The Enlightened Capitalists” [os capitalistas esclarecidos] é um livro sobre pessoas que muitos de nós encaram como privilegiadas: empreendedores que ganharam —e em alguns casos perderam— muito dinheiro nos negócios, mas se destacaram porque tentaram “fazer o bem enquanto se saíam bem”.
James O’Toole, professor na Universidade do Sul da Califórnia, vem estudando esses indivíduos excepcionais no mundo dos negócios há cerca de 50 anos, e seu novo livro é o resultado desse trabalho.
De acordo com a definição dele, um capitalista esclarecido busca “tratar dos problemas sociais primeiro por meio de suas práticas de negócios, em lugar de fazê-lo por atos de caridade ou filantropia”.
O’Toole começa pela história de Robert Owen, que criou uma cidade-modelo, com ruas limpas, boas escolas e um instituto de educação para seus empregados em uma tecelagem em New Lanark (Escócia).
Tudo por crer que o local de trabalho é onde a fundação de uma ordem social justa e razoável pode ser estabelecida.
A carreira de Owen terminou mal: ele foi derrubado do controle da empresa quando um conjunto de sócios se recusou a apoiar a escola pelo fato de ela não ensinar religião.
Saltando direto ao líder mais moderno entre os empreendedores detalhados no livro, chegamos a Ben Cohen, da Ben & Jerry’s, fabricante de sorvetes que ele cofundou em 1978 nas instalações de um posto de gasolina fechado em Vermont.
A companhia prometia aos empregados “prosperidade compartilhada”, e os executivos não podiam ganhar mais que cinco (mais tarde sete) vezes o piso salarial da empresa.
O’Toole demonstra que os séculos podem passar, mas os capitalistas esclarecidos continuam a enfrentar os mesmos problemas. Cohen encontrou resistência ao decidir gastar muito dinheiro da companhia em causas e projetos (por exemplo, dedicar US$ 500 mil à limpeza de uma estação de metrô em Nova York) que não se enquadravam à missão de negócios ou à localização da Ben & Jerry’s.
Em termos gerais, recontar tantas vidas empresariais serve como um tônico para o leitor cansado de ouvir sobre o domínio diabólico e o mundo empolgante das grandes empresas de tecnologia.
O subtítulo do livro, “histórias cautelares de pioneiros dos negócios que tentaram se sair bem fazendo o bem”, é uma indicação, desde o começo, de que as coisas nem sempre vão bem para quem dá as costas às práticas de negócios prevalecentes.
Há muita arrogância, paranoia e conflito em exibição, quando os homens poderosos da narrativa de O’Toole buscam reter o poder, inevitavelmente por tempo demais.
Um dos perfis mais fascinantes é o de Edwin Land, que abandonou o curso de química em Harvard e inventou a câmera instantânea Polaroid, no fim da década de 1940.
A companhia fazia questão de contratar e treinar mulheres para postos executivos. Do orçamento da empresa, 5% eram dedicados à pesquisa e desenvolvimento, e Land encorajava líderes da indústria a seguir o mesmo caminho.
Tudo começou a dar errado quando Land decidiu se apegar à tecnologia química, enquanto outras empresas optaram pelos sistemas digitais.
O inventor da Polaroid deixou a companhia aos 70 anos, vendendo todas as suas ações. Land morreu em 1991 e por isso não testemunhou as duas concordatas e as três vendas da companhia.
Os capítulos finais tratam de “capitalistas de outra estirpe”: empresas familiares, empresas controladas por seus trabalhadores e cooperativas.
A questão central que o autor propõe no início do livro —e à qual retorna com frequência— é: “Práticas de negócios socialmente virtuosas são compatíveis com o capitalismo acionário?”.
Embora muitos de seus perfis sejam “histórias cautelares”, ele vê motivos para esperança.
Uma dessas razões é o surgimento do movimento das empresas B.
“B” significa “benefício”, e companhias podem receber certificação do B Lab (uma organização sem fins lucrativos) como praticantes de “níveis socialmente responsáveis de bem-estar, transparência, ambientalismo, serviço comunitário e filantropia”.
Financial Times, tradução de Paulo Migliacci
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