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'Hora do Massacre' leva militantes ao slasher em uma caçada sombria

Terror de coletivo canadense propõe filme de matança dentro de loja de departamentos e brinca com clichês do formato

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Marcelo Miranda

Hora do Massacre

  • Quando Em cartaz nos cinemas
  • Classificação 16 anos
  • Elenco Turlough Convery, Jacqueline Moré e Alessia Yoko Fontana
  • Produção França, Canadá, 2023
  • Direção François Simard, Anouk Whissell e Yoann-Karl Whissell

Nas convenções do slasher, ou filmes de matança, na definição do pesquisador Carlos Primati, um grupo de jovens sem maiores propósitos para além de diversão e sexo se reúne num determinado ambiente afastado das cidades e das aglomerações para farrear. Nesse espaço sem muitas possibilidades de fuga, eles vão sendo criativamente assassinados um a um por algum maluco traumatizado que habita o lugar.

Fenômeno na década de 1980 e ainda hoje reverenciados, os filmes de matança criaram suas próprias regras a ponto de elas serem quebradas, ironizadas ou desvirtuadas por franquias como "Pânico", iniciada por Wes Craven em 1996 e já num acumulado de seis filmes e uma série de TV.

Cena do filme 'Hora do Massacre'
Cena do filme 'Hora do Massacre' - Divulgação

"Hora do Massacre", que estreia nos cinemas, não chega a ser sátira nem releitura. Aproxima-se bem mais de uma reembalagem do formato, ainda que, como é necessário à manutenção de qualquer subgênero, mantenha-se dentro de certas características inescapáveis.

Na verdade, contar que "Hora do Massacre" é um slasher é adiantar mais do que se deveria de sua trama e formato, mas o spoiler está autorizado pelo trailer e por várias entrevistas do trio de cineastas canadenses François Simard, Anouk Whissell e Yoann-Karl Whissell, que assina seus filmes como o coletivo RKSS, ou Roadkill Superstars.

Assim como fizeram com os suspenses infantojuvenis oitentistas em "Verão de 84", lançado em 2018, e com os filmes de mortos-vivos em "We Are Zombies", de 2023, os diretores partem de premissas estabelecidas ao longo de décadas, desta vez dos slashers, para encontrar, num ponto aqui e outro acolá, respiros de novidade que de alguma forma surpreendam o espectador já calejado.

Ao mesmo tempo, propõem algo empolgante a quem não estiver familiarizado com tal estrutura. "Hora do Massacre" leva seus jovens condenados a um ambiente isolado, como manda a praxe, mas dessa vez os personagens são politicamente conscientes e engajados, com propósitos menos lúdicos que o padrão.

Eles secretamente invadem uma espécie de Leroy Merlin fictícia com objetivo de vandalizarem a loja em defesa do meio ambiente e chamarem atenção em vídeos nas redes sociais. O que não esperam é o fato de um dos seguranças noturnos do local ser um sociopata em vias de ser demitido e cujo hobbie é caçar animais selvagens com armas construídas por ele próprio.

Uma vez estabelecido o conflito básico, o filme se torna o velho jogo de gato e ratos, embalado pela boa trilha sonora eletrônica do espanhol Arnau Bataller e por ataques impiedosos do antagonista, em cenas de violência ora chocantes, ora caricatas, na medida da diversão que o coletivo RKSS ambiciona.

Tenta-se aqui e ali alguns ensaios de discursividade ou mesmo a alegoria de inverter os papéis e fazer os jovens militantes, que defendem o reflorestamento e os direitos dos animais, tornarem-se eles mesmos bichos sendo caçados, mas nada disso é muito aprofundado antes da próxima armadilha mortal. Isso é até bom, porque mantém "Hora do Massacre" dentro de seus próprios limites, deixando mais evidente apenas o que de fato o RKSS está interessado em mostrar e sabe fazer bem.

A ambientação numa loja de departamentos dá a medida adequada para a claustrofobia dos seis personagens, e o uso de cores e neon gera algumas cenas visualmente instigantes, como o momento em que o grupo é pintado com tintas fluorescentes e perseguido no escuro. Este e outros momentos parecem ser os motivadores do RKSS para desenvolverem o seu próprio "filme de matança" além dos clichês mais conhecidos, bem como o desfecho, esse sim a ser aqui preservado ao leitor.

Pode-se adiantar que, do mesmo jeito que fizeram em "Verão de 84", os cineastas se permitem uma conclusão igualmente sarcástica e sombria que, se não traz algo de efetivamente renovador, é um comentário preciso tanto sobre as consequências das ações mostradas nos rápidos 80 minutos de filme quanto especialmente uma reflexão sobre o próprio subgênero ao qual se filia. Não chega a ser radical, mas tampouco "Hora do Massacre" é ingênuo.

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