Com honras de Estado, Alemanha dá adeus à última mina de carvão

'Carvão permitiu a industrialização da região e a prosperidade de toda a Alemanha', afirmou Merkel

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Bottrop (Alemanha)

Os trabalhadores da mina de Prosper-Haniel, na bacia do Ruhr, desceram o subsolo pela última vez, na sexta-feira (21), e fecharam um capítulo da história da indústria alemã.

O país deu o solene adeus à sua derradeira mina de carvão, na presença do presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, e do chefe de Estado alemão, Frank-Walter Steinmeier.

Vestidos com seus capacetes e uniformes brancos, os mineiros lançaram um último “Glückauf Kumpel!” (“Boa sorte, camarada!”), sua frase ritual antes de perfurar um filão e diante do perigo onipresente.

Depois extraíram um último bloco de carvão, o “ouro negro” alemão, que caiu no esquecimento diante da hulha estrangeira de baixo custo, enquanto o coral da bacia de Ruhr entoará o “Steigerlied”, o tradicional hino dos mineiros.

As galerias escavadas durante 150 anos, ou seja, por seis gerações de trabalhadores, foram seladas e vão-se afogar progressivamente nas águas dos rios.

“Sem o carvão e sem quem o extraísse a história deste país teria sido muito diferente”, disse Steinmeier.

“O carvão permitiu a industrialização da região e a prosperidade de toda a Alemanha”, afirmou a chanceler alemã, Angela Merkel.

Os 1.500 funcionários da mina de Prosper-Haniel, situada na cidade de Bottrop, se prepararam por 11 anos para o fechamento, em uma zona que chegou a ter 600 mil mineiros no pós-guerra.

Desde quinta (20), igrejas e catedrais da região celebraram missas dedicadas à causa, enquanto os clubes de futebol da zona, liderados por Dortmund e Schalke 04, prestaram homenagem às suas raízes mineiras antes das partidas.

Os altos-fornos erguidos nas colinas renanas desde o século 19 e as fossas de suas entranhas, de até 1.500 metros de profundidade, eram muito mais do que um elemento de trabalho.

Debaixo da terra havia uma sociedade operária e masculina, com jargão próprio, sua solidariedade, suas trocas sinceras e ásperas e sua paixão por futebol, que se estendia à igreja e ao “Kneipe” (bar operário).

“É essa coesão que faz a força na nossa região”, disse emocionado Reinhold Adam, de 72 anos, aposentado há 25, que compareceu para uma última descida.

Por trás dessa solidariedade, havia um trabalho exaustivo e arriscado, a ameaça de explosão e a convivência com uma poeira que corrói os pulmões pouco a pouco.

O jornal Bild publicou, na quinta, o retrato da “última vítima das minas”, Markus Zedler, um trabalhador de 29 anos que morreu na segunda-feira (17) durante as obras de desmontagem de uma mina de antracita em Ibbenbüren.

“A mina era sua vida. Também o matou”, escreveu o jornal mais lido do país, que também publicou um caderno especial dedicado a esse fim de ciclo, com retratos dos mineiros e, na capa, um grande “Obrigado pelo carvão”.
 

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