Brasil deve liderar recuperação econômica na América Latina, diz executivo do UBS

Segundo estrategista do banco, país deve crescer 3% em 2019

Danielle Brant
Nova York

O Brasil deve crescer 3% em 2019 e liderar a leve recuperação econômica da América Latina, em meio a um cenário global em transição que não deve favorecer os mercados emergentes, afirma Alejo Czerwonko, estrategista do UBS nos Estados Unidos.

O banco traça um cenário positivo para a economia brasileira, em meio a uma desaceleração na região da Ásia-Pacífico devido às tensões comerciais entre EUA e China e a um reequilíbrio da economia chinesa.
"Nós achamos que a administração [do presidente eleito, Jair] Bolsonaro está comprometida em implementar mudanças microeconômicas que vão ajudar a atividade econômica e o desenvolvimento no país", avalia.

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Prédio da USB, multinacional do setor financeiro, em Zurich, na Suíça - AFP

Esse cenário-base contempla ainda medidas voltadas a facilitar o ambiente de negócios no Brasil, no campo de impostos e na gestão de empresas públicas, por exemplo. "Estamos confiantes de que, de uma perspectiva microeconômica, há coisas melhores no horizonte para o Brasil, e que são altamente necessárias."

No recorte macroeconômico, as coisas ficam mais incertas. O UBS espera uma reforma da Previdência, mas a premissa do banco é de "que alguma coisa será aprovada."

"Nós não esperamos uma reforma espetacular, uma que realmente resolva o problema desde a raiz. Não esperamos isso", diz Czerwonko.

"Esperamos mais que o problema seja tocado para frente, para que a pressão do mercado diminua um pouco e o Brasil possa continuar no caminho por mais alguns anos, antes de ter que enfrentar isso de novo."

Por isso, na avaliação dele, os fatores domésticos acabam tendo mais relevância nas projeções para a economia brasileira do que os externos. Czerwonko vê o setor externo do país "saudável", considerando a situação das contas externas e os níveis de reservas internacionais.

"As taxas de juros reais no Brasil não estão em condições ruins. Então, é um país que deve estar protegido de choques externos. Não imune, mas protegido."

O executivo diz ser interessante a sinalização do governo de Bolsonaro de procurar parcerias comerciais com economias mais desenvolvidas, em vez de manter o foco no Mercosul.

"Abrir a economia é bom. O Mercosul não ajudou muito a promover fluxos de bens e serviços ao longo das fronteiras. É uma iniciativa boa tentar algo novo, tentar integrar o Brasil na economia global mais profundamente do que hoje."

Para os emergentes como um todo, as projeções não são tão otimistas. O banco estima expansão de 4,8% no próximo ano, um pouco inferior aos 5,1% de crescimento previstos para 2018.

A principal fonte de instabilidade para os emergentes vem dos países desenvolvidos, com a normalização da política monetária nos Estados Unidos --o UBS estima que os juros no país devem encerrar 2019 em algum lugar na faixa entre 2,5% e 3%.

"Os mercados de renda fixa estão precificando, neste momento no tempo, duas altas e meia mais de juros até o fim de 2019. Então achamos que o Fed [banco central americano] vai fazer um pouco mais que isso. Isso não dá apoio aos mercados emergentes", diz.

Para ele, há riscos ainda não precificados nos ativos, como um agravamento das tensões entre EUA e China e uma contração da atividade econômica americana. "Na América Latina, uma piora nas políticas adotadas no México ou no Brasil não está sendo precificada", diz Czerwonko.

Apesar disso, ele minimiza esses riscos. "Nós temos um cenário-base para o qual damos maior probabilidade, e investimos com base nisso, para nos protegermos de certos riscos."

Nesse cenário-base, ele vê oportunidades em renda fixa [dívida emitida] no Brasil, mas também em China, Indonésia e Argentina. O banco mantém, nesses países, mais títulos do que seria a alocação normal, explica.

No mercado acionário, complementa, há investimentos interessantes na China e na região da Ásia-Pacífico. "Os detentores estrangeiros nesse mercado são poucos, há muito espaço para crescimento, então você pode se adiantar e ter uma alocação antes de as outras pessoas perceberem isso", afirma.

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