Descrição de chapéu Previdência Governo Bolsonaro

Pesquisa em rede social mostra que confiança em Bolsonaro atrai apoio à reforma

Acompanhamento de rede social, porém, mostra que medo e tristeza crescem

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São Paulo

Ao menos enquanto os detalhes da reforma da Previdência ainda não são conhecidos, Jair Bolsonaro (PSL) garante vantagem na batalha da comunicação.

Confiança no presidente é o sentimento que mais aparece (30%) em mensagens sobre o tema nas redes sociais, mostra levantamento diário feito de 1º a 7 de fevereiro pela empresa de análise de comunicação digital AP Exata.

Com o uso de tecnologia de aprendizado de máquina, o conteúdo de 1.950 tweets (em 145 cidades brasileiras) que continham o nome de Bolsonaro e os termos “reforma” e “Previdência” foram classificados em oito sentimentos.

Ministro da Economia, Paulo Guedes, e presidente Jair Bolsonaro
Ministro da Economia, Paulo Guedes, e presidente Jair Bolsonaro - Adriano Machado /Reuters

Confiança não só lidera, como apresentou um pico de 37,6% justamente no dia em que o presidente enviou carta ao Congresso defendendo a reforma como base de um círculo virtuoso na economia (veja gráfico).

Apesar da relativa boa vontade, medo (18%) e tristeza (13%) vêm crescendo.

Isso indica a importância de que o projeto seja aprovado rapidamente, segundo Sérgio Denicoli, diretor da AP Exata. “Se o desgaste natural do governo começar a aparecer, a dificuldade aumenta muito.”

Com a expectativa que os detalhes da reforma sejam conhecidos na próxima semana, a batalha de comunicação ganhará as ruas, na avaliação do especialista em comunicação pública Bob Vieira da Costa.

“Na grande mídia, a cobertura será racional. O ringue mesmo se dará no boca a boca e nas redes sociais.” 

O presidente Bolsonaro sai na frente, segundo ele, porque tem “uma gordura de credibilidade, que vem do processo eleitoral e pode convencer sobre a importância da reforma”.

Mas os meios digitais também favorecem a oposição. “É onde ela poderá a falar em nome de segmentos que possam vir a perder. Uma oportunidade fantástica para tentar queimar a gordura que o governo tem.”

Segundo o publicitário, a boa vontade com o presidente em relação às mudanças na aposentadoria apareceu até em pesquisas qualitativas sobre outros assuntos.

“A percepção é a de que, se ele propõe medida mais duras, é porque elas devem ser mesmo necessárias.”

Para Costa, dois argumentos têm apelo: primeiro, a Previdência é para todos; se não mexer agora, pode faltar para alguns no futuro; segundo, os privilegiados é que atacam a reforma; o governo não age em nome de grupos, mas dos brasileiros.

O fim dos privilégios foi o que marcou uma virada na comunicação da reforma de Temer, segundo o ex-secretário de Comunicação Márcio de Freitas.

“O primeiro projeto apresentado era duro, e havíamos acabado de sair do impeachment. A oposição estava muito atuante e os grupos de interesse se mobilizaram.”

Algumas das principais resistências, segundo ele, eram quanto a mudar a aposentadoria rural (que afeta a bancada ruralista) e o BPC (benefício para deficientes e idosos em situação de miséria).

Na tramitação, a proposta se concentrou em reduzir privilégios, diz Freitas, e as pesquisas detectaram outro humor na opinião pública. “Havia uma união entre a mensagem da campanha e o conteúdo do projeto.”

Freitas relativiza o papel das redes sociais na comunicação. “Todos os meios interagem e se retroalimentam”, afirma.

Segundo ele, além de combinar bom projeto e boa campanha, o importante é evitar uma mensagem geral —“o Nordeste em preocupações diferentes, por exemplo”— e falar não só com o público, mas também com os congressistas.

Também nesse círculo, o ex-secretário considera que Bolsonaro sai em vantagem. “O respaldo popular das urnas impulsiona sua agenda também no Congresso. Mas, quanto mais rápido usar esse capital político, melhor.”

Já o professor da USP e colunista da Folha Pablo Ortellado vê espaço para um uso das redes sociais que não passa pela tentativa de convencimento.

“É um meio que precisa de engajamento, compartilhamento. Nunca vi reforma da Previdência ter entusiasmo popular em lugar nenhum do mundo”, diz Ortellado.

Sem entusiasmo, a mensagem não é disseminada nem mesmo pelos apoiadores, diz.

Mas as plataformas podem servir a uma “campanha mais sofisticada e maliciosa” com o objetivo de mudar a agenda.

Segundo ele, embora “péssimas para apoiar uma agenda impopular como a reforma da Previdência, as mídias sociais são adequadas para estrategicamente distrair e mudar o foco para outros temas controversos, enquanto rádio e TV bombardeiam a campanha pró-reforma”.
 

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