Descrição de chapéu
Pedro Parente

Crise pode ser senha para que Parente deixe Petrobras e assuma chefia da BRF

Em três dias, caminhoneiros impõem derrota fragorosa ao governo Temer e provam sua força única

Igor Gielow
São Paulo

A imagem de Pedro Parente cabisbaixo e constrangido, renunciando ainda que pelos alegados 15 dias àquilo que o levou a aceitar dirigir a Petrobras, não poderia ser mais reveladora. Os caminhoneiros ganharam de novo.

O presidente da Petrobras, Pedro Parente, após reunião sobre combustíveis em Brasília
O presidente da Petrobras, Pedro Parente, após reunião sobre combustíveis em Brasília - Pedro Ladeira/Folhapress

Não há categoria com maior poder disruptivo no país, que acompanhou sua industrialização dos anos 1950 em diante com a implantação de uma vasta rede rodoviária em detrimento de opções mais lógicas, como o transporte ferroviário e a navegação de cabotagem.

A esquerda pode prometer parar o Brasil a cada líder seu que é impedido no cargo ou vai para a cadeia, para ficar no notório "exército do Stédile" alardeado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ou nos sem-teto paulistas arregimentados pelo MTST.

Mas é uma categoria aparentemente descentralizada, que poderia ser encaixada na direita do espectro político e que está preocupada com o próprio bolso quem detém essa capacidade. Em três dias, desabasteceu o Rio de Janeiro, obrigou a retirada de 40% dos ônibus das ruas de São Paulo, ameaçou paralisar o aeroporto de Brasília e paralisou 13 plantas da combalida produtora de alimentos BRF.

Foi assim em 1999, quando o governo Fernando Henrique Cardoso teve de negociar também um congelamento provisório do preço do diesel e de pedágios para liberar as estradas —na ocasião, ameaçou repetir o recurso às Forças Armadas que acionara na famosa greve dos petroleiros de 1995, mas isso está fora de questão em um governo politicamente morto como o de Michel Temer.

Dilma Rousseff também experimentou o gosto de lidar com os caminhoneiros em 2015, quando o componente político era mais exacerbado: os líderes do movimento eram favoráveis ao impeachment que já se desenhava.

Há outra questão subjacente à crise. A pressão e a concessão à interferência política na empresa que ele se orgulha de ter tirado do buraco de imagem deixado pela corrupção e má gestão podem levar Pedro Parente a sair mais cedo do cargo.

A BRF, empresa que em 2015 perdeu mais de R$ 150 milhões com a greve, está sem presidente-executivo efetivo desde que Parente foi eleito para dirigir seu Conselho de Administração no fim de abril, retirando o grupo do empresário Abilio Diniz que controlava o colegiado desde 2013.

Quando assumiu a Petrobras, Parente disse que sua missão se encerraria com o fim do governo Temer. A condição básica era independência total na gestão da petroleira, algo que agora foi submetido aos humores da realidade em um ano eleitoral.

Segundo pessoas ligadas à BRF, a empresa dificilmente poderia esperar até o fim do ano para ter um nome confirmado como seu novo CEO. O próprio fato de ela ter sucumbido por falta de insumos em tão pouco tempo reforça a avaliação de que a gestão precisa ser refeita.

Talvez a greve dos caminhoneiros e a concessão de Parente sejam a senha para que ele adiante os planos.

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