Aceleradora ajuda startups da quebrada a decolarem

Projeto apoiou negócios com potencial de gerar impacto positivo criados na periferia de São Paulo

Filipe Oliveira
São Paulo

Inspirada nos programas de apoio a startups (novas empresas de tecnologia), a Aceleradora de Negócios de Impacto da Periferia formou sua primeira turma de empresas na quinta-feira (21).

Arthur Gandra, 29, criador da empresa Jovens Hackers, um dos selecionados pela aceleradora - Karime Xavier/Folhapress

Entre as companhias que tiveram ajuda para que seus projetos decolassem, estão uma confecção, um centro cultural, uma editora e duas escolas (uma de programação e outra de empreendedorismo). Elas vieram de bairros da zona sul paulistana, como Capão Redondo e Jardim Ângela.

Iniciativas para fomentar negócios que geram benefício para a periferia já estão no radar da Artemisia, ONG que é uma das formuladoras da aceleradora, há mais de uma década.

A novidade no projeto é que dessa vez os próprios moradores dessas regiões estão à frente das iniciativas, diz Maure Pessanha, diretora-executiva da organização.

“Estamos falando de um empreendedor que, em vez de estudar o problema que quer resolver, conviveu com ele a vida toda”, diz o DJ Bola, da produtora cultural A Banca, que faz eventos relacionados à cultura do hip-hop e também liderou o processo junto à ONG e ao Centro de Empreendedorismo e Novos Negócios da FGV de São Paulo.

Durante o semestre, os empresários assistiram a palestras sobre investimentos, finanças, gestão de pessoas e impacto social. Também trabalharam com executivos que deram conselhos para ajudá-los a resolver problemas.

No caso de Arthur Gandra, 29, criador da empresa Jovens Hackers, a participação na aceleradora o ajudou a definir como oferecer cursos de programação e eletrônica de baixo custo, por R$ 60 ao mês.
Em vez de alugar um espaço fixo, ele decidiu passar a contratar salas por hora para suas aulas, o que diminui o risco de ter prejuízos no início.

“Se um empreendedor da periferia quebra, leva um prejuízo de alguns milhares de reais, pode ter problemas por muito tempo. Temos de ser prudentes para investir”, diz.

Gandra dá aulas em Paraisópolis e Campo Limpo, em São Paulo. Espera ampliar as atividades contratando jovens de outras áreas periféricas, dando emprego nessas regiões.

Michelle Fernandes, 34, que criou a Boutique Krioula no Capão Redondo, diz ter aprimorado o modelo de vendas porta em porta da empresa e estar se preparando para entrar em marketplaces (sites que vendem itens de terceiros) após participar do programa de aceleração.

Ela conta que o negócio começou há cinco anos, após ser demitida de cargo de auxiliar-administrativa e passar a vender os turbantes que já fazia para si pelo Facebook.

Com acessórios que valorizam a cultura africana, a empresa tem cerca de 60 mil seguidores no Instagram.
Segundo Michelle, ao fim da aceleração, foi possível enxergar maiores perspectivas de crescimento.

“Víamos as grandes companhias e não percebíamos que podíamos chegar a isso. Agora, sabemos que temos capacidade criativa e potencial.”

Os participantes da aceleração receberam R$ 20 mil para investir. A seleção para a próxima turma tem vagas abertas até 16 de julho.

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