Para ministro, negócio entre Boeing e Embraer vai 'acabar em casamento'

Ações de fabricante sobem 6,72% com declaração; nova rodada de negociação avança com o governo

IGOR GIELOW
São Paulo

O ministro interino da Defesa, general Joaquim Silva e Luna, afirmou nesta terça (10) acreditar que o acordo entre a Boeing e a Embraer está perto de ser concretizado.

Apresentação do avião E190-E2, nova geração de jato regional da Embraer, para empresa norueguesa
Apresentação do avião E190-E2, nova geração de jato regional da Embraer, para empresa norueguesa - Li Ming - 4.4.2018/Xinhua

"Para ser direto, eu diria que isso vai acabar em casamento", disse o general à agência Bloomberg durante uma feira de segurança em São Paulo. A declaração reverberou no mercado, com alta de 6,72% das ações da fabricante brasileira.

 
Também nesta terça, houve mais uma rodada entre as empresas e o grupo de trabalho montado pelo governo federal para avaliar o negócio, que começou a ser especulado no fim do ano passado. A União precisa ser ouvida por ter poder de veto sobre mudanças acionárias na Embraer, que até 1994 foi estatal.

Segundo a Folha apurou, o governo reagiu bem à nova proposta —as negociações já foram e voltaram inúmeras vezes desde janeiro, quando o grupo foi montado. Inicialmente, a Boeing queria comprar toda a fabricante brasileira, que possui em seu portfólio produtos que não fabrica, como jatos regionais. Em outubro do ano passado, a sua rival europeia, a Airbus, comprou justamente esta linha da principal concorrente da Embraer, a canadense Bombardier.

Além disso, a Boeing está de olho na capacidade da área de engenharia da Embraer, mais jovem e ágil, para fazer avançar projetos que estão arrastados, como o avião que irá substituir o nicho de 757. Para a empresa paulista, haveria ganho de escala comercial para enfrentar o enorme reforço europeu na Bombardier e diversas perspectivas de entrada em uma das grandes cadeias globais de produção aeronáutica.

A coisa empacou na política e em questões de soberania. A área de defesa da Embraer, que tem como estrelas o turboélice de ataque leve Super Tucano e novo cargueiro KC-390, é interligada às necessidades estratégicas da Força Aérea Brasileira. O novo caça da FAB, o Gripen, terá sua linha de produção no país na Embraer —seu fabricante, a sueca Saab, compreensivelmente está preocupado em ter seu avião sob a guarda de uma rival americana.

Por isso, logo quando o negócio foi aventado em dezembro o presidente Michel Temer foi enfático em dizer que não venderia a Embraer. É uma meia verdade, já que na verdade ele pode vetar um negócio, mas a participação estatal na empresa hoje é mínima —quase sua totalidade de ações está nas mãos de fundos estrangeiros diversos.

A negociação, contudo, andou. Boeing e Embraer então bolaram uma proposta na qual uma terceira empresa seria formada, só para aviação civil, tanto regional (42% do lucro líquido hoje) quanto executiva (25%). A área militar seria separada numa empresa totalmente brasileira.

A questão mais central é como garantir a sustentabilidade a essa empresa, cuja divisão hoje responde por 15% do lucro líquido. O governo brasileiro é o grande injetor de recursos para grandes projetos, e atualmente tanto a área de defesa quanto a civil compartilham setores de engenharia e desenvolvimento conjuntos.

Um dos atrativos na mesa é a possibilidade de a empresa de defesa ter seu marketing, vendas e pós-vendas no exterior tocado pela Boeing, que tem penetração muito maior do que a Embraer hoje. Isso é particularmente atrativo no caso do KC-390, criado para enfrentar o lendário Hércules, da Lockheed, rival da Boeing.

Além disso, há a possibilidade de melhorar as já muito boas chances de o Super Tucano substituir outro avião americano importante, o A-10, para missões de ataque e suporte a solo. 

Nem o grupo de trabalho, nem a Boeing, nem a Embraer quiseram comentar o desenvolvimento do dia.

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