No Ilustríssima Conversa desta semana, o professor de literatura da USP Hélio de Seixas Guimarães comenta a relação de amor e ódio de Lima Barreto, Mário de Andrade e Carlos Drummond de Andrade com Machado de Assis, autor de clássicos como "Dom Casmurro" e "Memórias Póstumas de Brás Cubas".
Guimarães organizou dois livros recém-lançados —"Escritor por Escritor: Machado se Assis Segundo Seus Pares" (Imprensa Oficial do Estado de São Paulo) e "Amor Nenhum Dispensa uma Gota de Ácido" (Três Estrelas)— que investigam as mudanças na recepção da obra machadiana nas décadas seguintes à morte do autor, em 1908.
Machado nasceu há 180 anos, e ainda hoje sua obra, um poço de ambiguidades, desperta dúvidas e debates acalorados.
Quando morreu, em 1908, o autor foi louvado como escritor genial, o maior do país, mas também chamado de alienado em relação às questões sociais.
Algumas décadas depois, surgiu uma visão oposta: Machado teria, na verdade, sido um dos mais argutos críticos da realidade brasileira.
Outro ponto polêmico envolve a questão racial. Neto de escravo alforriado, filho de pintor negro, Machado nunca abordou a escravidão de forma muito explícita em seus livros. Também nunca se definiu publicamente em relação à cor de sua pele.
O posto de escritor oficial do país, a despeito do caráter revolucionário de sua obra, e o silêncio em relação a temas crucias de sua época, como a escravidão, valeram a Machado pesadas críticas de seus pares.
"Se adoro a obra de Machado de Assis como arte, pouco encontro nela como lição e simplesmente detesto o homem que ele foi", escreveu Mário de Andrade.
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O podcast entrevista, a cada duas semanas, autores de livros de não ficção e intelectuais para discutir suas obras e seus temas de pesquisa.
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