Nissan sofre menos que Volkswagem com escândalo das emissões de poluentes

Enquanto ação da alemã caiu 39% nas duas semanas após crise, a da japonesa teve queda de 5%

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Nova York

Volkswagen e Nissan se envolveram em dois grandes escândalos de emissões de poluentes. Mas, enquanto a ação da montadora alemã caiu 39% nas duas semanas que se seguiram à crise, a japonesa apanhou bem menos dos investidores: a queda foi de 5% no mesmo período.

Outra diferença foi a forma como a cadeia de comando de cada companhia foi afetada. Na Volks, o principal executivo da montadora à época, Martin Winterkorn, renunciou na semana seguinte à que o escândalo veio à tona, em 18 de setembro de 2015.

Na Nissan, o japonês Hiroto Saikawa continua à frente da montadora, quase um ano após os primeiros casos de falhas nos testes de emissões poluentes. A empresa foi dirigida pelo brasileiro Carlos Ghosn entre junho de 2001 e abril de 2017 –hoje, o executivo preside o conselho de administração da companhia.

Homem caminha em frente ao logo da Nissan
Enquanto na Volks, o principal executivo foi afastado após escândalo, na Nissan, Hiroto Saikawa continua à frente da marca - Kazuhiro/AFP

“A grande diferença entre a Volkswagen e a Nissan é a abrangência”, afirma Rebecca Lindland, diretora da Cox Automotive, empresa de negócios automotivos.

Os executivos da alemã admitiram que manipularam um software com o objetivo de fraudar os resultados de emissões poluentes de veículos, em um universo de 11 milhões de carros no mundo, inclusive no Brasil. 

No caso da Nissan, funcionários pouco qualificados adotavam procedimentos de testes com padrão inferior ao exigido pelo governo na maioria das fábricas da japonesa, levando a resultados que não estavam em conformidade com os parâmetros oficiais.

“Não foi um problema com o produto, e sim de testes que não atendiam aos elevados requisitos do governo”, diz Janet Lewis, chefe de pesquisa sobre indústria e transporte da Macquarie Capital Securities do Japão. “Não houve impacto nos custos da companhia, não afetou as exportações. Eles só não seguiram as exigências.”

Além disso, o escândalo da Volks só veio a público após a EPA (agência de proteção ambiental americana) obrigar a montadora a fazer um recall dos veículos afetados pela falha no software. 

Já a japonesa voluntariamente reconheceu que mediu indevidamente as emissões de escapamento e economia de combustíveis de 19 modelos de veículos vendidos no Japão --o caso afetou cerca de um milhão de carros.

“É embaraçoso e definitivamente precisa ser enfrentado, mas não é o mesmo que o escândalo amplamente espalhado e global de software que atingiu a Volkswagen”, diz Rebecca Lindland, da Cox.

É a mesma avaliação de Maryann Keller, fundadora da Maryann Keller & Associates Global Automotive Strategy. “O caso da Nissan foi um problema descoberto em uma auditoria em fábricas da Nissan Japan, e não por autoridades do governo.”

Por isso, o presidente da montadora japonesa não pode ser responsabilizado por cada ação de cada empregado, defende Keller, nem “ninguém esperaria que ele tenha dado uma diretriz para deliberadamente comprometer os resultados”. 

“Esse não foi o caso da Volkswagen, onde ficou claro que a alta gestão estava ciente das modificações no software de diesel e permitiu ou mesmo endossou o uso desse software”, diz. “É uma grande diferença.”

Em qualquer um dos casos, a memória dos investidores foi de curto prazo. Depois de perder quase 40% do valor em duas semanas, a Volks recuperou parte da credibilidade. Desde o início do escândalo até agora, as ações acumulam queda de 15,8%. 

A Nissan tem desvalorização de 6,9% desde que a crise veio à tona, em setembro de 2017.

“Não há evidências que sugiram que os consumidores penalizem essas companhias no longo prazo”, reconhece Keller. “Os compradores de carros têm memória curta e como toda montadora experimentou um problema de algum tipo, essas notícias são rapidamente esquecidas.”

