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Engajamento ajuda a proteger a água, diz especialista

Levantamento do SOS Mata Atlântica alerta sobre situação dos rios do bioma

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São Paulo

A qualidade da água do bioma brasileiro mais atingido pelo desmatamento também não é boa. Sem a articulação entre participação da população, preservação das nascentes e governança não há como melhorar esse quadro.

Lançado na última segunda, 19, o último monitoramento realizado pela ONG ambiental SOS Mata Atlântica aponta que 20% dos 294 pontos de coleta espalhados pelos rios do bioma estão impróprios para uso. 75% dos pontos têm qualidade considerada regular, mas no limite da legislação. Nenhum dos pontos analisados foi avaliado como ótimo e apenas 4,1% (12) dos pontos de análise possuem qualidade de água considerada boa.

 Vista aérea da Serra do Mar na região de Osório no Estado do Rio Grande do Sul, limite ao sul do bioma da Mata Atlântica
Vista aérea da Serra do Mar na região de Osório no Estado do Rio Grande do Sul, limite ao sul do bioma da Mata Atlântica - Rodrigo Baleia, 03/04/2017, Folhapress

O relatório abrange rios como Tietê, São Francisco, Iguaçu, Capibaribe, Parnaíba, Sinos e Doce, num total de 230 rios, córregos e lagos, em 102 municípios nos 17 Estados da Mata Atlântica e do Distrito Federal.

Os dados foram obtidos em coletas entre março de 2017 e fevereiro de 2018. Os responsáveis pela coleta foram os 3,5 mil voluntários do programa “Observando os Rios”.

“96% dos rios monitorados não têm condição boa e isso é um alerta. Nossa situação é muito crítica”, diz Malu Ribeiro, coordenadora do estudo e especialista em água do SOS Mata Atlântica.

O levantamento mostra a fragilidade dos principais rios da Mata Atlântica. “Rios e águas contaminados são reflexo da ausência de saneamento ambiental, gestão e governança”, diz.

A água está diretamente ligada à conservação da Mata Atlântica, à sustentabilidade dos ecossistemas, à saúde e atividades econômicas da população que vive nos locais, de acordo com a especialista.

COMBINAÇÃO QUE DÁ RESULTADO 

A combinação de três fatores possibilitou a qualidade boa em 4% dos pontos, segundo Malu: programas ou ações de proteção de nascentes, participação da sociedade civil e regulação ou governança.

O relatório destaca que a estabilidade da qualidade de água boa em cinco pontos de monitoramento localizados em áreas protegidas da Mata Atlântica. Já em 16 pontos de coleta sem proteção de mata nativa os dados demonstraram impacto significativo, com perda de qualidade da água.

“Há regiões em que houve alto grau de investimento em saneamento mas não houve participação da sociedade e por isso não houve evolução positiva”, afirma.

Malu cita o exemplo da cidade de Extrema, em Minas. “Apesar do investimento feito, a própria prefeitura multou a empresa de saneamento por ter lançado esgoto no rio Jaguaribe”, afirma.

Outro rio que sofre pelo “descaso” é o Iguaçu. Apesar de as Cataratas serem parte do Patrimônio da Humanidade, o Iguaçu “já nasce quase morto”, segundo Malu. Em Curitiba, “depois de um monte de percalços”, ele é “condenado de vez à morte”.

A “condenação” é a classificação do rio na classe 4. Esta classificação é considerada pelo SOS como extremamente permissiva em relação a poluentes e é responsável por manter os rios com qualidade péssima ou ruim, indisponíveis para usos.

“Para que os indicadores melhorem, é fundamental que a norma que trata do enquadramento dos corpos d’água seja aprimorada, excluindo os rios de classe 4 da legislação brasileira“, diz Malu.

“Queremos que acabem os rios de classe 4. Começando por São Paulo. Se o Estado encampar, pode puxar o país. É a única saída”, diz.

PARTICIPAÇÃO

E como fazer para atuar na preservação da água? Malu não faz as tradicionais recomendações domésticas sobre a economia em banhos, lavagem de louça, captação de água de chuva. Considera que essas medidas básicas são sabidas. 

“O primeiro passo é saber de onde vem água que chega à torneira de sua casa e exigir qualidade da empresa que a fornece”, diz a especialista.

“Em paralelo, comprar só produtos que não agridam o meio ambiente, que são os biodegradáveis, os recicláveis, os reciclados, e os sem agrotóxicos”, afirma. “Pode parecer difícil, mas não é. É preciso mudar o comportamento de consumo”.

“E se engajar. No condomínio, nas praças, nos comitês municipais, nos comitês de bacia. Muitas vezes a gente não gosta de participar e delega para as outras pessoas. Mas quem delega esquece”.

“Hoje, o cidadão é o agente”, diz Malu. “Há um descrédito das pessoas em relação às instituições e o poder público”, afirma.

“A minha esperança é o engajamento livre.” Cerca de 70% dos voluntários do SOS, que são os responsáveis pelo monitoramento do estudo, têm entre 18 e 30 anos. A ONG não consegue atender a demanda de pessoas interessadas em colaborar. “Eles querem transformar”, diz Malu.

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