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Livro critica especialista que palpita sem se comprometer

Autor aponta situações em que risco do erro é menor que ganho do acerto

Nassim Nicholas Taleb at his home in Larchmont, N.Y., in September 2009. Taleb, a trader, said that the financial system was riskier than last fall and that government aid had led investors to expect banks to be bailed out. Twelve months after the bankruptcy of Lehman Brothers and the 11th-hour rescue of AIG, Wall Street lives on. The financial industry has restructured only around the edges. Only a handful of hedge funds have closed their doors. Financial stocks have soared since their lows this winter. The Obama administration has proposed regulatory reforms, but even their backers say they face a long and difficult road in Congress. (Michael Appleton/The New York Times)
O investidor e estatístico Nassim Nicholas Taleb, autor do livro 'Skin in the Game' - Michael Appleton - set.09/The New York Times
Paula Leite
São Paulo

O investidor e estatístico Nassim Nicholas Taleb ganhou fama há 11 anos ao publicar "A Lógica do Cisne Negro", um interessante livro sobre eventos estatisticamente improváveis, mas com consequências devastadoras.

Em uma espécie de cruzada contra o uso superficial e errado da estatística e por maior rigor matemático na pesquisa científica, em especial na pesquisa econômica, publicou outros três títulos, um antes e dois depois do "Cisne Negro", que vê como parte de um mesmo tratado.

No mais recente, "Skin in the Game - Hidden Asymetries in Daily Life" (Correndo risco - assimetrias escondidas do dia a dia), o alvo de Taleb são as situações de risco assimétrico, em especial aquelas em que alguém está sujeito a grandes recompensas caso tudo dê certo, mas nenhuma perda caso tudo dê errado --por exemplo, executivos que ganham gordos bônus se a companhia der lucro, mas nada perdem se a empresa der prejuízo ou falir.

"Skin in the game" é uma expressão em inglês que denota colocar-se em risco por uma situação: apostar seu dinheiro, sua vida ou sua reputação em algo.

Taleb usa boa parte do livro para construir o argumento de que é moralmente errado que muita gente passe sua vida opinando sobre a vida de outros, decidindo como gastar dinheiro do governo ou de empresas, ou fazendo apostas geopolíticas de tal forma que uma decisão errada não tenha absolutamente nenhum impacto em sua vida, ou seja, com o risco totalmente transferido a outras pessoas ou entidades.

Se nas finanças faz todo sentido o argumento de Taleb de que não se deve confiar no que as pessoas dizem e sim olhar onde colocam seu dinheiro, não é viável um mundo em que apenas os diretamente interessados ou afetados possam opinar sobre o que quer que seja --no limite, isso inviabilizaria qualquer tipo de distanciamento científico. 

O rigor matemático com que Taleb constrói seus argumentos dá força ao livro. O autor nos lembra que, afinal, matemática e filosofia compartilham a mesma origem e apoia-se na lógica para fazer importantes observações sobre a virtude e sobre a vida em sociedade. 

O autor também volta a investir contra a superficialidade no uso de estatísticas por economistas e psicólogos para explicar diferentes comportamentos humanos, arguindo de forma muito convincente que o comportamento de uma ou duas pessoas não se reproduz de forma linear quando passamos ao comportamento de comunidades ou países --a cada camada adicionam-se dimensões de complexidade, o que faz com que grupos não se comportem como a média de seus indivíduos. 

É interessante sua explicação sobre como grupos mais intolerantes ganham espaço rapidamente na sociedade, se sobrepondo aos moderados --ainda que ele não explique como, então, a longo prazo, a maioria dos países ocidentais venha se tornando mais tolerante.

ALVOS

O problema do livro é que boa parte dele é ocupado por diatribes do autor contra os que ele considera serem os grupos mais representativos do problema de falta de risco próprio nas atividades, entre eles especialistas em geopolítica e finanças, economistas, jornalistas e críticos literários.

Entre os alvos de sua cólera estão colunistas como Thomas Friedman e Nicholas Kristof, a crítica literária Michiko Kakutani (todos do New York Times), o economista francês Thomas Piketty, a candidata democrata ao governo dos EUA Hillary Clinton e muitos outros.

Suas observações sobre geopolítica mundial também são pouco equilibradas, coloridas a todo momento pelo fato de que, como o próprio autor aponta, ele viveu a Guerra do Líbano antes de ir viver nos EUA.

De resto, talvez, quando acuse os jornalistas de não correr riscos, Taleb se refira mais a comentaristas e especialistas de canais de notícias, tão comuns nos EUA, já que o mundo está cheio de repórteres que arriscam sua vida, sua reputação e sua saúde para revelar todo tipo de injustiça e falcatruas.

Dada a sua preocupação com a virtude, Taleb poderia deixar de lado alguns deselegantes ataques e vendetas pessoais, o que só daria força a seus escritos.

SKIN IN THE GAME

  • Preço R$ 47,89
  • Autor Nassim Nicholas Taleb
  • Editora Random House

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