Trump pensa como um mercantilista do século 17, diz banco

Projeção de estudo é que os EUA não seriam tão afetados quanto outras economias por guerra comercial

Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump - Jonathan Ernst / Reuters

Uma guerra comercial poderá reduzir o crescimento da economia global e, a depender da severidade da crise, levar o mundo a uma recessão. A avaliação é do MUFG (Mitsubishi UFJ Financial Group), o maior banco privado do mundo.

Uma projeção da KPMG mostra que o PIB (Produto Interno Bruto) mundial do ano passado cairia de uma estimativa de 3,7% para 0,4%, caso as tarifas globais tivessem um aumento médio de dez pontos percentuais para todos os produtos, primários ou manufaturados --cenário considerado "não trivial", porém tampouco o mais pessimista possível, afirma o economista chinês Cliff Tan, chefe de pesquisa de mercado para Ásia do banco japonês.

Para ele, o presidente americano, Donald Trump, pensa como um "mercantilista do século 17" —perspectiva que ajuda a entender suas decisões, diz o economista.

"Para um mercantilista, qualquer déficit bilateral é ruim. Para Trump, olhar o déficit com a China, o México, o Canadá, é ruim. Mas se a balança comercial total do país não vai mudar, os déficits bilaterais vão apenas se transferir para outros países."

No entanto, a projeção é que os Estados Unidos não seriam tão afetados quanto outras economias por uma guerra comercial.

"O dólar americano poderia ficar mais forte. O mundo é estruturado de forma que a economia americana, apesar de ter se aberto muito nos últimos anos, ainda é relativamente insular em comparação com o mundo. Ela se afeta, mas não tanto quanto outros mercados", diz Tan.

Já a China teria um impacto bastante mais significativo: no cenário de alta de dez pontos percentuais das tarifas globais, PIB chinês desaceleraria de 6,8% para 4,5%.

A redução das taxas de crescimento seria preocupante para o país, que hoje tem de lidar com uma dívida equivalente a cerca de 300% de seu PIB.

"Se a economia chinesa desacelerasse em 2,5 pontos percentuais, o problema da dívida poderia até mesmo se tornar catastrófico", afirma.

Outros países, como Japão, Canadá, México, Reino Unido e os membros da União Europeia seriam ainda mais afetados e chegariam a uma recessão dentro desse cenário.

O Brasil, diz ele, tampouco deve se animar: "se entrarmos em uma guerra comercial, haverá uma recessão global. E ninguém vence em uma recessão desse gênero."

Em relação às negociações entre Estados Unidos e China, Tan se mostra pouco otimista quanto às exigências feitas por parte do governo americano na semana passada --uma delegação liderada pelo secretário do Tesouro Steve Mnuchin entregou uma lista de demandas que incluía uma redução de US$ 200 bilhões do déficit comercial entre os países, além do fim de subsídios estatais a indústrias estratégicas na China.

Para o economista, Trump está basicamente pedindo que o presidente Xi Jinping abandone totalmente o programa "Made in China 2025" --plano estatal para promover a liderança chinesa em setores estratégicos, como energias renováveis, carros elétricos e tecnologia da informação.

"Isso mostra uma falta de entendimento completa da política chinesa. Para Xi Jinping, o plano é central para manter o partido comunista no poder", afirma.

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