Descrição de chapéu MPME

Casas de brincar se espalham e faturam mais de R$ 1 milhão

Espaços lucram com atividades como desenho e pintura; parcerias são chave para crescer

Fernanda Lacerda
São Paulo

As crianças estão ocupadas. Fechadas em apartamentos e com agenda cheia —escola, curso de inglês, aula de música—, não têm tempo nem espaço para diversão longe dos eletrônicos.

Esse diagnóstico tem motivado o negócio das “casas de brincar”: são lugares próprios para entretenimento infantil, equipados com tinta, papel e tesouras sem ponta.

O modelo já se mostrou atraente no eixo paulistano Vila Madalena-Pinheiros.

Quem quiser entrar no ramo deve desbravar novos bairros com perfil semelhante, segundo a sugestão de Leonardo Reis, 48. O empresário é diretor-executivo da Casa do Brincar, uma das pioneiras do segmento em São Paulo.

Segundo ele, os pais têm buscado atividades lúdicas para seus filhos além do período escolar. O negócio atende crianças de até 6 anos, que ainda têm à disposição oficinas de yoga, culinária e música.

A casa fatura em torno de R$ 1,2 milhão ao ano, e tem um fluxo de cerca de 200 crianças por mês —nos meses de férias, são 200 por semana, afirma Luciane Motta, sócia de Reis.

A programação de férias e a organização de festas são diversificações essenciais para quem atua no ramo.

As crianças Rafael (à esq.) e Luca brincam com miniaviões amarelos durante oficina com pais de filhos na Casa das Ideias, em SP
As crianças Rafael (à esq.) e Luca brincam durante oficina com pais de filhos na Casa das Ideias, em SP - Rafael Roncato/Folhapress

Sobretudo em tempos de crise, depender apenas de brincadeira fica difícil, alerta Silvia Sandoval, 54, proprietária da Quintal 7 Cores, que funciona em Moema desde 2014.

Silvia teve a ideia depois de se tornar mãe. Após diversos problemas com babás, ela sentiu falta de um espaço onde pudesse deixar as crianças.

A solução foi pensada, porém, para ir além de um mero espaço de “tomar conta”: valendo-se de técnicas pedagógicas, a proposta é oferecer atividades que vão ajudar no desenvolvimento criativo e emocional das crianças.

A Quintal recebe uma média de 400 crianças por mês, segundo a empresária. Diferentemente de outras casas, que cobram por hora, Silvia oferece um sistema pré-pago em que os pais adquirem a quantidade de minutos que desejarem, e vão usando conforme sua necessidade. Ela não revela quanto fatura.

Um desafio para quem entra nesse mercado é a divulgação, que ainda depende essencialmente do boca a boca entre as famílias.

Para atrair clientes, as casas passaram a organizar uma Brincar Week, nos moldes da Restaurant Week, em que trabalham com preços promocionais para que os pais experimentem o serviço. Desde 2016 já foram três edições. A próxima deve ocorrer em agosto.

A expansão do período integral das escolas vem assustando empresários de casas de brincar, que dependem do tempo livre das crianças.

De acordo com o censo do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira), as matrículas em tempo integral aumentaram 5% nas creches e 6,4% na pré-escola entre 2016 e 2017 no Brasil.

Argeu Argondizo, 56, fundador da Casa das Ideias, é um dos que sofrem com a mudança. “A quantidade de alunos regulares que temos vem caindo muito”, diz.

Ao mesmo tempo, há uma grande pressão sobre as escolas para que ofereçam atividades fora do currículo. Daí surge a oportunidade de fechar parcerias com as casas de brincar, que já têm expertise nessa área.

Por isso, ficar próximo de grandes instituições de ensino faz diferença, diz Reis, da Casa do Brincar.
A Quintal 7 Cores, por exemplo, tem parceria com a Móbile, localizada em Moema (zona sul de São Paulo), a poucos quarteirões.

Outro diferencial é oferecer serviços para os adultos. Na Casa do Brincar há um coworking, enquanto na Quintal há um café com wi-fi gratuito onde pais podem trabalhar para pagar pela brincadeira.

Explorar os espaços de shoppings é outro caminho. O Grupo Curumin, especializado em recreação com foco nas classes A-B, passou a operar no shopping Iguatemi há três anos. O diretor, Thiago Sanchez, 38, diz que se surpreendeu com o resultado.

“Foi uma explosão no começo”, afirma ele. O negócio vem crescendo entre 15% e 20% ao ano, e há negociações com outros shoppings, revela.

O modelo, nesse caso, é um pouco diferente. Como o espaço é menor e sem quintal, o leque de atividades inclui videogames, para atender as crianças mais velhas.

O investimento também é mais alto, pelo custo da locação. Sanchez calcula R$ 1 milhão para montar o espaço.

Por outro lado, estar cercado de lojas facilita parcerias. O Curumin virou parceiro de Ri Happy e Livraria Cultura. “Relação ganha-ganha”, diz.

 

Bom espaço e refeições impulsionam negócio

Quintal
Um amplo espaço enche os olhos das crianças e dos pais, acostumados a apartamentos pequenos

Atividades
Embora o mote seja o “brincar livre”, é importante oferecer oficinas de música e artes –inclusive devido à concorrência de cursos especializados

Divulgação
O principal caminho é o boca a boca entre os pais, por isso as casas tendem a levar um tempo para se firmar. Um jeito de acelerar o processo é investir em redes sociais

Segurança
Para além dos cuidados básicos (quinas, escadas), as casas onde as crianças manejam ferramentas designam um educador para acompanhá-las de perto. Há espaços que oferecem aos pais acesso à imagem das câmeras pelo celular

Profissionais
A ideia é que as crianças se desenvolvam, por isso os funcionários devem ter experiência com pedagogia e educação, diferenciando-se de cuidadores domésticos

Alimentação
Como as casas funcionam no contraturno escolar, oferecer almoço para quem brinca de manhã e vai direto para a escola à tarde (ou o inverso) facilita a vida dos pais e é outra forma de lucrar

Cobrança
Em geral as casas cobram por hora, com desconto caso os pais optem por pacotes. Há ainda quem use um sistema pré-pago de minutagem, e cobre à parte oficinas

Diversificação
Os meses de férias escolares (dezembro, janeiro e julho) são os de maior lucratividade, então invista numa programação especial. Festas de aniversário também aumentam o faturamento e ajudam a divulgar a casa para novos clientes

Adultos
Um diferencial é oferecer um espaço em que os pais possam ficar na casa enquanto as crianças brincam, como um café e um coworking

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