Descrição de chapéu Financial Times

Opep fecha acordo para reduzir produção de petróleo em 1,2 milhão de barris ao dia

Organização desafia apelo de Trump para manter produção elevada e elevar preço do petróleo cru

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Viena (Áustria) | Financial Times

A Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) e seus aliados produtores de petróleo chegaram a acordo para reduzir a produção em 1,2 milhão de barris ao dia, desafiando os apelos de Donald Trump para que mantivessem a produção elevada e causando alta de 5% nos preços do petróleo cru.

O acordo foi fechado no secretariado da Opep em Viena, na sexta-feira (7), depois de dois dias de negociações conflituosas. A Arábia Saudita, maior produtora de petróleo da Opep e para todos os efeitos líder da organização, pressionou o maior número possível de integrantes para que aderissem ao corte.

A pressão saudita aconteceu a despeito das exortações do presidente dos Estados Unidos a Riad pela manutenção dos preços baixos, que Trump comparou a um "grande corte de impostos" para o planeta, e reflete a necessidade de receitas petroleiras mais altas, se os sauditas desejam cumprir seus ambiciosos planos de investimento.

O petróleo cru padrão Brent, referência do mercado internacional, subiu em até 5%, para mais de US$ 63 (R$ 245) por barril, enquanto a referência do mercado dos Estados Unidos, o West Texas Intermediate, avançou em 4,3%, para US$ 54 (R$ 210) por barril;

Khalid al-Falih, o ministro da energia saudita, insistiu em que a redução, decidida depois de 48 horas de negociações nas quais em diversos momentos delegados alertaram que um acordo talvez não fosse possível, ajudaria os Estados Unidos, apesar das objeções de Trump.

"O maior produtor de petróleo e gás natural é os Estados Unidos", disse Falih. "Os produtores [americanos de petróleo de xisto betuminoso] devem estar suspirando de alívio".

Delegados à reunião da Opep disseram que o objetivo do acordo era atenuar a preocupação quanto ao excedente de produção que parece estar emergindo, e que levou os preços a uma queda de 30% nos dois últimos meses.

Ann-Louise Hittle, da consultoria Wood Mackenzie, disse que o corte, superior ao que alguns analistas esperavam, ajudaria "a firmar o mercado até o segundo semestre do ano que vem". O corte superior ao esperado que o acordo produziu está em linha com a redução de produção que analistas e operadores consideravam necessária para promover o equilíbrio entre oferta e procura no ano que vem.

Os cortes tomarão por base o nível de produção de outubro, e durarão seis meses. As cotas de cada país não serão reveladas ao mercado petroleiro, disseram delegados, o que sinaliza as tensões que existem na aliança.

Um delegado disse que o corte de 1,2 milhão de barris ao dia seria dividido em 800 mil barris para os membros da Opep e 400 mil para os países de fora do cartel, entre os quais a Rússia, que se tornou aliada da Opep em 2016.

Inicialmente, a organização havia pedido que o Irã, rival regional da Arábia Saudita, realizasse um corte "simbólico", ainda que suas exportações já tenham caído devido à retomada das sanções americanas no mês passado. Mas o país terminou isentado de cortes, no acordo de sexta-feira. Líbia e Venezuela, que sofreram fortes quedas de produção devido a dificuldades internas, também receberam isenção.

Dadas as incertezas quanto à produção problemática de países menores, como o Irã e a Venezuela, os delegados dos países do Golfo Pérsico afirmaram em foro privado que a redução se provará maior que a meta de 1,2 milhão de barris ao dia, e que a Arábia Saudita arcará com grande parte do corte.

O ministro da energia russo Alexander Novak, visto como figura chave para um acordo e que se reuniu com seus colegas saudita e iraniano na manhã de sexta-feira, disse que era importante que os produtores enviassem um "sinal forte" ao mercado.

"Demonstramos que podemos reagir aos desafios no mercado de petróleo tanto em época de alta quanto em época de baixa", disse Novak sobre os cortes coordenados que estão em vigor desde 2016.

Segundo o ministro, as negociações foram "longas e difíceis", em parte como resultado do clima geopolítico, mais instável do que em anos precedentes, e afetado por sanções contra grandes produtores e tensões no comércio internacional.

O ministro do petróleo nigeriano, Emmanuel Ibe Kachikwu disse que Trump deveria ficar "feliz" por os países terem chegado a um acordo, argumentando que preços mais altos fariam bem para a economia mundial e o Tesouro dos Estados Unidos, que veria mais arrecadação com os impostos pagos por empresas petroleiras.

Arábia Saudita e Rússia aceleraram sua produção de petróleo para níveis recorde, nos últimos meses, em resposta a apelos dos Estados Unidos para que mantivessem a produção alta e os preços baixos, no momento em que os americanos estavam retomando suas sanções contra as exportações de energia iranianas.

"A Opep é uma organização independente que deve tomar conta dos interesses de seus membros mas também tentar criar mercados estáveis", disse Thamir Ghadhban, ministro do petróleo iraquiano, quando perguntado se o acordo significava que Trump não é capaz de ditar ordens à Opep. Ele acrescentou que a Opep era uma organização "não política".

Em novembro, Washington anunciou a decisão de isentar muitos compradores de petróleo iraniano das sanções retomadas, e isso significou que a extração mundial de petróleo, que inclui produção crescente nos campos de xisto betuminoso dos Estados Unidos, ficou muito acima da procura.
 
Tradução de PAULO MIGLIACCI

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