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Cifras & Letras

Ex-editor descreve ascensão e tropeços do The Guardian

Jornalista aborda alguns dos furos do Século e problemas financeiros que o derrubaram

Nelson de Sá
São Paulo

Breaking News

  • Preço R$ 70 (ebook)
  • Autor Alan Rusbridger
  • Editora Canongate

O título do novo livro de Alan Rusbridger, "Breaking News", é um trocadilho. Serve para notícia de última hora, que está irrompendo, mas também para o modelo de negócios da notícia, que está em disrupção.

Sobretudo, serve para a própria notícia, o fato, que está "quebrando" nesta chamada era da pós-verdade, de "fake news", notícia falsa.

O livro é em parte um relato dos bastidores dos furos que fizeram de Rusbridger o mais bem-sucedido editor contemporâneo, no britânico The Guardian, como o escândalo dos grampos ilegais dos tabloides, cuja revelação levou ao fechamento do maior deles, o News of the World.

Em âmbito ainda mais amplo, detalha a cobertura dos grampos eletrônicos da NSA (Agência Nacional de Segurança), que trouxe à luz os serviços prestados por algumas das maiores empresas de tecnologia dos Estados Unidos para a espionagem política e comercial do país --e dos seus aliados mais próximos.

São duas das notícias contemporâneas mais importantes no Ocidente, mas há muitas outras nos 20 anos em que Rusbridger passou à frente do jornal --e o transformou, de um diário impresso de centro-esquerda de Londres, num dos veículos jornalísticos de referência no mundo.

Passagens de caráter quase pessoal estão entre as mais instigantes, como os relatos do trabalho com Julian Assange, do WikiLeaks, talvez o único a disputar com ele o posto de editor mais significativo neste século. Assange, escreve ele repetidamente, "despreza" o Guardian e o New York Times.

Noutro momento, Rusbridger é chamado ao parlamento para explicar a publicação de documentos não só da NSA, mas do equivalente britânico, GCHG, e ouve de um MP a pergunta que o deixa sem fala: "Você ama este país?".

O então editor do The Guardian, Alan Rusbridger, autor do livro "Breaking News

Na outra frente, das notícias que estão se quebrando, inclusive como modelo industrial sustentável, o livro aborda o impacto das plataformas, no sentido de facilitar a proliferação de informação falsa --e atrair a publicidade digital que acabou faltando ao projeto para o Guardian.

Enquanto trata de suas glórias jornalísticas, "Breaking News" é uma leitura prazerosa, até fascinante, em parte por se tratar de um relato de vitória sobre obstáculos imensos, de tramas quase heróicas. Já esse segundo e maior foco do livro, que abrange a busca de inovação nos negócios, é uma crônica truncada do fracasso de Rusbridger, não reconhecido.

O editor perdeu a aposta que fez contra o caminho tomado por Financial Times, NYT e praticamente todos os jornais do mundo no ambiente digital --ou seja, buscar a saída para a perda de receita publicitária nos próprios leitores, nas assinaturas conquistadas com a manutenção da qualidade jornalística.

Rusbridger também lutou para manter e ampliar a qualidade, mas sua estratégia se combinava com a busca de audiência online cada vez maior, na suposição de que assim atrairia anunciantes digitais. Investiu na montagem de uma estrutura global, em particular nos países de língua inglesa, incluindo uma segunda redação de grande porte para cobrir apenas os EUA.

A publicidade não veio, até porque paralelamente Google e Facebook já estavam crescendo e engolindo o ambiente da informação gratuita, apelando às notícias levantadas por jornais como o Guardian --e depois também as outras, as falsas, que são mais sensacionais e entregam até mais tráfego à propaganda dita programática.

Rusbridger não percebeu o avanço do duopólio digital, não conseguiu reagir quando ele se tornou evidente e no final pagou por isso.

Os balanços cada vez mais negativos mancharam o que deveria ter sido sua saída consagradora do jornalismo, em 2015. Aquela que apoiou como sucessora perdeu a disputa e ele próprio foi nomeado e em seguida recusado como presidente da organização que mantém o jornal.

Sob nova direção, o Guardian buscou caminhos para conseguir receita junto aos leitores e priorizou redução de custos, caso das operações internacionais. Os grandes furos desapareceram e a audiência online minguou. E o jornal deixou de ser o contraponto crítico ao establishment que havia se tornado.

Alan Rusbridger foi reconhecido institucionalmente noutras partes. É agora o diretor de uma das faculdades de Oxford e também do Instituto Reuters para o Estudo do Jornalismo, na mesma universidade. E está escrevendo uma peça de teatro.
 

MAIS VENDIDOS

Veja livros que se destacaram na semana

TEORIA E ANÁLISE

1º/-  Gerenciamento da Rotina do Trabalho do Dia a Dia, Vicente Falconi, ed. INDG, R$ 55 
2º/-  Arriscando a Própria Pele, Nassim Nicholas Taleb, ed. Objetiva, R$ 54,90
3º/- Loucura da Razão Econômica, David Harvey, ed. Boitempo, R$ 55
4º/-  Rápido e Devagar, Daniel Kahneman, ed. Objetiva,  R$ 62,90
5º/-  Marketing 4.0, Philip Kotler, Hermawan Kartajaya e Iwan Setiawan, ed. Sextante,  - R$ 49,90

Prática e Pessoas

1º/- O Mentor, Edvaldo Pereira Lima, ed. Gente, R$ 39,90
2º/1º A Sutil Arte de Ligar o F*da-se, Mark Manson, Intrínseca, R$ 29,90
3º/2º Seja Foda!, Caio Carneiro, ed. Buzz, R$ 39,90
4º/3º Me Poupe!, Nathalia Arcuri, ed. Sextante, R$ 29,90, 
5º/4º O Poder do Hábito, Charles Duhigg, Objetiva, R$ 49,90

Lista feita com amostra informada pelas livrarias Curitiba, Fnac, da Folha, Saraiva e Argumento; os preços são referências do mercado e podem variar; semana de 8/4 a 14/4; entre parênteses, a posição na semana anterior
 

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