Com receios por Previdência, Bolsa cai quase 4% e tem pior dia desde paralisação de caminhoneiros

Cenário externo também favorece queda no mercado acionário brasileiro e valorização do dólar

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São Paulo

A Bolsa brasileira recuou quase 4% nesta quarta-feira (6), no pior pregão desde a paralisação dos caminhoneiros, em meio a discursos cruzados no governo a respeito da tramitação da reforma da Previdência e em dia de maior aversão a risco no exterior. 

O Ibovespa, índice que reúne as ações mais negociadas por aqui, afastou-se do alvo de 100 mil ao perder 3,74%, para 95.156,6 pontos. Foi a pior queda desde 28 de maio de 2018, quando o país se via paralisado em meio ao movimento de caminhoneiros e o índice perdeu 4,49%.

O dólar comercial fechou em alta de 1,06% ante o real, cotado a R$ 3,706, acompanhando também apreensões generalizadas com uma eventual nova paralisação do governo americano.

O mercado gostou na terça-feira (5) das declarações do ministro da Economia, Paulo Guedes, de que o governo busca uma proposta que pode economizar pelo menos R$ 1 trilhão em dez anos, enquanto o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), disse que o Congresso pode aprovar o texto até maio.

Maia afirmou, no entanto, que a tramitação seguirá o rito normal, dissipando esperanças de maior celeridade do texto.

Já Guedes reforçou que a palavra final será de Bolsonaro, que ainda se recupera da cirurgia em São Paulo, sem previsão de alta.

Indefinições sobre o projeto também incomodam partidos alinhados à pauta na Câmara, e, neste pregão, o mercado passou a projetar que a aprovação pode ser mais demorada do que o estimado por Maia, inclusive em função da internação de Bolsonaro.

"Tudo está voltado para a reforma da Previdência. Mostrou-se pró-atividade por parte do Executivo e do Legislativo, isso é positivo, mas o que acabou desmotivando foi esse vai e volta da própria equipe", diz Aldo Muniz, analista da Um Investimentos.

O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, e o ministro da Economia, Paulo Guedes, em Brasília
O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, e o ministro da Economia, Paulo Guedes, em Brasília - Pedro Ladeira/Folhapres

"Se não for aproveitado o texto do [ex-presidente Michel] Temer, a conta que o mercado faz é do tempo que demorou aquela tramitação e vê risco de que, recomeçando tudo, a reforma fique para o fim do ano, talvez até o ano que vem", afirma Thiago Salomão, analista da Rico Investimentos.

"Quanto mais esse prazo é estendido, maior o risco político, de as coisas azedarem e atrapalharem tudo", diz ele, lembrando as delações de executivos da JBS envolvendo Temer, em maio de 2017. 

"Mas é também uma troca: se aumentar o prazo e vier uma reforma que gere economia trilionária, excelente", acrescenta Salomão.

Analistas observam ainda que a queda desta quarta inclui um movimento de realização de lucros, após a alta de 11% do Ibovespa só em janeiro.

"A Bolsa já estava bastante esticada, vindo de altas significativas. Uma realização se fazia necessária", afirma Muniz.

Para Marco Tulli Siqueira, gestor de operações da Coinvalores, não houve uma reversão de tendências e o alvo de 100 mil pontos continua.

"O que vimos foi uma posição de curtíssimo prazo dos investidores. É uma queda pontual, e acredito que ainda neste mês se reverte."

Dos 65 papéis que compõem o Ibovespa, apenas os da Suzano registraram alta (+1,2%). Exportadora do setor de celulose, a empresa é favorecida pela alta do dólar e atrai investidores que buscam proteção.

Não ajudou a Bolsa também a queda de quase 5% da Vale. 

A Semad (Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável), do governo de Minas Gerais, cancelou a autorização provisória da empresa para operar da barragem de Laranjeiras, usada na operação da mina de Brucutu.
Com a Reuters

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