Tampouco se deve esperar mudanças regulatórias no sentido de endurecer as regras, diz Gene Grabowski, sócio da consultoria kglobal.

“Não acho que vai haver mudanças na regulação, e sim na forma como os reguladores supervisionam o mercado. Eles vão ficar mais cautelosos e exigentes”, ressalta.

“Todas elas estão sobre escrutínio, com monitoramento próximo. Se aconteceu uma vez, pode acontecer novamente”, complementa o especialista.


DIESELGATE

Montadoras admitem e são acusadas de fraudar sistema que mede a emissão de poluentes e a economia de combustível

ADMITIRAM AS FRAUDES

Volkswagen 

Em 2015, montadora admitiu ter manipulado os resultados de testes com veículos à diesel, fingindo que estes respeitavam os padrões americanos para a emissão de poluentes. Até agora, oito líderes e ex-funcionários foram acusados. Empresa já concordou em pagar mais de US$ 25 bilhões em ações por conta do escândalo.

Número de automóveis: 11 milhões, segundo a própria empresa

Modelos afetados:  Amarok, Golf Blue Motion,  Jetta TDI,  Passat TDI, Volkswagen Beetle, SUV Touareg 2014-2016

Outras marcas do grupo afetadas: Porsche (modelo Cayenne Diesel) e Audi (A1, A3, A4 e A6, o esportivo TT e os Q3 e Q5), que teve seu presidente preso

Mitsubishi 

Em abril de 2016, empresa admitiu que manipulava os testes de economia de combustível (gasolina) desde 1991.

Número de automóveis: 625 mil veículos

Modelos afetados: versões do Mitsubishi eK   

Nissan

Montadora admitiu no início de junho que mediu indevidamente as emissões de escapamento e a economia de combustível. É a segunda vez que a empresa se envolve no dieselgate, em 2017, a montadora admitiu que durante décadas, inspetores não certificados assinaram as verificações finais dos carros vendidos no Japão. Na época, a montadora suspendeu a produção doméstica.

Número de automóveis: 1,2 milhão em 2017  

Modelos afetados: Entre os carros envolvidos estão o compacto Note e o utilitário esportivo Juke

Suzuki

A montadora confirmou em 2016 que mediu os níveis de emissão e consumo dos veículos vendidos no Japão com um método não homologado, mas negou ter manipulado os resultados.

Número de automóveis: 2.100

Modelos afetados: 16 modelos vendidos exclusivamente no Japão

ACUSADAS DE FRAUDAR

Opel (ex-subsidiária da GM, hoje do grupo PSA)

A montadora é alvo de investigação na Alemanha sob suspeita de manipular motores a diesel para registrar emissões mais baixas em testes de poluição.

Número de automóveis: 60 mil

Modelos afetados: Cascada, Insignia e Zafira

GM

Nos Estados Unidos, a empresa enfrenta processo movido, em 2017,  por 705 mil donos de picapes supostamente equipadas com dispositivos ilegais a fim de burlar os testes de emissões. A empresa nega as acusações.

Modelos supostamente afetados: Chevrolet Silverado Duramax e GMC Sierra Duramax, todas a diesel

Fiat Chrysler

A montadora foi acusada pelas autoridades em 2017 dos EUA de ter manipulado motores de 104 mil veículos movidos a diesel para minimizar o nível real de emissão de poluentes, usando uma estratégia similar à da Volkswagen

Modelos afetados: Jeep Grand Cherokee e picapes Dodge Ram 1500

Mercedes-Benz

Em junho deste ano, o Ministério dos Transportes da Alemanha ordenou a retirada de 238 mil carros a diesel, por causa de software que mascara o volume de emissão de poluentes. A empresa confirmou o recall e se comprometeu a retirar o software.

Número de automóveis: 774 mil veículos na Europa

Modelos afetados: Van Vito, da Mercedes-Benz, Mercedes C-Class, e os utilitários (SUV) da linha GLC

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