Placebo canta a saturação tecnológica da última década em único show em São Paulo

Vocalista do grupo de rock, Brian Molko pede que fãs deixem o celular em casa para ouvir hits do álbum 'Never Let Me Go'

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São Paulo

Depois de dez anos, o público paulistano poderá ver o Placebo novamente, em um show único no Espaço Unimed, em que a banda de rock cantará os protestos de seu último álbum, "Never Let Me Go" —uma resposta aos conflitos da nova década, marcados pela saturação tecnológica, catástrofe climática e por uma pandemia.

"Não vejo a hora de voltar", diz por telefone o cantor Brian Molko, diretamente da Bélgica, seu país natal, onde a banda ensaia para a turnê com seu principal parceiro, o baixista e guitarrista Stefan Olsdal. O grupo também passa por alguns países da América do Sul —Brasil, Argentina, Chile e Colômbia—, pelo México, e depois segue para Austrália e Nova Zelândia.

Brian Molko e Stefan Olsdal, da banda Placebo
Brian Molko e Stefan Olsdal, da banda Placebo - Mads Perch/Divulgação

"Nossos fãs brasileiros são muito especiais", diz ele, lembrando que a região já era elogiado por um amigo seu, Robert Smith, do The Cure. "Ele dizia: 'Eles têm os góticos mais maneiros da face da Terra!’ Quando fomos à América do Sul pela primeira vez, percebi que ele tinha razão."

Para esse show em São Paulo, Molko só tem um pedido aos fãs —deixem o celular em casa. "A experiência de um show só funciona quando ela é interativa, quando há uma troca entre a banda e o público. Quando você levanta um celular, está criando uma barreira entre você e o artista. É como analisar uma pintura abstrata, é preciso chegar perto e ver de todos os ângulos possíveis para captar a essência daquela obra."

"Acho engraçado que as pessoas parecem esquecer que nós tivemos uma vida antes da internet, antes de telefones celulares, e estava tudo bem", diz Molko. O cantor, que embala corações jovens desde 1994 com sua canções pesadas e melancólicas, agora destacando hits como "Scene of the Crime" e "Forever Chemicals", do novo disco, hoje tem um filho de 18 anos, com quem divide dicas musicais, e acha que os mais jovens tem uma relação saudável e eclética com a música.

"Antigamente, nós éramos muito fechados em nichos: ou você era gótico, ou era punk, só se ouvia um tipo de som. Percebo que, na geração do meu filho, há uma disposição a ser eclético e de não ter nenhum tipo de barreira, seja de ouvir músicas de determinada época ou estilo."

Mas diferente do peso das guitarras do grupo britânico, acredita Molko, a música pop atual é descartável e insípida. "As pessoas se surpreendem ao ouvir qualquer coisa com gravidade, beleza e raiva. Nós sempre nos preocupamos com as letras, em falar de coisas que nos interessam e nos preocupam." Considerado uma retomada para quem previa uma decadência do grupo com "Loud Like Love", o disco da turnê atual comenta questões ambientais abusando de sintetizadores ruidosos.

Referência para a juventude dos anos 1990, Molko não sabe quanto a influência do grupo está viva até hoje. "Música é difícil explicar. Bandas dos anos 1990 hoje são retrô como eram, para nós, as dos anos 1960. Me divirto vendo meu filho e os amigos com camisetas do Smashing Punpkins, como usávamos camisetas do The Doors."

Um assunto que não pode falar em nenhuma conversa com Brian Molko é David Bowie. O Placebo teve uma longa relação com o artista, abrindo shows do Camaleão por seis anos. Bowie inclusive convidou a banda para abrir o megashow do aniversário de 50 anos dele, em Nova York, em 1997. A mesma noite teve participações de pesos-pesados como Lou Reed, Robert Smith, Billy Corgan, Dave Grohl e Sonic Youth.

"Nunca vi tanta gente famosa nos camarins, todo mundo queria estar perto de Bowie. Christopher Walker, Naomi Campbell... Os bastidores estavam fervilhando de celebridades. E nós lá, de olhos abertos, tão contentes de simplesmente ser parte daquilo", diz Molko.

"Trabalhar com Bowie foi uma lição de vida que nunca vou esquecer. Simplesmente observar como ele se relacionava com as pessoas —e todas as pessoas, do maior astro à pessoa mais humilde— foi uma aula de como ser uma pessoa melhor e mais empática."

O cantor surpreende ao revelar quem tem a agradecer por ter tido a chance de conhecer David Bowie. "Obrigado Morrissey! [ex-líder do grupo The Smiths] Ele estava abrindo uma turnê do Bowie na Europa, quando um dia fez um escândalo e simplesmente abandonou a turnê, entrou no ônibus e mandou o motorista levá-lo para a Escócia".

"Por uma dessas coincidências inacreditáveis, tínhamos o mesmo agente de turnês, e meu telefone tocou no pequeno apartamento de merda em que eu me escondia em Londres: ‘Vocês querem sair em turnê com David Bowie?’ Achei que era uma piada".

Placebo

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