Embate EUA-China gera risco de ruptura

Ex-integrante do governo Bush diz que Brasil precisa se posicionar contra protecionismo

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Brasília

Trump acena ao desembarcar do avião presidencial - Nicholas Kamm - 5.abr.18/AFP

O Brasil não deve ficar neutro na guerra comercial travada entre China e EUA, na opinião do economista americano Philip Levy, do Chicago Council on Global Affairs. Mas sim defender as regras do comércio internacional, instrumentos úteis para a defesa de seus próprios interesses no mercado global.

Em meio à espiral de barreiras protecionistas criada pelas duas maiores economias do mundo, produtores brasileiros de etanol, soja e carne preveem ganhar vendas no mercado chinês. 

Na quinta-feira (5), a China decidiu elevar as tarifas de importação de mais de uma centena de produtos americanos, em retaliação à sobretaxa imposta pela gestão de Donald Trump a artigos chineses de tecnologia, eletrônica e de transporte.

Levy integrou o conselho de assessores econômicos do último presidente republicano antes de Trump, o texano George W. Bush, e também a equipe da ex-secretária de Estado Condoleezza Rice. Mas adota um tom crítico às decisões de Trump.

À Folha ele disse que o Brasil não deve escolher um lado. “Não recomendaria tomar partido, exceto para defender o sistema global de comércio”, afirmou. “Não estou defendendo neutralidade, mas um engajamento proativo para apoiar um sistema que atenda a todos os países, e não a um ou outro hoje envolvido em disputa.”

No curto prazo, disse, há a possibilidade concreta de o Brasil aproveitar a oportunidade aberta pela punição aos produtos americanos na China. “Mas, a longo prazo, não acho que o Brasil se beneficie da quebra do sistema de comércio global”, afirma.

Levy vem ao Brasil para um seminário na FGV, nesta segunda-feira (9), sobre o Mercosul e falou à reportagem por email.

O economista afirmou que a guerra comercial entre China e EUA é “perigosa” e pode provocar um ciclo de retaliações recíprocas sem controle.

“Uma possibilidade mais esperançosa é que os dois lados façam uma pausa e iniciem discussões para neutralizar as tensões”, afirmou, lembrando que a saída já está sendo defendida pelo principal conselheiro econômico de Trump, Larry Kudlow.

Levy tem um palpite sobre como terminará a principal pendenga do Brasil com os EUA: a ameaça de Trump de sobretaxar o aço brasileiro. A decisão está prevista para o próximo dia 1º, e o economista disse acreditar que o governo americano está agindo para reduzir o patamar das importações com limites acordados com os fornecedores.

“A pista que temos é o acordo com a Coreia do Sul, que se comprometeu a limitar as exportações aos EUA a 70% da média dos últimos três anos”, disse.
“Isso sugere que Trump está tentando cortar as importações de aço de qualquer maneira.”

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