China anuncia retaliação com sobretaxa a mais de 5.000 produtos dos EUA

Pequim está ficando sem opção para sobretaxar novos produtos, e deve recorrer a outras táticas

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Curitiba

A China decidiu, mais uma vez, retaliar os Estados Unidos após o governo de Donald Trump anunciar a aplicação recorde de tarifas a US$ 200 bilhões em importações do país asiático.

Nesta terça-feira (18), o governo de Xi Jinping anunciou sobretaxas contra US$ 60 bilhões em produtos americanos. As tarifas variam entre 5% e 10%, e devem ser aplicadas na semana que vem, na mesma data que as novas medidas de Trump entram em vigor.

Até aí, nenhuma novidade. As duas maiores potências econômicas do mundo vêm, há meses, adotando a narrativa “olho por olho”: a cada anúncio de novas sobretaxas por Trump, o país asiático revida na mesma medida.

Mas essa deve ser uma das últimas cartadas do gênero por Pequim na escalada do conflito comercial entre os dois países.

No total, as tarifas chinesas já atingem US$ 110 bilhões em importações americanas —quase 85% das vendas dos EUA para o país.

Os EUA, por sua vez, ainda têm margem de manobra: o país importa bem mais da China (cerca de US$ 500 bilhões). Desse montante, tarifou apenas a metade.

Isso significa que Pequim está ficando sem opção para sobretaxar novos produtos, e deve, daqui em diante, recorrer a outras táticas em resposta às medidas de Trump.

As medidas anunciadas por Pequim nesta terça irão afetar uma quilométrica lista de 5.207 produtos americanos. O rol, bastante diverso, inclui desde gás natural liquefeito até café, passando por óleos comestíveis, minérios, vegetais congelados, cacau e químicos, entre outros.

Autoridades chinesas já consideram a possibilidade de retomar as negociações com Washington, de forma a arrefecer o conflito comercial. É o que defendem alguns economistas do país, que temem que a economia chinesa seja prejudicada por novas retaliações ao mercado americano, fundamental para a indústria do país.

Por outro lado, o governo do presidente Xi também se queixa de que as medidas anunciadas por Trump “envenenaram a atmosfera de negociações”, e acionou a OMC (Organização Mundial do Comércio) contra as sobretaxas, acusando os americanos de protecionismo.

“A China é forçada a responder ao unilateralismo e ao protecionismo comercial dos EUA, e não tem escolha senão responder com suas próprias tarifas”, informou o governo chinês, nesta terça, segundo quem as sobretaxas são “uma defesa dos interesses e direitos legítimos da China”.

Empresários americanos temem que a China passe a adotar barreiras não-tarifárias contra produtos dos EUA, como lentidão alfandegária e aumento de inspeções. Essas ações já foram constatadas por um grupo de firmas consultadas pela Câmara Americana de Comércio, em pesquisa divulgada no início deste mês.

Caso não haja novas negociações, as sobretaxas chinesas entrarão em vigor na próxima segunda-feira (24), mesmo dia em que as tarifas americanas passarão a valer.

No caso dos EUA, a lista atinge milhares de produtos, de frutos do mar a eletrônicos. A alíquota será de 10% até o dia 1º de janeiro de 2019 e, depois, aumentará para 25%.

Para Trump, a China está tentando usar o comércio para prejudicá-lo com seus apoiadores antes das eleições legislativas, no dia 6 de novembro.

Em julho, o governo de Xi divulgou uma pequena animação em inglês estrelada por um “grão de soja falante”, que discorre sobre o comércio com os americanos. Segundo a peça, nove entre os dez maiores estados produtores de soja nos EUA votaram em Trump nas eleições presidenciais de 2016.

“Será que os eleitores vão apoiar Trump e os republicanos assim que forem atingidos em suas carteiras?”, pergunta o desenho do grão de soja.

Nesta terça, Trump declarou que a China “está ativamente tentando impactar e mudar a eleição [americana]”. 

“[Estão] atacando nossos agricultores, fazendeiros e trabalhadores industriais por causa de sua lealdade a mim”, declarou, em suas redes sociais. O presidente americano afirmou ainda que promoverá “uma grande e rápida retaliação econômica” contra a China se seus eleitores forem prejudicados por novas tarifas anunciadas por Pequim.

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