atual temporada de premiações de Hollywood. Ou quase isso.

"Garra de Ferro" bem que tentou, mas acabou esnobado pelo Oscar e por outras premiações, apesar de acumular menções entre as associações de críticos dos Estados Unidos. Ao filmar a história real e trágica da família de lutadores Von Erich, o longa joga com a ideia de que os seis filhos do clã estavam amaldiçoados.

Imagem de divulgação de "Garra de Ferro" - Divulgação

Ao menos é nisso que o protagonista Kevin von Erich, vivido por Zac Efron, acredita. Egresso da sensação musical infantojuvenil "High School Musical" e em busca recente por papéis mais densos, o ator era ventilado como um dos nomes mais fortes na tentativa de uma indicação ao Oscar deste ano.

Acabou esquecido, para o incômodo da crítica, que garantiu 89% de aprovação ao filme no Rotten Tomatoes, e também do público, que lhe deu 94% de notas positivas. Na internet, não faltam publicações raivosas sobre a ausência do galã na corrida.

"Não é porque eu fiz [o filme], mas é algo decepcionante quando se tem uma grande performance como a dele", disse o diretor Sean Durkin em entrevista ao portal americano GamesRadar+. Em entrevista a este jornal, cerca de um mês antes do anúncio dos indicados, ele fazia sua parte tentando pôr o nome de Efron sob os holofotes, elogiando o ator sem moderação.

"O Zac foi o primeiro ator escalado, a partir dele fomos procurar o resto do elenco, até porque eu queria muito trabalhar com ele. Para esse filme, ele tinha o que eu precisava –uma doçura, uma gentileza por trás daqueles músculos. Ele estava totalmente comprometido com o projeto", afirmou à reportagem em dezembro passado.

"Garra de Ferro" foi feito pela A24, produtora queridinha do momento, que emplacou dois longas no Oscar deste ano –"Zona de Interesse" e "Vidas Passadas"– e venceu o grande prêmio em 2023, com "Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo". Para o britânico The Guardian, a tragédia familiar pereceu pelo timing impreciso, com um lançamento que, apesar de aplaudido, aconteceu quando as principais corridas já estavam mais ou menos definidas.

Fato é que o filme, agora, ao menos desfruta de bons números de bilheteria –já é a nona maior da A24, ironicamente bem à frente de "Zona de Interesse" e "Vidas Passadas", que apenas combinados fizeram uma cifra parecida.

Zac Efron, com seus músculos hipertrofiados e a cabeça quase desproporcional em relação ao corpo monstruoso, não está sozinho no ringue de "Garra de Ferro", no entanto. O longa adota o ponto de vista do seu personagem, mas narra a saga de toda a sua família, responsável por popularizar a luta livre na televisão americana nos anos 1980.

A história começa com seu pai, Fritz Barton Adkisson, que adotou Von Erich como nome artístico. Ao se aposentar dos ringues e fundar uma agência para a promoção do esporte, o patriarca instigou os filhos a entrarem para a luta livre. Mas, apesar de bem-sucedido, o clã foi abatido por uma série de tragédias que mataram precocemente vários de seus seis herdeiros –metade deles por suicídio.

Sinistra, a história real inspirou a lenda da maldição Von Erich, e se tornou um conto de advertência sobre rivalidade entre irmãos e trauma geracional. Não à toa, foi percebido como terreno fértil para uma adaptação cinematográfica, que chega agora às salas brasileiras com seu dramalhão heterossexual habitado por tanquinhos e desastres.

Jeremy Allen White, da série "O Urso", e Harris Dickinson, do filme "Triângulo da Tristeza", dois dos galãs mais quentes do momento, se juntam a Efron e ao novato Stanley Simons, formando o quarteto de irmãos protagonista –um quinto morreu ainda criança e o sexto foi cortado do roteiro.

Com sunguinhas apertadas e coloridas e os músculos lustrosos cobertos de suor, eles se agarram a outros homens por boa parte do filme, dando a ele uma carga de homoerotismo que Sean Durkin sabia ser indissociável do esporte. Para que tudo fosse autêntico, a equipe teve um treinador de luta livre para conceber as coreografias e, como oponentes dos mocinhos, escalou atletas reais.

"De certa forma, esta é uma celebração de corpos. Eu tentei filmá-los da maneira mais pura possível, então não, não houve uma preocupação em como enquadrar cada corpo para que ficassem bonitos em cena. Eu buscava o enquadramento que fosse capaz de transmitir as emoções necessárias", diz Durkin, que não nega a voltagem sexual de muitas das cenas.

E são várias as emoções no roteiro, garantia de levar muito marmanjo às lágrimas. Apesar da categorização enquanto filme esportivo, "Garra de Ferro" –que, inclusive, leva no nome uma manobra violentíssima da luta livre– é uma trama sobre família, acredita o diretor.

"É um filme que questiona o sonho americano e a masculinidade. O esporte é uma metáfora para a falsa crença de que homens precisam ser fortes para sobreviverem, e sobre como isso afeta esta família. Falamos ainda sobre a ausência de luto e sobre como essa ideia de que homens não choram, que não podem sentir emoções é o que permite que essa dita maldição continue."

Também adiciona carga dramática ao filme o relacionamento de Kevin von Erich com a mulher, vivida por Lily James –outra que pode se considerar esnobada pelo Oscar– e seus filhos. Para blindá-los da suposta maldição, ele passa dias fora de casa e se distancia da família, para que eles não "peguem" a desgraça que parece correr em seu sangue.

Nada, no entanto, é forte o suficiente para barrar Zac Efron de entrar no ringue. O esporte é como uma droga, viciante. Mesmo motivando desgraça, é também onde o quarteto de irmãos consegue enfrentar suas lutas internas, e exorcizar suas mágoas e frustrações mais profundas.

Garra de Ferro

  • Quando Estreia nesta quinta (7), nos cinemas
  • Classificação 16 anos
  • Elenco Zac Efron, Jeremy Allen White e Harris Dickinson
  • Produção EUA, Reino Unido, 2023
  • Direção Sean Durkin
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