Descrição de chapéu polícia federal

Reunião com Abilio na BRF tem clima constrangedor

Conselho marca para 26 de abril assembleia para definir destino do conselho

O empresário Abilio Diniz
O empresário Abilio Diniz - Danilo Verpa/Folhapress
Igor Gielow
São Paulo

Enquanto a BRF era engolfada pela nova fase da Operação Carne Fraca, seu conselho de administração marcava para o dia 26 de abril a assembleia que irá definir o destino do atual colegiado presidido por Abilio Diniz.

A reunião, que havia sido marcada a pedido dos dois maiores acionistas da BRF, os fundos de pensão estatais Petros e Previ (22% do controle da empresa), transcorreu de forma constrangedora, segundo relatos.

Abilio não colocou o tema Carne Fraca em pauta, sob o argumento de que não havia ainda informações disponíveis sobre a operação —a reunião estava marcada para 9h45, e a operação havia começado às 6h. O encontro só começou de fato às 11h30.

Já se sabia que Pedro Faria, ex-presidente da empresa e então aliado de Abilio, havia sido preso.

O ex-braço direito do empresário na empresa, José Roberto Pernomian Rodrigues, havia sido levado para depor —assim como na operação de 2017, ano em que ele saiu da BRF por uma condenação em um outro processo por fraude.

Abilio e os nove conselheiros debateram a chapa indicada no sábado (3) pelos fundos para substituir o atual colegiado, que o empresário lidera desde 2013. Ela inclui como substituto de Abilio um desafeto seu, o ex-presidente do Pão de Açúcar Augusto Marques da Cruz.

As questões administrativas e o prejuízo recorde de R$ 1,1 bilhão em 2017 foram tratados pelo presidente do conselho como um problema de Faria, de quem se afastou a partir do anúncio da saída do gestor do cargo, em agosto passado.​

Mais tempo

Na prática, Abilio ganhou tempo para costurar ou uma reação ou um compromisso para manter representação num novo conselho. Ele tem 4% das ações da empresa.

Na primeira fase da Carne Fraca, em março de 2017, a exposição da BRF foi determinante para que Abilio, então alvo de críticas, ficasse no cargo. O argumento foi que uma troca ampliaria a turbulência.

Só que agora a posição do empresário é mais questionada. À noite, tanto Petros quanto Previ divulgaram notas nas quais pediam informações à BRF sobre as práticas de governança que são objeto de exame da Polícia Federal —um sinal sobre a linha de argumentação a seguir.

Abilio não fez comentários. Na semana passada, criticara os fundos pela condução pública do caso.

Sua gestão à frente do conselho, com Faria como presidente-executivo entre 2015 e o fim de 2017, registrou um período de sucesso em termos de valorização: as ações chegaram a bater em R$ 70, só para chegar a esta segunda (5) aos níveis de 2010 (R$ 25).

Faria é da Tarpon Investimentos, grande acionista (7,26%). As agruras da BRF se acentuaram em 2017, com ex-membros do conselho envolvidos em denúncias, a Operação Carne Fraca e a sucessão na empresa. O atual presidente, José Drummond, é homem de Abilio.

ENTENDA A OPERAÇÃO

ORIGEM

  • - Após a carne fraca, em março de 2017, uma granjeira de Carambeí (PR) denunciou à PF que avisou a BRF sobre lotes de pintinhos com salmonela
  • - A empresa não teria feito nada e, segundo as investigações, atuou para transferir um fiscal agropecuário da região, para evitar a fiscalização
  • - A PF afirma que um laboratório de Maringá (PR), sem credenciais junto aos órgãos competentes, ajudou a fraudar laudos para esconder a contaminação

DEPOIS...

  • - Nas investigações, a PF descobriu emails da diretoria da BRF sobre uma ação trabalhista em que uma ex-funcionária de Rio Verde (GO) alegava ter sido forçada a fraudar outros laudos, também para esconder casos de contaminação
  • - Segundo as investigações, emails trocados pela cúpula da empresa comprovam tentativa de acobertar a fraude
  • - A BRF ofereceu acordo com a ex-funcionária acima do usual, ainda segundo os investigadores para que a ação fosse encerrada sem alarde

ALÉM DISSO...

  • - Com a interceptação de e-mails e telefonemas, a PF também constatou alterações fraudulentas na fábrica de rações da BRF em Chapecó (SC)
  • - Teriam sido alteradas etiquetas para impedir que a rastreabilidade descobrisse uso de medicamentos na ração animal fornecida aos granjeiros terceirizados
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