Indústria brasileira de aço amplia receita com exportações, mesmo com cotas americanas

Aumento de preços no mercado global deve garantir maior faturamento

Taís Hirata
São Paulo

As restrições impostas pelos EUA ao aço brasileiro não deverão derrubar o faturamento do setor com exportações neste ano graças ao aumento dos preços, tanto no mercado interno quanto no internacional.

A projeção é de uma alta de 18,3% na receita com as vendas para fora do país. Já em volume, a previsão é uma queda de 0,6%, segundo o Instituto Aço Brasil, associação que representa as companhias do setor. 

As exportações para os norte-americanos, no entanto, deverão terminar com uma retração maior devido às barreiras impostas pelo governo de Donald Trump. 

No caso do aço semiacabado, que representa 80% das vendas para os EUA, a queda deverá ser de 7,7% em relação ao volume vendido em 2017. 

Já outros produtos serão mais impactos —para alguns, a redução chega a 60%, segundo Marco Polo de Mello Lopes, presidente-executivo da associação do setor.

O Brasil, ao lado de Argentina e Coreia do Sul, foi um dos poucos países a escapar da tarifa de 25% sobre as importações de aço e se enquadrar em um regime de cotas.

No caso brasileiro, as vendas de semiacabados terão como limite a média das vendas nos últimos três anos (entre 2015 e 2017). Para outros produtos de aço, o teto será menor: foi aplicado um redutor de 30% sobre essa média.

“Dependendo do produto há peculiaridades. Para tubos, por exemplo, a cota já foi esgotada. Para os semiacabados, ainda não se atingiu a cota global”, afirma Marco Polo. 

Em junho, mês em que as restrições passaram a valer, o Brasil chegou a aumentar suas vendas para os EUA, conforme mostrou a Folha

Para Marco Polo, essa alta foi fruto da paralisação dos caminhoneiros em maio, que segurou grande parte das exportações no mês.

Um empresário do ramo siderúrgico, no entanto, havia dito que as empresas estavam tentando acelerar suas vendas enquanto ainda havia cotas, para tentar aproveitar a temporada de preços elevados.

Por enquanto, os limites das cotas estão por conta das próprias empresas, sem um controle central dessas vendas, diz Marco Polo. “As exportações estão sendo feitas de forma voluntária, cada empresa respeitando o limite. Não é o melhor sistema. Estamos estudando como tratar de algumas especificidades.”

Em relação às medidas protecionistas estudadas pela União Europeia ao aço, o governo ainda está em conversas com o bloco, diz ele. O impacto, porém, tende a ser menor. “A gama de produtos [brasileiros] penalizados é menor.”

Ainda que a previsão de receita com exportações se mantenha de alta neste ano, o setor revisou para baixo suas previsões nos últimos meses. 

Em abril, quando as tarifas norte-americanas já haviam sido anunciadas, mas ainda havia incerteza em relação ao tema, a previsão era ampliar em 27,7% o faturamento com as exportações. 

No primeiro semestre deste ano, o volume de exportações caiu em volume (-5,7%), mas, em valor, subiu 16%. As vendas internas subiram 9,9%, e a produção cresceu 2,9%. 

Para Marco Polo, porém, é preciso relativizar essas taxas positivas, porque a base de comparação, do primeiro semestre do ano passado, é muito baixa.

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