Analistas veem governo sem espaço de manobra com preço da gasolina

Lucas Vettorazzo
Rio de Janeiro

Analistas que acompanham o setor de energia veem o governo sem espaço de manobra para promover mudanças no preço dos combustíveis. 

Qualquer modificação no modelo atualmente posto, que prevê que a gasolina acompanhe o preço internacional do barril de petróleo, colocaria o governo numa situação de "cobertor curto", pontuam.

De um lado, população, possíveis eleitores e caminhoneiros estão insatisfeitos com as sequentes altas do diesel e da gasolina. 

De outro, a atual diretoria da Petrobras já deixou claro que não aceita ingerências externas. Qualquer imposição governamental no preço do combustível também seria mal vista pelo mercado e reduziria a atratividade dos ativos de refino da Petrobras atualmente à venda. 

Uma terceira saída seria reduzir o preço da gasolina via redução de impostos, possibilidade aventada pelo ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles, atual pré-candidato do MDB às eleições presidenciais, algo que também não agrada. Essa medida, alertam analistas, poderia fragilizar a já combalida situação fiscal do governo central. 

Nesta quarta, o presidente da Petrobras, Pedro Parente, se reuniu com o ministro da Fazenda, Eduardo Guardia, com o ministro de Minas e Energia, Moreira Franco, e com o secretário da Receita Federal, Jorge Rachid. Na saída do encontro em Brasília, Parente afirmou que não havia hipótese de o governo pedir mudança na política de preços. 

Em relatório divulgado nesta quarta-feira (22), os analistas do banco UBS alertam que "eles podem fazer isso novamente", referindo-se à política estatal de controle do preço dos combustíveis, que vigorou nos governo de Dilma Rousseff.

A medida, tomada à época para conter a inflação, foi feita em detrimento do caixa da Petrobras, que àquela altura já vinha de perdas com a corrupção descortinada pela operação Lava Jato.

Desde segunda-feira (20), quando a Petrobras anunciou seu sexto aumento para o diesel e o décimo segundo para a gasolina, que caminhoneiros fazem protestos nas principais rodovias do país.

A crítica é com relação aos aumentos em momento que o Brasil se encontra em certa dificuldade de superar a crise econômica.

De acordo com a análise do UBS, assinada pelos analistas Luiz Carvalho e Gabriel Barra, o banco não vê solução fácil para a questão. 

"Um caminho seria a redução de impostos [que incidem sobre os combustíveis], o que iria afetar a delicada situação fiscal do país. Outro seria controlar novamente os preços praticados pela Petrobras nas refinarias, o que pode acelerar possíveis mudanças na gestão da estatal que levou à empresa a sua posição atual mais sólida [financeiramente]", afirma o relatório.

 O UBS também destaca a dificuldade política do governo em se movimentar em ano eleitoral. O analista de energia da consultoria Tendências, Walter De Vitto, lembra ainda que do jeito que está, a política de preços, que tem levado a altas seguidas dos combustíveis, beneficia indiretamente governadores de estado, já que aumenta a arrecadação de ICMS que incide sobre os produtos derivados de petróleo. 

Essa seria, portanto, mais uma batalha política próxima às eleições que o governo não teria condição de comprar. 

Atualmente, um terço do preço da gasolina vendida ao consumidor final é composta pelo preço do barril do petróleo. Os outros dois terços seriam impostos, a maior parte federal, como PIS, Cofins e a Cide, e custos de logística. 

As condições internacionais não apontam para uma queda do preço do petróleo, ao contrário. Depois de chegar o fundo do poço, a US$ 47 o barril, em junho do ano passado, o preço só fez subir. O barril está cotado atualmente em cerca de US$ 78 dólares-- alta de quase US$ 30 em um ano.

Diversos fatores levaram ao cenário atual. O primeiro seria a melhora da economia de China, Brasil e Rússia, pelos Brics, a recuperação mais consistente da Europa e a evolução da economia americana. 

A OPEP (Organização dos Países Produtores de Petróleo), por sua vez, tem reduzido produção, forçando para cima o preço do barril. A Venezuela, que tem uma das maiores reservas entre os integrantes da OPEP, tem reduzido sua produção por conta da crise econômica e política que atravessa.

Por último, o recente embargo comercial levantado pelos EUA contra o Irã, um importante produtor de petróleo, também levam analistas a crer em um aumento da cotação em futuro breve. 
Esses cenários prenunciam período de alta contínua no preço do barril. De acordo com a política atual da Petrobras, isso significará mais aumentos nos combustíveis nos próximos meses. 
Nesta terça-feira (21), em meio à greve dos caminhoneiros, a petroleira anunciou redução dos preços de gasolina e diesel no país, sem explicar, contudo, o motivo, já que o petróleo tem subido nas últimas semanas. 

A gasolina passou de R$ 2,0867 o litro para R$ 2,0433. Já o diesel saiu de R$ 2,3716 para R$ 2, 3351. 

Para De Vitto, da Tendências, o governo de Michel Temer deveria bancar o que definiu como nova política de preços, de que a gasolina irá acompanhar a cotação internacional do barril. 

Na condição de pré-candidato, o próprio Henrique Meirelles disse em evento no Rio na semana passada que não tem interesse em "fazer política populista" com o preço dos combustíveis. 

Nesta semana, no entanto, o governo tem buscado uma forma de evitar desgaste de olho no cenário eleitoral. 

"Esse debate [do aumento dos combustíveis] deveria já ter sido superado. É um debate, sem dúvida, estimulado pela eleição. A reação do consumidor é compreensível. Mas cabe ao governo bancar a política que ele anunciou e que colocou a Petrobras em um rumo correto. O preço da gasolina no mundo todo é esse, não tem o que fazer", afirma. 

Tópicos relacionados

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.